É estranho pensar que toda vez que nos encontramos afogados na tristeza tudo a nossa volta parece fúnebre. Após sair da casa de Maggi observei as pessoas que passavam na rua caminhando calmamente, um casal me chamou atenção. Estavam contentes caminhando de mãos dadas como muitos outros fizeram antes, poderia ser eu e Will, pena que nunca daria certo.
Eu estava sem carro, vim com ele, lembra? Então caminhei sem rumo algum pela cidade de Londres. Não é como se eu não tivesse um objetivo com aquela caminhada, só não sabia retornar ao hotel, nem se quer vi o trajeto de ida pois estava vendada. Dessa forma andei por um bom tempo torcendo para esbarrar com alguma rua conhecida, infelizmente não foi o que aconteceu.
Vaguei até as nuvens do céu começarem a precipitar, mas nem me importei com as gotas de água caindo sobre mim. Continuei na mesma velocidade, ou seja, lenta.
Não pense que eu sou como um daqueles poetas romantistas antigos que dramatizavam tudo colocando elementos da natureza, longe de mim! Só estou contando o que de fato aconteceu, não é minha culpa se esse fato se assemelha à um desses clássicos da melancolia.
Lá estava eu em meio a chuva com a pouca maquiagem que passei no rosto já toda borrada, com meu vestido ensopado apenas esperando um pingo de sorte para achar meu destino. Nesse percurso remoi os minutos anteriores e principalmente como tudo acabou.
Foi um golpe fatal, uma hora minhas esperanças estavam sendo alimentadas e cultivadas, eu tinha fé que meu noivado pudesse ser salvo. No entanto toda minha ingenuidade foi arrancada de uma só vez, Paris nunca mais seria a mesma para mim. Jamais poderia voltar à Love Coffee, não sem chorar pelo menos.
Nosso passado seria apagado e anos a frente quando me perguntassem dele eu sorriria e falaria "quase me casei com ele, acredita?". Will Bain chegou devagar em meu coração, sempre com a intenção de me conquistar, só que quando partiu deixou uma ferida difícil de reparar.
Vi uma mulher correndo na rua no intuito de se esconder da chuva e pensei que gostaria que minha mãe estivesse ali para me ajudar, nem sei porque aquela mulher de casaco azul me trouxe esse pensamento. Mas a saudade de Kelly Turner me atingiu com força, acho que ela saberia como me consolar. Na verdade como minha mãe morreu na época que eu era muito pequena não sei ao certo se ela daria bons conselhos sobre relacionamento, porém como ela tinha a reposta para todas as minhas perguntas creio que não falharia em coisa do tipo.
Cheguei ao ponto de minhas pernas doerem, então parei de andar e sentei na calçada de uma rua qualquer. Respirei fundo e ergui a cabeça a fim de receber água em minha face, sentindo que estava arrasada e que não haveria como voltar atrás chorei de novo.
O bom é que ninguém poderia alegar que eram lágrimas realmente, afinal elas estavam unidas à chuva. Mas eu estava magoada mesmo, toda dedicação que tive para com o jogador tinha sido em vão e nenhuma pessoa estava ali para me confortar.
Quem eu mais queria e tinha evitado falar sobre, minha mãe não podia fazer mais nada por mim. Meu pai ainda deveria estar no cartodromo. Liliam provavelmente não me atenderia, já que da última vez que tentei a filha dela interceptou. E tinha Ward, mas eu não julgava ele um bom ouvinte para qualquer coisa relacionado ao meu noivado.
Desde aquela noite olhando as estrelas o piloto disse que era uma péssima escolha e eu não quis acreditar nele, foi um erro meu. Levando isso em consideração e a própria personalidade do meu amigo não sei se ele me confortaria ou se iria somente exaltar que estava certo. As vezes esse egocentrismo dele me irritava, portanto optei por não ligar para ele.
Em vez disso outro nome se passou pela minha mente: Luana Stone. Estava há um bom tempo querendo falar com ela, mas somente quando fiquei desesperada o suficiente para sentar na calçada em meio a chuva criei coragem para telefonar.
Peguei o celular dentro da minha bolsa e disquei os números já memorizados, porém pouco utilizados por mim. Ouvi o barulho do chamado e como eu me recordava Luh só atendeu após o terceiro toque. Ela repetiu diversas vezes "alô", no entanto eu tinha me esquecido como prosseguir.
Fazia tanto tempo que eu não conversava com Luana que achei meio estranho só responder como se nada tivesse acontecido. Seria muita cara de pau de minha parte, dessa forma respirei fundo do meu lado da linha, do outro lado escutei ela se zangando pronta para desligar.
- Sou eu - Balbuciei timidamente ciente da bronca que iria levar por ter me afastado.
Mas somente ela poderia me auxiliar naquele momento, eu precisava dela para me tirar da situação deplorável a qual me encontrava.
- Quem é?
- Sou eu, Cath Turner.
- Como você tem coragem de me ligar após todo esse tempo? - Ela perguntou exaltando a voz - Aposto que quer alguma coisa!
No nosso tempo de colégio ela dizia que toda vez que a procuravam queriam alguma coisa, já que nada nesse mundo vem de graça. Não estava de todo errado, na maioria das vezes iam buscar ajuda.
Me senti meio ridícula ligando pra ela para pedir auxílio a respeito de minha vida amorosa, mas pra quem mais poderia pedir socorro? Decidi então que iria aguentar tudo que ela falasse, pois eu realmente merecia.
- Eu só não vou desligar na sua cara pela audácia de me tratar igual uma qualquer, como se não tivéssemos sido melhores amigas - Luh berrou irritada através do telefone, mesmo sem vê-lá imaginei a veia da sua testa pulando de nervoso - O que tu quer, piranha?
- Por favor me desculpa..
- Tô me segurando pra não quebrar a sua cara, então me diz logo por que ligou!
- Eu terminei com Will - Respondi soluçando dominada pelo choro agoniante.
- Ainda tem a ousadia de vim falar de macho, tu não tem vergonha na sua cara? - Ela me questionou, porém assim que fui responder Luana cortou a minha fala e prosseguiu - Terminou com ele, okay. O que tem de mais?
- Como assim?
- Você não come com a boca dele, não respira com o pulmão dele e nem anda com as pernas dele. Não sei qual a dificuldade em ver que tu não precisa desse cara pra viver!
As palavras dela eram sempre duras, não digo que eram desnecessárias pois estaria mentindo. Mas o modo direto de minha amiga me ajudava e muito a seguir em frente, só que dessa vez o buraco era mais em baixo.
- Luh eu amo ele!
- Se decide garota, ama ou não ama? - Minha amiga de longa data perguntou enquanto eu me levantava fazendo esforço para voltar a andar - Não foi você quem terminou?
Tive de explicar brevemente tudo que aconteceu, meu namoro, o noivado e a transmissão no YouTube. Luana prestou atenção e assim que eu terminei de falar a única coisa que ela proferiu foi um "desgraçada nem ia me convidar pro casamento".
Mas como ela sempre foi uma boa pessoa continuou a me ajudar. Por fim sugeriu que eu focasse mais em minha carreira e menos em Will Bain e que quando tivesse um tempo passasse na casa dela. Desliguei o telefone prometendo à garota que ficaria bem e manteria contato, mas mesmo após tudo isso assim que chamei um carro por aplicativo, cheguei ao hotel e me deitei na cama chorando até adormecer.
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O Caminho até Você
RomanceJá sentiu como se uma única pessoa fosse capaz de revirar a sua vida inteira? A obsecada por organização Catherine Turner entende muito bem o que é isso quando o caçula da Fórmula 1 decide entrar em sua vida e bagunça-la por completo. Nessa históri...