CAPÍTULO 27: ANIVERSARIANTE

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"O que está acontecendo aí", eu chamei.

A porta da cozinha abriu um pouco e Abby saiu por ela. Eu escondi um sorriso ao ver uma mancha marrom escura em sua bochecha e seu cabelo mais desarrumado do que há momentos atrás. "Tá tudo bem!", ela falou rápido.

"É por isso que eu acho que você tem... Chocolate no seu rosto?, eu perguntei tentando ficar séria enquanto ela limpava o rosto com as costas da mão.

"Está tudo sob controle".

"Tem certeza?"

"Jesus, Maria, José, Carol!", ela falou rapidamente e eu sabia que se Rindy não estivesse ali, seu linguajar seria muito mais chulo. "Sua melhor amiga, sua namo...", ela parou, olhando por sobre os ombros, enquanto eu continuava a rir. Ela deu de ombros e se voltou para mim. "Therese", ela emendou pelo bem de Rindy, eu sabia. "E sua filha estão tentando fazer algo bom para você em seu... Aniversário", eu ri e ela ficou mais brava. "Então se você puder nos dar dois minutos do seu tempo para podermos preparar isso, nós todas iremos agradecer"! Jesus!

Eu ouvi Rindy rir, mas ficou abafado assim que a porta fechou de novo, talvez com mais força do que precisava. Eu balancei minha cabeça com carinho e voltei a olhar para a sala. Assim que Abby chegou, ela me baniu da cozinha, para deleite de Rindy e foi quando eu ouvi um grito descontente é que eu quis burlar as regras. Eu ri de novo e então fui para o meio da sala olhando ao redor. Aonde, dois meses atrás, o apartamento parecia somente uma concha de possibilidades e agora era um lar.

De um lado havia um piano de cauda, que eu comprei depois de perceber o quanto sentia falta de um, junto com uma vitrola e um suporte para guardar meus vários discos. À sua esquerda, encostado na parede havia um sofá e do outro lado as poltronas. A parede oposta ao sofá tinha duas estantes, separadas por prateleiras que continham 4 fotos que Therese tinha tirado, todas tiradas nas semanas recentes, uma de Rindy e eu da primeira vez que ela veio ao apartamento, outra de Therese e eu sentadas no jardim de Abby, a foto de Rindy que estava originalmente na mesa e finalmente uma de Abby, Edie, Therese e eu, na qual a mãe de Abby tinha tirado durante um jantar que virou uma noite de jogos, todas nós meio cansadas, mas ainda sorrindo. As fotos se impunham, para que as pessoas as vissem assim que entravam na sala. Eu não tinha muitas visitas, mas eu tinha orgulho da minha vida, de ser feliz, realmente feliz pela primeira vez que eu podia me lembrar. Eu estava orgulhosa, profundamente orgulhosa das poucas pessoas que faziam minha vida ser completa e não posso negar que havia um senso em mim em mostrar isso. Era possível, nas duas fotos que tinham Therese e eu, nós estávamos talvez sentadas muito próximas para que pensassem que éramos apenas amigas? Sim. Na verdade, eu esperava que fosse isso que as pessoas vissem. A sociedade talvez não me deixasse mostrar meu amor do jeito que eu queria ou esperava, mas eu me recusava a fazer isso dentro da minha própria casa, às favas com as expectativas e normas da sociedade.

Eu voltei minha atenção para a mesa de café no meio da sala, me inclinando para olhar de perto a decoração em cascata colocada ali, cheia de muitas coisas – um dos livros de história de Rindy, a ultima edição do Times, um diário que eu estive folheando no dia anterior, um rolo de filme, um carrinho de brinquedo que era a coisa que Rindy mais gostava no momento, as chaves do meu carro... E eu me vi sorrindo. Eu gostava tanto do piano de cauda, eu adorava meus discos e os livros me salvavam em tardes de tédio, mas essa... Essa mesa... Era o coração da sala. Era bagunçada, era a primeira coisa para se procurar no apartamento porque tudo acabava em cima dela e algumas pessoas poderiam achá – la feia. Em minha opinião, era perfeita. Era caseira. Tinha partes de cada uma de nós, aninhadas nessa pequena área. Era Rindy, Therese e eu tudo misturado. Eu adorava, realmente adorava, de certa forma acho que poucas pessoas entenderiam. Eu passei grande parte da minha vida tendo tudo, não apenas pensamentos, emoções e medos, mas tudo, muito bem arrumadinho. Eu queria que fosse assim. Servia para mim, me serviu por muito tempo. Agora, eu não queria. Agora minha vida estava completamente diferente, apesar de eu ainda manter a maioria das pessoas longe, Eu estava diferente, com as pessoas que importavam e comigo mesma, da maneira que importava. Eu estimava como uma simples mesa de café pudesse ter esse significado.

Por Trás Daqueles OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora