Por Trás Daqueles Olhos

10: UMA BOBA SENTIMENTAL

Assim que acordei na manhã seguinte, sabia que Therese não estava ali. Eu nem tinha aberto meus olhos e sabia. Claro que por ela não estar nos meus braços era uma indicação, mas eu não estava tão acordada para entender isso. Já disse antes que eu acredito honestamente que o que eu e Therese temos atinge outro nível. Eu podia sentir sua falta em meu coração, antes do que em meus braços.

Sabem, enquanto eu escrevo isso, eu fiquei um pouco surpresa ao perceber como eu pareço ser uma boba sentimental. Eu gostaria que vocês me conhecessem antes de eu conhecer Therese, para vocês entenderem como ocorreu minha transformação. Muitos anos já se passaram desde aquele final de semana que estou relatando para vocês e mesmo assim ainda fico surpresa em como ela me mudou. Se eu tivesse um encontro com minha versão antes de conhecer Therese... Oh, meu antigo eu ia querer sair correndo rapidamente, revirando os olhos e lamentando essas paixonites de adolescente.

Acho que a maior mudança ocorreu no meu coração. Antes de Therese, eu sempre tentei manter essa parte cuidadosamente guardada, com a exceção, com certeza, de Rindy. E Abby, até certo ponto. Eu nunca teria feito isso, escrever sobre meus sentimentos, meus medos, meus pensamentos. Eu nunca acreditaria que poderia vivenciar tanto emoções e apreensões na mesma medida. Eu acharia ridículo que uma pessoa poderia mudar outra nesse nível. Therese me ensinou muito. Às vezes, eu duvido que ela realmente compreenda isso.

Suponho que o objetivo deste desvio das memórias que estou tentando descrever para vocês é explicar que realmente entendo que tudo isso soe um pouco... Fantasioso, meio romantizado. Se eu não estivesse escrevendo próprias experiências, se não tivesse contando isso e muito mais, é provável que eu tivesse concordado com essa avaliação. Te garanto que não sou prolixa quanto a meus sentimentos pessoalmente. Acho que a natureza de escrever, de ter essa crença mal orientada que seja apenas eu e minhas palavras, abriu uma sensação de liberdade em mim. Escrevendo isso, eu me vejo tendo a oportunidade de descarregar meus pensamentos e emoções, e os acontecimentos que ocorreram, como se eu estivesse os examinando de verdade pela primeira vez.

Enfim, voltando para aquela manhã. Meus olhos se abriram assim que percebi que ela não estava comigo e eu estava grogue o suficiente para acreditar, por um momento terrível, que eu estava de volta ao Oak Room e que eu realmente tivesse tido um colapso nervoso e que Therese não tivesse voltado. Tudo ao redor fez essa sensação dissipar rapidamente, ainda bem, já que a insegurança me envolveu enquanto eu percebia o espaço vazio a meu lado. Eu prestei atenção, mas não ouvi nada. Eu fiquei tensa e coloquei minhas pernas para fora da cama e peguei meu robe.

Eu a encontrei no meio da sala, sentada no chão. Eu parei no vão da porta, a olhando em silêncio enquanto ela mexia numa caixa pequena. Ela estava adorável, me lembro de pensar, vestida com seu pijama de bolinhas, com seu cabelo curto amarrado num pequeno rabo de cavalo, com vários fios castanhos caindo por seu rosto e pescoço. Ela estava concentrada e eu achei que podia ver um traço de... Eu não estava certa, tristeza, talvez, ou nostalgia, porque eu não conseguia ver seu rosto direito. Ela estava tão focada, que não notou minha chegada e por alguns minutos, fiquei feliz só de olhar para ela. Eu imaginei o que ela estaria olhando, que captou sua atenção tão intensamente até que finalmente minha curiosidade não poderia ser acalmada.

"O que você tem aí?"

Ela deu um pulo, suas mãos soltando para a caixa o que quer que estivesse segurando, com a surpresa em todo seu rosto até ela olhar para mim com os olhos arregalados. Ela hesitou por um momento e então me deu um leve sorriso. "Há quanto tempo você está aí?"

"Não muito. Eu acordei há uns minutos atrás e fiquei imaginando onde você estava", eu curvei um pouco minha cabeça, a encarando. "Quando você acordou?"