CAPÍTULO 4 - CONVERSA SEM PALAVRAS

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Eu não pude parar de olhá – la enquanto estávamos paradas na rua. Ainda tinha uma parte de mim que achava que eu iria acordar em algum momento e Therese teria partido, mas assim que olhei em seus olhos e vi a abundância de emoções que tinha neles, meu medo retrocedeu. Eu olhei com cuidado quando os olhos dela estudaram os meus por um momento e então passearam pelo meu rosto, pausando de vez em quando para inspecionar cada parte de mim. Eu me mantive parada. Eu ficaria ali a noite inteira, toda noite, se isso significasse que não ficaríamos separadas. Meus lábios esquentaram quando ela olhou para eles por uns segundos. Esse momento deve ter durado uns 30 segundos, mas parece que durou uma vida gloriosa enquanto nos olhávamos, numa conversa sem palavras.

O som do motor de um carro fez Therese desviar o olhar e a culpa estampada em seu rosto por um momento inebriante, fez com que eu quase começasse a rir. Ela me fazia lembrar Rindy, quando minha filha aprontava alguma coisa e me dava um olhar inocente. Quando ela voltou a olhar para mim com seus olhos verdes grandes, eu sorri e meu coração apertou. Meu Deus, ela era linda. Como eu pude viver sem ela? Eu engoli em seco, sabendo que precisava ficar a sós com ela, distante dos olhos e ouvidos do mundo.

"Você quer ir a algum lugar?", eu perguntei, tentando soar normal, falhando miseravelmente, pois eu detectei uma rouquidão na minha voz. Eu vi um breve sorriso dela e soltei o fôlego devagar. Eu não sabia, ainda não sei se eu for honesta, como ela fazia aquilo. Que um olhar seu, um sorriso, me fazia ficar mole, me transformando de uma mulher respeitada em uma adolescente boba, com os nervos à flor da pele, meu coração acelerado, cada fibra minha focada nela. Eu peguei um cigarro na minha bolsa só para ter algo para fazer. "Meu carro está logo ali na esquina". Eu olhei, me sentindo horrivelmente insegura. "Poderíamos ir para o meu apartamento. Ou o seu, se você quiser? Ou um hotel talvez?" Eu roubaria um navio e iríamos para a Austrália se ela quisesse.

Therese ficou em silêncio por alguns segundos e de repente eu precisava daquele cigarro mais do que nunca. Em todas as canções que eu ouvi apenas o lado positivo do amor era mencionado, ao qual, posso admitir, há vários. O que as pessoas não avisam é sobre todas as coisas que vem com isso. Antes de Therese eu não sabia que poderia amar alguém tão profundamente, completamente, que uma pausa faria meu coração ir até a boca, que junto com a alegria, felicidade e euforia pura que me envolviam, eu também sentiria um terror tão latente que me deixaria sem fôlego, sem conseguir pensar, enquanto o medo de viver sem ela me devorava completamente.

Eu já admiti que a paciência não está no topo da lista das minhas qualidades, mas eu não a pressionei por uma resposta, eu sabia que não foi fácil ela voltar para mim, tanto mais cedo no Ritz como agora. Eu fui tão egoísta no passado: eu queria que ela tomasse as próprias decisões, sem nenhuma pressão minha. Eu precisava saber que aonde fôssemos, se fôssemos para algum lugar, nós o faríamos porque ela quis, não porque ela queria me agradar. Eu acho que essa é a verdadeira definição de amor, sabe, quando a felicidade de alguém é tão importante para você, que você quer mandar a sua própria para as profundezas do inferno. Eu me entreti acendendo meu cigarro, meus olhos se fechando por si só quando a fumaça cinza atingiu minha garganta.

"Para o meu", ela disse finalmente e eu poderia chorar de felicidade. Eu não estava acostumada em andar nessa corda bamba de emoções, mas eu sabia que os momentos bons sempre, sempre iriam ultrapassar momentos ruins, mesmo que os ruins pudessem me deixar mal, sem poder sentir mais nada de novo.

Eu não consegui transmitir tudo isso naquele momento. Não ali. Eu concordei, esperando que meus olhos mostrassem a alegria que estava dentro de mim. Eu fiquei feliz que ela escolheu o apartamento dela; não conseguia pensar em nada mais tranquilizante do que estar rodeada pelas coisas de Therese, em voltar para o apartamento em que eu pensava tão frequentemente, com tanta vontade. Ela, eu presumi, precisava da segurança. Ela precisava de controle, para isso acontecer no território dela e eu estava pronta para providenciar isso.

Por Trás Daqueles OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora