"Com fome?", eu provoquei ao ver Therese avançar em sua comida com gosto. Depois daquele inesperado, embora completamente maravilhoso, desvio no meu apartamento, ficamos deitadas na cama juntas, ela nos meus braços, descansando a cabeça no meu peito, até que eu ouvi seu estômago fazer barulho. Cada uma tomou um banho e 90 minutos depois aqui estamos, de volta ao restaurante Scotty's, apenas três mesas à frente quando almoçamos pela primeira vez juntas. Estávamos na última mesa, escondidas no canto, apesar de que não importaria se estivéssemos bem no meio do restaurante. O lugar estava quase vazio, acho que perdemos a hora do almoço normal.
Ela olhou de seu prato, os olhos brilhando, e esperou até terminar de engolir tudo para falar. "Sim. Por alguma razão estranha, eu estou morrendo de fome".
A ironia dele me fez sorrir e eu comi uma garfada do meu linguado. A comida daqui é ótima e sempre foi por anos; temos que voltar mais vezes. "Que bom", eu disse para ela quando engoli. "Você perdeu peso. Precisa comer."
Suas sobrancelhas subiram um pouco enquanto ela bebia um pouco do vinho. "Você também", ela respondeu rápido.
Eu ia abrir minha boca pra responder, mas me calei, vendo ela voltar sua atenção de volta para seu bife. Apareceu um sorriso nos meus lábios. De todas as vezes que Therese pareceu nervosa ou incerta, às vezes particularmente jovem demais, às vezes também ela sabia exatamente o que dizer pra me colocar no meu lugar. Eu achava uma qualidade estranhamente atraente e me fez amá – la ainda mais. Não sei se era por causa do meu nome, da classe ao qual eu pertencia ou o jeito que me portava, mas geralmente as pessoas não costumavam me enfrentar. Abby sim, claro, a exceção, tão frequentemente que às vezes eu queria que ela contraísse laringite, por algumas horas, pelo menos. Mas com Therese, o fato que ela podia e me enfrentava de vez em quando, era totalmente atraente para mim.
O que eu poderia ter falado, de qualquer jeito? Eu perdi peso. Eu quase não comi nesses meses. O stress da vida roubou meu apetite, fizeram minhas roupas ficarem bambas e se eu não me lembrasse de comer, eu poderia passar facilmente alguns dias sem comida. Do jeito que ela estava, Therese deve ter passado a mesma coisa. Eu ficava tão feliz de vê – la agora, comendo com vontade seu bife com batatas, suas bochechas cheias de cor, seus olhos brilhando. Como um dia faz toda a diferença, eu me lembro de ter pensado ironicamente. Se uma manhã de sexo desenfreado era o que a fazia ter apetite, eu precisava fazer isso sempre. Eu sorri. Eu não achava que teria muito problema em colocar isso em prática.
"Qual é a graça?", ela perguntou, me tirando dos meus pensamentos lascivos, um pequeno sorriso nos lábios dela.
"Oh, eu estou feliz por ter achado um jeito de te deixar com fome", eu falei pausadamente, pegando meu Martini. Eu olhei ela franzir a testa por um momento, até que ela entendeu e ruborizou. Meu sorriso aumentou.
Seus olhos verdes olharam ao redor e ela se aproximou: "Bom, dá pra ver que o seu apetite está ótimo também", ela comentou com a voz baixa.
Eu tomei meu drink, a encarando, esperando de propósito para responder. "Eu acho que está bem claro agora que você faz muito bem para minha saúde, Srta. Belivet. E para o meu... apetite", eu alonguei a última palavra de propósito e senti um arrepio quando seus lábios formaram um "o".
Ela me olhou por um momento até voltar a sua posição e pegar o vinho. "Você... é incorrigível", ela resmungou, apesar de eu ver uma alegria em seus olhos. Nós voltamos a comer e alguns minutos se passaram até ela voltar a olhar para mim: "Me esqueci de perguntar: como está Abby?"
Eu terminei de engolir e balancei minha cabeça devagar. "Bem, depois de eu tê – la convencido que ela não tinha que arrumar as malas e ir morar comigo para meu eu 'ignorante' não se meter em apuros", eu revirei os olhos. "Ela me deu um sermão por quinze minutos antes de eu conseguir falar. Aparentemente, ela me ligou mais cedo e depois que eu não atendi, ela estava prestes a ir ao meu apartamento e arrombar a porta".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por Trás Daqueles Olhos
FanfictionO que há por trás daqueles olhos? Nas próprias palavras de Carol e Therese, mergulhando em seus pensamentos, esperanças e medos. Começando do último encontro delas no filme até... Quem sabe?