O Caminho até Você

Um

O caçula das pistas de Fórmula 1 estava sentado em um dos bancos  almofadados típicos de um bar pronto para pedir uma bebida, lógico que aquele não era qualquer bar afinal todos os pilotos colegas de Ward estavam ali para uma reunião informal apenas alguns dias antes de começar as corridas anuais 

Ele se orgulhava de muitas coisas na vida, mas a principal era saber escolher suas companhias para uma boa noite. Contudo, dessa vez não pode alegar algum crédito, pois de fato não selecionou qual seria sua parceira. Ela entrou naquele bar luxuoso com o roteiro escrito em sua mente, e a única coisa que faltava era selecionar o principal papel, quer dizer o principal papel masculino. Uma mulher como ela era uma estrela em todas as suas produções. 

Havia uma jukebox ali, como mandava o padrão. Quando a dama cruzou o umbral tocava uma das músicas de Elvis, porém Ward não prestou atenção suficiente para dizer qual era. Ele estava focado na garota, e que garota ela era! Uma moça que fosse apenas bonita desapareceria ao lado dela. 

Na primeira vez que olhou para ela não a achou nada de mais, todavia uma segunda e rápida olhadela foi o suficiente para descartar totalmente a primeira impressão. Ele a julgou tão bela identificando que era aquele o tipo de mulher que daqui a vinte anos ainda aparentaria a idade da noite que se conheceram. 

Tudo o que fazia parecia estar com efeito de cinema, como se tivesse um filtro próprio. Os cabelos que iam até o ombro na cor caramelo impressionaram Ward por seu brilho, indicando o quão hidratados os fios estavam. Aquilo e a própria feição da mulher o fez crer que era dedicada aos cuidados próprios. 

A garota que Ward suponha que beirava os vinte anos sentou ao seu lado e olhou dentro de seus olhos, quando o olhar dos dois se cruzou ela não desviou. Eles se encararam por alguns segundos, antes de Ward analisar melhor a mulher e ver seus jeans tendo certeza de que era o motivo das pessoas pagarem tão caro em calças de grife. 

- Escolhe uma bebida pra mim? - Ela disse quebrando o silêncio. 

Essa foi uma pergunta difícil para Ward, não tinha o costume de escolher bebidas para outras pessoas, se não ele próprio. Demorou um pouco estudando a situação, mas por fim, lembrou-se de que sua mãe costumava pedir tequila então sugeriu o mesmo a moça. 

-Tequila? Como você adivinhou que esta é minha bebida favorita? 

- Instinto, eu acho. - Ward disse se arrependendo do que pronunciou assim que as palavras saíram de sua boca. 

A garota riu alto e fez seu pedido à atendente do balção. Quando a bebida chegou até ela, a menina mulher tomou um pequeno gole e ofereceu um pouco para o homem, ele por sua vez aceitou um pouco intrigado com a situação.

- Nunca te vi por aqui entre os pilotos- A mulher disse quase que num sussurro - Como se chama? 

- Ward Carter, sou novo pelo pedaço. 

- O caçula da equipe RFB, certo? Meu pai comentou sobre você só não imaginei que fosse tão jovem.  

- Quem é seu pai? 

Nesse instante ela exitou em falar com medo de que Ward a julgasse, era frequente que aquilo acontecesse pela fama do patriarca. 

- Dylan Turner. 

Assim que disse o nome do pai viu a decepção no rosto do homem, todos achavam que a filha do piloto veterano era uma aproveitadora e a criticavam por isso ainda mais depois que começou a namorar o jogador de futebol espanhol William Bain.

- Catherine Jones Turner, não é mesmo? 

- Exatamente - Cath respondeu querendo ser apenas Catherine ou somente a mulher bonita que entra em um bar com um ar misterioso. 

- É verdade o que dizem sobre você? - Ward perguntou, ele tinha alguns parafusos a menos e um pouco de coragem a mais do que a maioria das pessoas. 

Catherine deu uma risada histérica e adotou uma postura indecifrável, estava irritada, mas não deixou que transparecesse. Escutou a voz do seu antigo produtor dizendo "sorria, eles vão notar se não sorrir" em sua mente e seguiu o que ela mandava. 

- Me falaram que tem uma masculinidade frágil, é verdade? 

Dessa vez foi a vez dele rir, estava gostando do joguinho. 

- Você dança? - Cath questionou quase que por instinto mesmo tendo notado a indiferença do rapaz. 

- Não quando posso evitar! - Ele rebateu com um ar de superioridade acentuado de quem sabe o seu verdadeiro valor.

Saber quem ela era fez com que Ward perdesse o interesse, talvez tivesse uma masculinidade mais frágil do que imaginava. Ele era o tipo de homem que adorava uma boa balada ou uma noite épica que pudesse se gabar, porém não queria nada com quem ele achasse inferior ao mesmo.

- Cath vi que conheceu o mais novo membro da RFB - Comentou uma voz vinda de trás deles, se tratando do pai da mulher - Esse é Ward, seja gentil com ele, viu?  É como um filho para mim! 

- Sendo assim, bem-vindo à família - Cath disse desconfortável sabendo que o convencido piloto que acabara de conhecer era o mais recente protegido de seu pai. 

A verdade era bem clara para a filha de Dylan, o pai seria substituido por Ward. Não havia dúvidas, o corredor veterano já estava com quarenta e cinco anos provavelmente 2019 seria seu último ano de disputas. Mesmo assim Dylan não conseguia tratar mal o seu herdeiro de pistas na Fórmula 1.

O novato recebeu sua cordialidade com um leve desprezo que ela logo notou. 

- Você também pilota? - Ele disse debochando dela, pois Dylan claramente se referia à família de pilotos - Em que categoria está? 

- Com certeza não estou na de orgulhosos e soberbos como você! 

- Acho que está me confundindo com você, princesa! 

- Tenho certeza que não. 

Assim que respondeu Ward a altura jogou a Tequila nele sem olhar para trás se quer para ver o estrago que fez ao cabelo do novato. Desmanchar aquele topete encerado de gel deu a Cath um prazer peculiar que gostara muito, embora sentisse que nunca iria gostar de Ward Carter!