12: CONGELADAS NO TEMPO

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"Então", Carol disse, passando seus dedos devagar no meu cabelo sem parar. "Para onde vamos daqui?". Ela tentava mostrar indiferença, eu sabia, e se ela estivesse com qualquer outra pessoa, talvez eles tivessem acreditado. Seu tom era enfático, seus lábios perfeitos estavam pressionados levemente, seu olhar inabalável, mas eu percebia que ela apertava um pouco os olhos, quase sem levantar as sobrancelhas, com uma breve expressão de pânico. Eu tinha examinado seu rosto tantas vezes, com tanta atenção e admiração, que eu o conhecia melhor do que o meu. Meu coração ficou dolorido e eu me odiei por ser a razão da tristeza dela.

Fomos da cozinha para a sala, eu estava com minha cabeça em seu colo e meus pés estendidos no sofá, num silêncio denso depois de nossa crise de riso. Eu me sentia exausta, acabada por meu colapso, mas eu sabia que demoraria muito ainda para dormir. Meu colapso anterior tinha nos levado para uma conversa que ainda teria que ser acabada. Além disso, eu não queria que aquele fim de semana acabasse. Foi o melhor fim de semana da minha vida, sem dúvida, e uma grande parte de mim desejava que ficássemos ali para sempre, igual a uma das minhas fotografias, congeladas no tempo.

Será que ela realmente entendia minha relutância em não querer morar com ela? Eu não sabia. Nem eu sabia. Será que era outra camada de autoproteção? Tentando me isolar de mais dor, quanto mais eu pudesse? Talvez. Tudo o que eu sabia é que eu não podia me jogar de cabeça nisso, do mesmo jeito que fiz da última vez, por mais que eu quisesse. Porque eu queria. Eu queria jogar toda a precaução ao vento, arrumar minhas coisas, subir no carro dela, dar um adeus à meu apartamento e viver felizes para sempre. Eu queria tanto que quase perdia a respiração por causa disso. Mesmo que eu tenha explicado a ela porque eu não podia, eu queria suplicar para ela ignorar minhas palavras, pedir para ela olhar dentro do meu coração e me dizer o que via, tomar controle e exigir minhas submissão. Eu não sabia se estava sendo responsável ou horrendamente e imperdoavelmente idiota, então a disputa entre meu coração e minha mente me deixava quase louca.

O que eu sabia, era que da última vez, eu segui meu coração. Eu não hesitei em aceitar fazer uma viagem com alguém que eu conhecia só há alguns dias. Nós pulamos tão rápido de ser estranhas para amigas e para amantes, que eu mal tive tempo de tomar fôlego, ainda mais fazer qualquer coisa. E então, no espaço de 24 horas, meu mundo caiu sobre mim e me deixou sem nada. Num dia estávamos juntas, no outro... Não estávamos. E isso me destruiu. Eu fui deixada agredida e machucada, minha vida desprovida de tudo a não ser da dor.

Eu não tinha exagerado antes. Houve noites muito escuras em que eu realmente acreditei que morrer seria melhor do que viver desse jeito, viver num mundo onde a melhor parte da minha vida já tinha passado. Toda manhã, por um bom tempo, eu acordava e sentia uma punhalada de arrependimento por estar presenciando mais um nascer do sol, outro dia sem fim. Foi a pior coisa que eu vivi e houve várias vezes que eu pensei, possivelmente até tivesse esperança, que eu não sobreviveria, que eu não era forte o suficiente. Eu mal consegui me levantar e meu coração e alma ainda mantinham as feridas, feridas que levariam um bom tempo para curar. Com o retorno de Carol, meu coração estava feliz em esquecer a dor inflexível que o tinha partido e minha alma estava contente o bastante em ter uma amnésia, mas tinha uma parte da minha mente, uma parte de sobrevivência, que desesperadamente estava tomando precauções para evitar passar por tudo aquilo de novo. Por mais que eu não pudesse admitir naquele tempo, eu sei agora que eu ainda simplesmente não confiava o suficiente em Carol. Era tarde, muito tarde, em tentar colocar uma barreira ao redor do meu coração – por mais que eu soubesse que seria dela para sempre – mas eu podia tentar resguardar outras partes da minha vida, como meu trabalho e meu apartamento, pois assim, se tudo virasse uma merda de novo, eu teria algo. Mais do que isso, eu amava meu trabalho. Significava tanto para mim, ter dado um passo para perto de onde eu queria estar, por mim mesma. Havia algumas coisinhas em minha vida que me deixavam orgulhosa e isso era uma delas. Eu não desistiria, mesmo se quisesse. E eu não queria.

Por Trás Daqueles OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora