CAPÍTULO 13: ABANDONADA

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"Therese!", uma voz impaciente gritou atrás de mim e eu pulei, me virando e encontrando Johnnie, um editor sênior do Times, olhando para mim com uma expressão sem estar impressionado. Por sua irritação, percebi que ele estava tentando chamar minha atenção há tempos e eu me levantei rápido da minha cadeira, arrumando minha saia enquanto ia a sua direção, com uma desculpa na ponta da minha língua.

"Desculpe, Johnnie, eu..."

"Deixa pra lá", ele disse com desdém e me senti ruborizar enquanto estava ali parada. Ele não gostava de mim, acho que porque ele achava que uma mulher não deveria estar ali, mas dessa vez eu tinha dado uma razão para ele mostrar seu desdém. O brilho em seus olhos dizia que ele estava gostando daquilo. "A reunião da equipe deveria ter começado há cinco minutos. Você vai nos dar a graça de sua presença ou eu devo remarcar para quando você tiver um tempo?"

Eu me mantive firme e meus olhos nunca desviaram dos dele, mesmo que eu quisesse que um buraco se abrisse no chão para eu me enfiar dentro. Com a exceção de Johnnie e de outro cara, todo mundo no Times me fez sentir bem vinda na equipe, me encorajando e me incluindo em suas discussões e piadas. Só levou uns dois minutos para eu perceber que Johnnie e Thom não pensavam como os outros. Eu não me permitia ficar incomodada com isso, nós só nos víamos em reuniões da equipe e eu me certificava de ser super atenciosa e encantadora perto deles. Educação era um qualidade importante para se ter. Além disso, eu gostava por deixá –los irritados mais ainda. Porém, hoje Johnnie tinha razão. Eu estava perdida no meu próprio mundo. Isso me deixava frustrada. "Eu vou para lá agora", eu disse friamente, sem me desvencilhar de seu ar superior.

A diversão chegou aos olhos dele e eu queria me chutar por demonstrar minhas emoções. "Seja rápida, Belivet", ele disse se virando e desaparecendo por uma porta à sua esquerda.

Eu fiquei parada ali rígida por alguns momentos, antes de recuperar minha compostura e peguei meu bloco e minha caneta, indo em frente. Hoje foi... Desafiador, para dizer o mínimo, e nem era meio dia. Cada tarefa levava o dobro de tempo para eu completar e eu me pegava encarando a parede ou uma página em branco ou algumas fotos que eu nem tinha percebido que tinham entregado para mim, enquanto minha mente estava em outro lugar. Eu passei por ciclos de sentir uma combinação de tontura e amor quando as memórias do fim de semana vieram, seguido de uma saudade tão intensa e profunda, que me fez sentir abandonada... Quase vazia até.

Se Carol não tivesse expressamente proibido, eu teria inventado uma mentira e tiraria o dia de folga, apesar de que seu olhar me dizia que ela também não queria retornar para a vida real. Essa manhã foi dolorosa enquanto nos arrumávamos para sair do meu apartamento, tudo parecendo que se movia rápido e lentamente ao mesmo tempo. Não sei quantas vezes eu disse que a amava, as palavras saindo de mim como uma oração. Não sei quantas vezes eu a toquei, beijei e abracei. Eu sei que ela fez isso uma vez. Ela estava tentando não cair na tentação, pude notar, para me mostrar que tudo estava bem, que ela entendia e me apoiava, ignorando meus pedidos para me deixar ligar para o trabalho e passar o dia com ela. A única vez que a máscara dela caiu foi quando estávamos para sair, com minha mão segurando a maçaneta e meu casaco na minha outra mão.

Senti sua mão no meu ombro e eu congelei imediatamente, meu coração pulando com o contato e meus dedos soltando a maçaneta. Menos de um segundo depois, seus lábios macios estavam atrás da minha orelha, sua respiração quente me dando um arrepio enquanto instintivamente me inclinei a ela e qualquer pensamento foi esquecido enquanto eu perdia meu fôlego. Ela deu um beijo ali e meu coração respondeu acelerando e meus olhos fecharam. Ela sabia o que fazer e como me fazer esquecer tudo além dela e eu sequer resisti enquanto ela colocou a palma da mão no meu peito, me virando até que eu a encarasse.

Seus olhos azuis me capturaram, cheios de ternura, amor e desejo, fazendo me sentir tonta de repente e então ela se aproximou, um passo grande o bastante para que eu não conseguisse mais me mover, com minhas costas na porta e meu pulso acelerado enquanto eu esperava. Ela desviou o olhar e encarou meu cabelo, meus lábios, meu queixo, minha garganta e eu senti uma antecipação crescer em mim, o calor tomando conta da minha pele, enquanto eu a olhava. Ela levantou uma mão, passando a ponta do dedo no meu lábio e eu queria tanto puxar ela para mim, mas não conseguia. Eu estava paralisada com seu toque mágico, desamparada e com certeza ela podia ver o desespero nos meus olhos.

Por Trás Daqueles OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora