Quinze

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Eu não soube o que responder à ele, não havia uma palavra se quer para lhe devolver. Bom, visto que nada diria apenas encostei minha cabeça no ombro dele e continuei a olhar os caminhos possíveis no céu, dando uma atenção especial a constelação que julguei ser o caminho que o levava à mim.

Quando voltamos à casa da mãe de Ward a luz de fora estava acesa, sinalizando que ela sentira nossa ausência. Mesmo assim não estava do lado de fora nos esperando e muito menos na sala desesperadamente ansiosa para a nossa volta. Dona Inês dormia em seu respectivo quarto sem se importar ao certo com o que nos acontecia.

Fomos nos deitar logo que chegamos principalmente porque o frio me atingira de maneira drástica. Realmente penso que a única razão para não ter sentido todo esse frio na ida foi a adrenalina provocada pelo medo e pela emoção de voar. Ser um pássaro foi melhor do que eu podia imaginar, queria desfrutar mais vezes da liberdade. Enquanto estive na garupa da moto de Ward senti uma felicidade tão grande quanto dançar na chuva, só que mil vezes melhor.

Ele tinha me dado asas ou apenas o gatilho? Não sabia dizer. Eu era um emaranhado de sentimentos de modo que a confusão pairava em minha mente, afinal meu melhor amigo tinha acabado de me beijar. Não só isso: o piloto tinha apontado meu relacionamento como prejudicial à mim. Sem saber no que acreditar passei a noite inteira acordada pensando no que ele havia dito.

Por um lado Ward Carter tinha ótimos argumentos a respeito de minha união com Will. Quer dizer, o casamento era mais uma forma de reaproximação do que um verdadeiro matrimônio onde os envolvidos se entregam de corpo e alma um para o outro, como deveria ser.

Mas pelo outro lado minha história com William não podia ser descartada, as memórias boas e antigas recordações de amor dariam um bom filme. Éramos um casal típico que se conhece ainda precocemente e estende a união por mais longos anos. Não seria fácil jogar tudo que vivemos juntos no lixo e eu não estava pronta para isso, nem desejava o mesmo.

Todavia meus planos jamais iriam caminhar com os dele, isso porque tudo que ele queria era a minha posse e não o afeto. Somente descobri essa valiosa informação tempos depois da noite a qual estou narrando, quem dera tivesse seguido o que Ward me alertou.

Enfim, quando o dia raiou me levantei, já que o sono não veio até mim. Esperei que Ward acordasse e assim nos despedimos da mãe dele e fomos embora. Deixamos o lugar magnífico que vimos as estrelas, pois precisávamos retornar à Ottawa e embarcar no avião de noite. Para falar bem a verdade esse pequeno passeio não estava nos meus planejamentos, Ward me surpreendeu quando disse que tinha um lugar à me mostrar.

No trajeto de volta não teve bagunça no carro nem nada do tipo. Somente uma viagem normal onde fechei os olhos na maior parte do tempo evitando assim um diálogo sobre a noite anterior. Mas toda vez que deixava os olhos entreabertos podia ver ele me admirando com um olhar carinhoso de tempos em tempos, não sei dizer ao certo se sabia que eu estava acordada. Gosto de pensar que tinha conciencia disso, me traz algum estranho conforto, entende?

Ele me deixou na porta de meu prédio  e não quis subir quando convidei, bom pelo menos teria mais tempo para refletir sem o piloto para me atrapalhar. Entrei e vi a pia suja de pó de café como imaginei que estaria, contudo Liliam não permanecia lá dentro.

Tomei um banho relaxante e assim que sai do banheiro, reorganizei a mala. Alias, a idosa não sabia arrumar malas! Ela colocou muitas roupas lá dentro que eu com toda certeza não precisaria, a questão é que ela me fez levar bagagens para situações hipotéticas que nunca iriam ocorrer. Por exemplo: Havia um biquíni entre as roupas. Estávamos no Canadá durante o inverno, por que diabos eu precisaria de um biquíni?

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