Capítulo 10 - parte 2

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NICOLE

Não sei como vim parar dentro do carro do Miguel, mas aqui estou eu, sentada no banco de trás, com a Lívia ao meu lado segurando minha mão. Já não consigo chorar, nenhuma lágrima caiu durante o percurso até o hospital. Minha cabeça está um caos, não consigo entender o que acontece a minha volta. Nem compreender toda aquela angústia que domina o meu corpo

— Nicole, venha — Lívia falou, descendo do carro. — Você precisa ver um médico, talvez tomar um remédio.

— Onde ele está? — perguntei sem me mexer no banco, não a olhei, não ver ninguém, apenas ele. — Onde meu irmão está?

— O corpo foi levado para o IML — Miguel suspirou antes de me responder. — Estão tentando entrar em contato com alguém da família para reconhecê-lo.

— Eu quero ver ele! — Desci do carro e parei em frente aos dois mas o encarei. — Por favor, Miguel, eu quero ver o meu irmão.

— Não acho que seja uma boa ideia, você não está bem, precisa ser avaliada por um médico e descansar.

— Não quero descansar, só quero ver o meu irmão.

— Não faça isso. — Miguel deu um passo em minha direção, ergueu uma mão como se fosse tocar em meu rosto, mas a abaixou em seguida. — Por favor, não se torture assim.

— Preciso vê-lo, eu sou da família, posso reconhecer ... — não consegui terminar a frase, a palavra ficou presa em minha garganta.

Nós caminhamos lado a lado, Miguel parece um soldado, como se estivesse pronto para atacar a qualquer momento, quem ousasse se aproximar de mim.

Saiu de perto de mim apenas para tentar conversar com a equipe responsável e permitir minha entrada.

— Eu sinto muito — Lívia sussurrou segurando minha mão. — De verdade, amiga, não queria te ver assim.

— Está tudo bem — falei sem a olhar, só quero ir ver meu irmão. — Nicolas está bem — sussurrei, querendo acreditar que isso é um erro, que não é o meu irmão dentro daquele saco.


Parei em frente à porta que ele está por um segundo não consegui me mover, é como se meu maior pesadelo estivesse ali do outro lado, apenas me esperando.

Miguel me encarou, seus olhos vermelhos como se tivesse chorado, ele me olhou com tanta ternura e amor, como se quisesse me proteger do que há ali dentro.

Assim que entrei o ar gelado me atingiu, e perdi o ar por um segundo, sentindo o baque da cena a minha frente. Nicolas esta deitado em uma maca de aço, com um lençol branco até sua cintura, igual aos filmes e nesse momento todas as esperanças de que isso fosse um pesadelo ou um erro, desmoronou, me mostrando que tudo isso é bem real, que meu irmão está morto. Eu o reconheceria de qualquer maneira, até naquele estado, todo machucado, frio, sem vida, sem aquele sorriso encantador que me fez feliz por tanto tempo.

— Nic — sussurrei me aproximando de forma temerosa até onde ele está. — Irmão... — Senti as lágrimas descendo pelo meu rosto. — Acorda, por favor! — Me aproximei mais e pude ver seu corpo todo cheio de hematomas, acariciei sua mão cheia de sangue. — Me perdoa, eu sinto tanto, por favor, me perdoa! — já não consegui controlar as lágrimas. — Sua mão está tão gelada... — Ergui um pouco o lençol para que tampasse seu peito. — Assim você vai ficar doente e eu lembro como você faz manhã quando tem uma simples febre — sorri em meio as lágrimas pela lembrança dele fazendo drama toda vez que pegava um resfriado. — Você sempre foi o mais mimado.

Nicolas sempre foi o preferido da mamãe, e ele se aproveitava disso muitas vezes para se livrar das tarefas domésticas, ou dos castigos que a gente recebia por alguma arte, meu pai sempre falava que minha mãe estava deixando esse menino "mole" demais.

— Sabe estou fazendo terapia — passei a mão pelo seu rosto, tentando limpar as manchas de sangue que havia em cima da sua sobrancelha junto com uma parte inchada e arroxeada — tive medo por tantos anos, não suportava ficar perto de ninguém, mas estou melhorando — falei com orgulho — me arrependo de ter demorado tanto para pedir ajuda — suspirei — mas aqui eu encontrei pessoas fantásticas, que cuidam de mim como se eu fizesse parte da família, você iria gostar deles, eles cuidam muito bem de mim.

Não consigo acreditar que fiquei tanto tempo acreditando que meu irmão não se importava comigo, e agora que eu descobri toda a verdade, ele se foi, me deixou de novo, agora para sempre, nunca mais o verei. Parece até que o destino está me pregando uma peça de mau gosto.

— Nicolas, acorda agora — puxei seus ombros em direção ao meu corpo — irmão não vou te perder de novo, não posso ... Não consigo ficar sozinha de novo, eu preciso de você, não me deixa, por favor não me deixa.

Eu perdi noção do tempo que fiquei ali, chorando, abraçada ao corpo do Nicolas, a realidade me atingindo como um caminhão desenfreado, não consigo controlar todas essas sensações que estou sentindo, a dor é descomunal, como se eu tivesse sendo rasgada ao meio, é tudo tão intenso que eu sinto a dor sendo bombeada junto com meu sangue por todo o corpo.

— Me perdoa, eu não deveria ter fugido, não deveria ter deixado ele fazer isso com você, irmão! — O apertei ainda mais em meus braços, sentindo seu corpo gelado contra o meu. — Deveria ter lutado mais, me perdoa, me perdoa por favor! — Encarei seu rosto que sempre foi tão lindo, agora todo machucado e sem vida. — Eu te amo tanto! — Dei um beijo em sua bochecha, sentindo em meus lábios o gelado de um corpo já sem vida. — Te amo tanto, tanto, Nicolas, eu não quero viver com essa culpa, eu sei que foi ele que te fez isso, sei que ele nunca vai desistir de mim, ele é um monstro que mesmo longe continua destruindo a minha vida! — Olhei o corpo do meu irmão ali sem saber como agir. — Não aguento mais, Nic, dói demais, isso queima o meu coração, nem os murros, ou as chibatadas que ele me deu doeu tanto como te ver aqui assim. — Eu acariciei seu rosto. — Nada dói tanto como saber que eu nunca mais te verei, nunca mais vou ouvir a sua voz, ou ver o seu sorriso. Nós nem conseguimos recuperar o tempo perdido, eu não quero viver sem você, eu não quero, não consigo viver assim irmão, só quero voltar no tempo e nunca ter conhecido aquele monstro, se tivesse feito isso você ainda estaria aqui comigo, e eu não seria essa pessoa quebrada que sou hoje.


Não sei nem o que falar agora, estou destruída, sem acreditar que escrevi isso.

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