No dia seguinte, Rafaela acordou com o alarme do seu telefone a tocar, nos primeiros segundos em que acordou não se lembrava muito bem de como tinha chegado a casa. Após uns segundos e a medida que os seus olhos se foram habituando a claridade do dia, Rafaela foi-se lembrando vagamente dos acontecimentos da noite anterior.
Lembrou-se de entrar no carro de David sem olhar para trás uma única vez, lembrou-se de chegar a casa e de tremer tanto que teve de ser David a abrir a porta, lembrou-se ainda de entrar no seu quarto e de David a segurar nela uma vez que ela não se conseguia aguentar em pé mesmo estando descalça, lembrou-se também de David a tirar-lhe seu maravilhoso vestido uma vez que esta estava tão fora de si que não respondia as suas perguntas. Lembrou-se por fim de este a levar para a cama e de a deitar e ainda de ela se ter amarrado a ele com medo que o homem horrível voltar. E apesar de esse ser um medo irracional, Rafaela não se estava a sentir muito racional naquele momento e tudo que menos queria naquele momento era ser deixada sozinha. David sabia que não devia ter ficado com ela, mas como poderia ele abandona-la numa hora como aquela?
A medida que as memórias voltavam, a mente de Rafaela foi trocando o seu sentimento de confusão por um de raiva. Estava com raiva de todo o mundo, de João por ter tentado magoa-la, dela por ter sido tão estúpida ao ponto te ter confiado num homem de novo e a pessoa com que ela estava com maior raiva era David, porque para além de ter razão, ainda teve a lata de se aproveitar daquele seu momento de fraqueza para se vingar de João.
Porém, toda aquela sua raiva ia ter de esperar porque esta já estava atrasada para o seu emprego e não se podia dar ao luxo de entrar numa luta com David aquela hora senão não ia chegar a tempo ao seu trabalho e não se podia dar ao luxo de chegar atrasada, porque precisava dele para pagar as suas contas e as despesas do bolo do casamento.
Usando todas as suas forças levantou-se, depois de uma rápido banho decidiu vestir umas calças de ganga, um top branco com laços nas costas e umas sandálias de saltos altos pretas. Prendeu o seu cabelo em duas trança e decidiu ir trabalhar sem tomar o pequeno almoço com medo de se encontrar com David e de não conseguir voltar a conter a sua raiva.
Chegou mesmo a tempo ao café, mas quando lá chegou ficou espantada de ver os donos a sua espera.
-Bom dia – disse Rafaela vestindo o seu avental – Tive um imprevisto e foi por isso que só consegui chegar agora – tentou explicar porque mesmo que tivesse chegado a horas ela costuma chegar sempre mais cedo para dar uma mão antes de abrir, o que não tinha conseguido fazer hoje.
-Não te preocupes querida – disse Maria – Chegas sempre muito cedo de qualquer forma, também fazes bem em descansar, principalmente depois de ontem.
-Ontem? –perguntou com medo de esta se estar a referir ao que se passou com João ontem.
-Sim, não foste entregar o teu bolo ontem num casamento? – perguntou Maria sem perceber a sua confusão.
-Sim, tens razão. Já nem me lembrava – tentou disfarçar Rafaela.
-Querida já te disse que trabalhas de mais – disse Joaquim que se tinha agora juntado a conversa – Já lhe contaste, querida? – disse olhando para a sua mulher com um olhar de preocupado.
-Não, achei que devia esperar por ti – disse Maria agora também com um ar de preocupada.
-O que se esta a passar? – disse Rafaela agora era ela que estava a ficar preocupada.
-Querida – começou Maria – Nós tivemos com um pequeno problema financeiro.
-Querida – disse Joaquim – Foi mais que um pequeno problema – Veio aqui um inspetor e ele descobriu que nos faltava umas licenças para permanecer abertos. Já sabes como somos, estamos velhos e esquecemo-nos de comprar as licenças.
-Não tivemos outra hipótese – continuo Maria – Ele multou-nos e disse que a única maneira de continuar abertos era pagar a multa e comprar as licenças. E apesar de o negócio estar bom, querida, não tínhamos dinheiro para tudo isto.
-Nós vamos resolver esta situação – disse Rafaela já pensando num esquema para angariar dinheiro para salvar o café que esta tanto amava.
-A situação já esta resolvida – tentou explicar Joaquim – Nós tivemos que vender.
A cara de Rafaela ficou pálida, ela não podia acreditar que o café, que ela tanto ama, ia desaparecer.
-Mas não te preocupes, o comprador prometeu que não ia fazer nenhuma mudança e que todos que cá trabalham podem continuar a trabalhar – explicou Joaquim – Ele foi muito simpático, para além de pagar a nossa muta e de comprar as licenças, ainda nos ofereceu um bónus para nos podermos reformar.
-Vão-se reformar – Rafaela estava triste porque ia perder os seus adoráveis patrões, mas feliz por continuar a ter o seu emprego no café – Mas quem é que comprou o café?
-Não sabemos – explicou Maria – Foi um comprador anónimo. Ele notou que estávamos em problemas e decidiu ajudar. Nós não íamos vender, porque sabemos o quanto tu e as outras gostam de cá trabalhar, mas ele disse que tudo ia ficar igual. Então decidimos que era o melhor, porque já estamos velhos e não temos a força de governar um negócio.
-E enquanto este comprador não aparecer, és tu que vai ficar encarregue das coisas da parte da manhã – disse Maria alegre – Se não te importares claro.
-Eu sinto-me honrada – disse Rafaela feliz – Mas fico triste por irem.
-Não fiques – disse Joaquim – Já esta na nossa hora e ficamos felizes por tu e as outras continuarem o negócio que nos custou tanto a criar. Nunca te esqueças, aqui somos todos uma grande família.
-Não esqueço – disse Rafaela pensando se estaria de facto pronta para este novo desafio – E nunca irei deixar ninguém vos esquecer – disse agora com um bocado de lágrimas nos olhos.
Rafaela não sabia se devia sentir triste, porque o seu adorável café foi vendido a uma completo estranho e não sabia o que ele pretendia fazer com ele; e por outro lado, feliz porque tinha sido promovida e iria estar um passo mais perto de realizar o eu sonho de ter uma pastelaria. "Mas quem será esta misterioso homem, que do nada terá comprado este adorável café e o que será que ele pretende fazer com ele?", foi a perguntou que permaneceu no fundo da mente de Rafaela durante o sua manhã no café.
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Ligações profundas
RomanceRafaela é uma rapariga simples e trabalhadora, as coisas que ela mas adora são fazer bolos e passar tempo com os seus dois melhores amigos, Diana e Tiago. David é um homem extremamente bonito e sedutor, aos seus vinte e seis anos é já dono de uma da...