CAPÍTULO 1 - TRÊS PALAVRINHAS

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Tinha tanta coisa que eu queria falar, mas não pude. Não só porque estávamos no meio do Ritz, mas porque eu não tinha as palavras. Não. Isso é mentira. Eu tinha as palavras, eu tinha milhões delas, todas na ponta da minha língua, esperando para sair. Eu só... Não sabia como dizê - las. Admitir à Therese a profundidade dos meus sentimentos, como explicar todas as formas incontáveis de seu impacto na minha vida, colocar palavras em emoções que, na maioria das vezes, eram tão assustadoras e novas para mim... Eu não poderia compreender como fazer isso.

Ela parecia tão adulta com seu novo penteado e suas roupas caras, ainda mais sem a janela do táxi e uma rua cheia entre nós e eu senti meu pulso bater de ansiedade ao pensar o que mais tinha mudado. Os sentimentos dela, talvez? Esse pensamento fez o enjoo que eu senti essa tarde, enquanto esperava com uma antecipação aterrorizante, voltar com tudo. Eu nunca, nenhuma vez na minha vida, me senti tão vulnerável como me senti ali. Era uma sensação que eu detestava, sempre usando medidas extremas para evitá - la. Acredito que esse seja um indício do quão profundamente deixei Therese entrar em minha vida.

Eu a encarei, dolorosamente sabendo que essa podia ser minha última oportunidade. Por que eu não pedi para ela me esperar? Por que eu não disse que isso tudo seria temporário? Que com certeza, eu voltaria, porque ela era tão importante que eu não poderia ficar longe? Que o tempo em que passamos juntas, apesar de fugaz, me mudou irreparavelmente, de jeitos que eu nunca poderia imaginar? Eu sempre tive orgulho de me manter isolada de quase tudo: isso me salvou várias vezes no passado. Mas agora, enquanto eu testemunhava a cautela nos gloriosos olhos verdes de Therese? Agora eu não tinha certeza se poderia me olhar no espelho de novo. Meu coração se apertou.

Eu me perdi naqueles olhos, com sua cautela e tudo, me forçando a confrontar o receio que eu causei, sabendo que eu me arrependeria por esse pecado até o fim da minha vida. Eu tomei cuidado em observar sua pele sedosa, imaculada e suave, suas bochechas altas, levemente pintadas com blush. Eu observei seus lábios carnudos, afastados só um pouco. Então eu me vi olhando de volta em seus olhos, meu coração batendo freneticamente enquanto eu tentei desesperadamente gravar um último detalhe de seu rosto na minha mente, uma imagem congelada que eu poderia acessar quando quisesse. Ela era maravilhosa, deslumbrante e por um breve momento, pelo menos, ela foi minha. Que boba arrependida eu era.

"O quê?", ela perguntou, quebrando o silêncio entre nós, sua voz suave e mesmo assim acusatória.

Eu tentei fazer com que as palavras que estavam na ponta da minha língua saíssem, mas elas não saíram. "Nada", eu respondi, me odiando um pouquinho mais.

Eu peguei minha cigarreira, pegando um cigarro enquanto eu lhe contava sobre o apartamento. Como eu não conseguia expressar o que eu sentia, eu podia pelo menos mostrar a ela como as coisas tinham mudado, que o caos na minha vida finalmente estava se acalmando, que as coisas seriam diferentes agora. Eu tentei não ficar magoada quando ela recusou meu cigarro, percebendo que isso era absurdo, mas eu não conseguia evitar. Eu me sentia tão exposta, que qualquer indicação de distância entre nós me cortava como uma faca. Mesmo assim, continuei falando, sobre meu novo apartamento e meu emprego. Eu fiquei surpresa, porém animada, quando ela me perguntou sobre Rindy, apesar de que quando eu comecei a responder, aquela tristeza pesada que me pressionava quando Therese não estava perto começou a querer voltar. De certa maneira, eu já tinha perdido Rindy. Eu honestamente não sabia como eu poderia aguentar se eu perdesse Therese também. Esse pensamento horrível, porém me estimulou.

"Seja como for...", eu comecei, a olhando com cuidado, a esperança que durante a tarde eu tentei amortecer, agora me desafiava, me fazendo ficar atenta. "O apartamento é bom e grande. Grande o bastante para duas". Eu juro que vi um breve olhar de espanto aparecer no rosto de Therese, então eu olhei para baixo, o enjoo querendo voltar. Seria tão mais fácil não dizer nada, aceitar a derrota e evitar a dor que parecia estar se avistando. Mas eu não podia. Eu precisava continuar. "Eu tinha a esperança que talvez você pudesse vir morar comigo, mas eu acho que você não quer". Então. Eu falei. Eu me forcei em olhar para cima de novo, tentando esconder o medo do meu rosto. A falta de resposta só serviu para me deixar mais nervosa, contudo, não podia evitar. "Você viria?" Eu sabia que eu devia soar patética, carente, mas... bem, silenciosamente eu pedi para ela acabar comigo.

Por Trás Daqueles OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora