25: A GAROTA SEM UM LAR

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O quarto estava escuro, com o sol ainda à uma hora de aparecer e tudo o que eu podia ouvir, era o som reconfortante da respiração suave e firme de Carol. Seu braço estava ao redor da minha barriga, pesado de sono, enquanto eu olhava para o teto. Eu não sabia há quanto tempo estava acordada, minha respiração estava lenta e relaxada, mas meu corpo estava rígido, meus punhos fechados, enquanto eu tentava parar de ficar inquieta. Hoje era o dia. O aniversário de Carol. Era dia 17 de Julho e eu estive esperando esse dia por semanas. Eu mal conseguia acreditar que tinha chegado e a adrenalina corria pelas minhas veias enquanto eu tentava me distrair, sem conseguir. Eu suspirei em frustração, querendo que o sol aparecesse logo, já que eu sabia que meu autocontrole era pouco.

O mais furtivamente que pude, pois não queria acordá – la, por mais que eu quisesse, eu me desvencilhei devagar do braço dela, quase caindo da cama, me equilibrando a tempo. Me virei para olhá – la um momento e então saí devagar do quarto, pegando meu robe e vestindo. Eu fechei a porta devagar e corri para o quarto escuro, entrando e fechando a porta. Eu liguei a luz, colocando uma mão para proteger os olhos enquanto me acostumava com a claridade repentina e então me aproximei da mesa, sorrindo largamente deixando meu entusiasmo transparecer. Eu fui até o cofre, abri a porta e meu coração acelerou quando toquei o material que estava procurando. Segurando firme em minhas mãos, eu o retirei, um livro encapado em couro macio. Era caro, eu tinha guardado uma quantia de cada pagamento todo mês, mas era lindo, perfeito e com certeza valia cada centavo.

Eu sentei com as pernas cruzadas no chão, colocando o livro na minha frente, passando os dedos no couro marrom com cuidado sobre os pontos e finalmente usei a ponta do meu indicador para sentir a inscrição em dourado do nome de Carol, posicionado direto no meio da capa, com uma escrita solta e atraente. Eu fui abrir e pausei, olhando pela porta e aguçando meu ouvido, como se fosse uma criança travessa prestes a pegar um biscoito escondido, com medo de ser pega. Satisfeita com o silêncio que encontrei, eu me virei, levantando a capa pesada. Era um álbum de fotografia que tinha 12 páginas e eu tinha passado horas montando cada fotografia escolhida com uma precisão cirúrgica, sentindo até cãibras na minha mão direita quando fui escrevendo cada legenda com minha melhor letra.

Abby foi uma dádiva nas semanas que eu levei para montar o álbum, procurando em sua coleção e me mandando uma seleção para que eu escolhesse. Havia uma de Carol segurando Rindy. Rindy não deveria ter mais do que alguns meses descansando nos braços da mãe e Carol olhando para ela com uma expressão de admiração. Era uma foto linda, íntima e diferente das outras que Abby tinha me mandado, que Carol parecia mais contida. Nessa, eu podia ver Carol, a Carol que eu conhecia, aquela atrás da máscara que ela sempre usava e eu a coloquei na primeira página. Foi a primeira que eu escolhi para colocar no álbum e quando, há algumas semanas eu ia escrever a legenda para ela, eu parei, com a caneta na mão. No fim, eu acabei deixando o espaço vazio e continuei, com uma ideia se formando na minha cabeça, uma ideia que não pude executar até o fim de semana anterior, quando Rindy tinha vindo.

Desde a primeira visita de Rindy ao apartamento há dois meses, Carol tinha sido categórica de que as visitas precisavam ser constantes e regulares, até o ponto de usar a própria ameaça de Harge e chamar os advogados de volta e ir para o tribunal, a qualquer custo, quando ele tentou voltar atrás com o acordo. Eu vi a tristeza em seus olhos azuis lacrimejantes assim que ela terminou a ligação com ele, ouvi a relutância em sua voz, mas ela estava firme e decidida, querendo até se expor se houvesse a chance de ela não poder ver Rindy. Eu fiquei admirada por ela, por sua força, por sua determinação. Ela não queria mais besteiras de Harge, ela tinha aberto mão da custódia para que ela pudesse ser a melhor mãe possível, para viver sua verdade, tanto por ela como por Rindy e por tudo que ela tinha me dito, ela não aguentava mais seguir as regras de Harge.

Por Trás Daqueles OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora