Dezesseis

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Foi isso mesmo que você leu, não está enganado e nem eu fiquei louca. Sei que agora que me conhece melhor deve imaginar que sou um pouco maluca e coisa do tipo, mas dessa vez não tenho culpa de nada.

O carro dele que estava na poli position não ligou, foi então que observei com uma dor no coração dezesseis carros desviando do de Ward e tomando posições melhores. Tive medo de acidentes acontecerem, como já disse a primeira volta sempre é perigosa em uma corrida de Fórmula 1, contudo, isso não aconteceu. Eu vi um a um os outros pilotos seguirem em frente e imaginei que a corrida estava perdida para meu amigo, mesmo que seu possante retornasse para os boxes, fosse concertado e voltasse às pistas jamais alcançaria os outros.

Somente um milagre poderia ajudar o senhor Carter a ganhar a corrida, talvez o que aconteceu em seguida se aproxime disso. Eu observei com meus próprios olhos e escutei o narrador esportivo gritar a façanha de Ward, porém foi difícil acreditar que era verdade.

A genialidade do piloto foi impressionante, ele usou a inclinação da pista para fazer seu carro pegar no tranco. Na primeira volta oficial recuperou seis posições!

Isso é algo inenarrável, posso lhes contar aqui o que aconteceu, mas a sensação de vivenciar o momento, sinto muito... somente quem viu essa corrida sabe realmente do que estou falando, adrenalina pura correndo nas veias do torcedor que comemorava ao ver que o piloto fizera o impossível.

Meu pai, que largou em terceiro, logo passou Arturo e continuou em primeiro por boas voltas. Estendendo ao máximo a hora de trocar os pneus, pois cada carro precisa usar pelo menos um dos três jogos de pneus para troca durante a corrida: macios, médio e duro.

Eu sabia exatamente o que o veterano estava tentando fazer, ele já supunha que Ward pudesse o alcançar e se isso acontecesse queria sair na frente dele nos boxes. Claro que essa maldade de jogo meu pai adquiriu com os anos de prática, eu aprendi o vendo pilotar e usei também no tempo que passei na Fórmula 2. Sinceramente sinto saudades de realizar esse tipo de coisa.

Quis alertar Ward sobre isso, no entanto não podia e na vigésima volta assim que ele roubara a sétima posição senti que em breve descobriria a jogada de Dylan Turner. Fora isso o fator clima também me assustava, a chuva se aproximava pelo que tudo mostrava e não tinha certeza de que a pista molhada ajudaria meu amigo. Inclusive era provável que tal evento da natureza o atrapalhasse, visto que ele estava com pneus de pista seca e uma parada para os substituir custaria tempo e posições.

Dylan, Arturo e Ward fizeram trinta voltas sem trocar os pneus e os seus iniciais começaram a ficar desgastados, aumentando minha preocupação. Bom, o novato foi o primeiro a mudar o conjunto de pneus e se antes tinha os duros para pista seca, agora possuía os macios para pista molhada. Eu vi quando ele passou nos boxes, contudo, foi uma questão de segundos devido a agilidade de sua equipe de mecânicos.

Com a troca feita, ele aproveitou a saída dos boxes para reconquistar posições, assim ficou em quarto. Por fim meu pai não aguentou mais e também fez a mesma escolha de pneus do novato, falando bem a verdade, acho que tal evento foi proposital e não conhecidencia.

Parecia para mim que nada mais iria mudar, Dylan Turner tinha uma distância considerável de Arturo. O terceiro colocado se mantinha mais longe ainda e conforme Ward grudava em sua traseira o corredor não permitia a ultrapassagem. Estava tudo estagnado por um tempo, até que começou a chover.

Nunca vi nada do tipo, mas quando as gotículas de água desceram do céu o carro dourado de Ward se transformou em um foguete. Ele usava a pista lisa e escorregadia para deslizar cada vez mais longe e veloz, como em um passe de mágica conquistou o terceiro lugar e começou a apertar o segundo.

Lógico que para ele vencer Arturo teria um gostinho especial, quer dizer, aquele foi o piloto que o tirou das pistas logo na estreia. Indo pela esquerda o experiente o fechou, então ele mudou a marcha e foi pelo outro lado mais veloz do que o outro carro poderia rebater.

A cada curva uma emoção, a cada metro um show e a cada ultrapassagem uma comemoração. Isso sim é Fórmula 1, sem dúvidas nenhuma essa corrida é a minha favorita de todas que Ward disputou.

Quando ele iniciou uma aproximação de meu pai não soube para quem torcer, eu amava muito os dois e prometi os apoiar. Assim sendo comemoraria com quem quer que subisse ao pódio.

Porém não foi tão fácil para o rapaz vencer o veterano, meu pai estendeu esse joguinho por muito tempo e segurou a pressão em várias voltas. Somente quando a chuva se apertou mais ainda que o novato conseguiu realizar aquela façanha, eles correram juntos na mesma velocidade, um ao lado do outro. No entanto na curva mais aberta do circuito ele ultrapassou o veterano de pista.

A voz do narrador berrava ao contar tudo que acontecia e o espasmo da torcida vendo que um caçula de pistas poderia passar o Grande Dylan Turner foi avassalador. Foi transmitido os gritos de felicidade que o rapaz dava por seu aparelho de comunicação e eu vibrei com eles.

Ainda em choque pulei de emoção ao ver tudo aquilo, entretanto na volta seguinte a corrida foi parada para meu lamento e o de Ward. Não sei se você sabe o que isso significa, mas quando uma corrida de Fórmula 1 é parada antes do tempo por conta de eventos climáticos a volta que conta é duas antes da parada. Por exemplo se uma corrida for paralisada na volta quarenta, a que vale é a trinta e oito.

Assim sendo todo aquele show realizado pelo novato não valeu de nada, quer dizer ele ficou em segundo lugar. No entanto seu sonho de vencer meu pai não se realizou naquele domingo como ele desejava.

Estacionaram os carros e saíram logo que possível, meu pai deu um aperto de mão respeitoso e orgulhoso ao menino e veio ter comigo. Já Ward, bom ele estava bravo e se locomoveu até o Chefe de sua equipe pronto para fazer bobagem.

- Eu estou pronto pro primeiro lugar, me arruma a porra de um carro pro primeiro lugar - Ele gritou - O que aconteceu hoje podia ter me matado, então conserta essa merda!

Depois ele foi logo entrando na parte reservada aos pilotos no autódromo, nem ao menos voltou para receber seu prêmio de segundo colocado. Não quis participar do banho de champanhe clássico do pódio.

Eu não fui atrás dele e também não me arrependo de não tê-lo feito, precisava ver meu pai comemorar. Ele não estava tão feliz tendo em sua mente tudo que acabara de acontecer e a tristeza de um companheiro de equipe, porém ainda assim ganhara o GP. Novamente uma vitória, desde que as corridas anuais começaram o veterano tinha acumulado dois primeiros lugares e um segundo lugar. Seus pontos só cresciam consequentemente, era um motivo pra comemorar e foi nisso que ele pensou quando abriu a champanhe molhando o macacão vermelho de Arturo. Pelo menos Arturo tinha se molhado, podia ser um conforto para Ward, onde quer que ele estivesse naquele momento fatídico.

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