CAPÍTULO 3: INGÊNUA

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A caminhada do restaurante para a rua não foi longa, mas pareceu que durou uma eternidade enquanto Carol e eu andávamos em silêncio pela grande recepção do hotel, parando apenas para pegar o casaco dela. Eu pude sentir os olhos dela em mim, do mesmo jeito que estavam assim que ela me viu chegar inesperadamente e o sangue nas minhas veias pegou fogo. Firme eu a encarei de volta, meu coração querendo sair do meu peito, enquanto eu pensava pela centésima vez o quanto outra pessoa podia causar essa profunda reação física em mim. Nós nem tínhamos nos tocado e eu já estava lutando para manter minha respiração normal.

Eu estava com tanto medo quando entrei no Oak Room, meu estômago agitado com náusea quando minha primeira procura no lugar pareceu infrutífera. Eu imaginei se ela já tinha ido embora, se eu teria que ficar rondando pela Avenida Madison procurando por ela. Eu não tenho dúvidas que teria feito isso também. Talvez não naquela noite, mas em algum ponto. Eu não conseguia ficar longe dela. Só Deus sabe como eu tentei.

Para mim parece cômico agora quando eu penso como eu estava quando recebi a carta dela enquanto estava no meu trabalho no Times. Eu ainda era tão ingênua, irremediavelmente vivendo em negação, que eu passei duas horas daquela tarde tentando me convencer que eu já tinha superado ela. Quem eu queria enganar? No momento que eu a vi na Frankenberg's, eu sabia que nunca a esqueceria. Claro que eu não entendia o que aquilo significava, quantos altos e baixos nosso relacionamento teria. Mas eu sabia que nunca a esqueceria, tão elegante e sofisticada, quase sobrenatural, fazendo brotar algo em mim que eu não sabia possuir.

Quando eu recebi o seu convite, eu tentei tanto mudar, virar uma pessoa diferente. Com meu primeiro salário eu comprei roupas que eu nunca pensei poder pagar, com um corte de cabelo que eu, Therese Belivet, nunca achei que iria usar. Acho que quando você é magoado daquele jeito, você pensa em o que pode e não pode fazer muda. Por exemplo, eu nunca pensei que uma pessoa tinha o poder de sozinha, deixar minha vida em farrapos, que pudesse me deixar tão desolada e infeliz. Eu nunca pensei que ficaria encolhida num canto do meu quarto, porque eu não podia me mexer por causa do peso da dor me pressionando.

Levou seis semanas para concordar em encontrar o amigo de Dannie, para tentar enxergar algo que não fosse a dor na minha vida. Eu sei que ele achou que eu estava levando muito a sério ou exagerando. Eu não o culpo. Como ele poderia entender? Meu mundo era tão triste e comum, tão... vazio... antes de Carol entrar na minha vida e eu só aceitei. Eu acreditava que seria assim até o fim dos meus dias. Eu estive vivendo num quarto escuro e ela entrou e acendeu a luz que eu nem sabia estar ali. Ela mudou tudo e eu me apaixonei de verdade, mais do que eu achava possível. O problema foi esse. Eu acho. Se nossos caminhos não tivessem se cruzado naquele dia, eu nunca saberia o quanto a vida podia ser boa. Mas aconteceu e eu me apaixonei e quando ela se foi, tudo se foi com ela.

Parece que eu regredi para quando era um bebê. Eu tive que aprender tudo de novo. Só depois de oito semanas que ela sumiu da minha vida, o dia em que recebi o telefonema me avisando que eu conseguira o emprego como escriturária no New York Times, é que eu consegui sorrir. Eu não podia entender como foi estranho. Aqueles três meses foram os piores da minha vida. Eu acho que foi por isso que eu estava tão relutante em admitir que eu não tinha superado meu sentimento por ela. Eu atingi um estado em que acordar de manhã já não era fisicamente dolorido para mim, meu instinto de sobrevivência me avisou que eu não poderia passar por aquilo de novo.

Mesmo assim, uma parte de mim sabia. Lá no fundo, eu sabia que assim que eu vi a letra grande e atrativa (não é estranho que eu ache até a letra dela atrativa?)dela escrita naquele envelope, eu daria tudo o que ela quisesse, do jeito que ela quisesse. Eu acho que aquilo abasteceu minha voz interna mais ainda, gritando que Carol ficou no passado, que eu estava melhor sem ela, suplicando para que eu entendesse que eu era diferente agora. Eu não era mais aquela garotinha ingênua, aquela que Carol acreditava ser jovem demais para entender como o mundo funciona. Você não pode me ver, é claro, mas eu estou negando com minha cabeça enquanto eu releio essas palavras. Eu finalmente cheguei ao estado onde eu posso admitir que eu ainda sou um pouco ingênua agora. Eu sempre serei. Faz parte do que eu sou, foi uma das razões pelas quais Carol se apaixonou por mim para começar.

Por Trás Daqueles OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora