Vinte e Seis

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A preparação para a próxima corrida foi difícil para Ward, isso porque ele almejava ganhar mais do que tudo, era uma questão de honra. Ele precisava provar para todos que não era um piloto de segundo lugar e que não ficaria para sempre atrás de meu pai. O novato sonhava em ser reconhecido e ganhar a aprovação de Dylan, tudo bem que para o ano inicial dele, estava mantendo um ritmo muito bom, mas ele queria mais. 

Então Ward se esforçou além do imaginável, inclusive deu apoio à equipe de mecânicos da RFB. Não é como se entendesse absolutamente tudo do assunto, mas não era um leigo e queria garantir que acidentes como aquele onde seu carro não pegou de primeira, jamais acontecessem. Dessa forma todos os dias antes de entrar no veiculo dava uma checada marota enquanto conversava com os profissionais, foi assim que ele ganhou amigos de verdade. 

Com seu carisma e um pouquinho de autoconfiança conquistou os garotos da manutenção dos carros, passaram a tomar café juntos e um deles até convidou Ward Carter para sua festa de aniversário. Infelizmente ele não pode ir, pois era justamente um dia antes da corrida e meu quase namorado não podia ousar se distrair. 

 O que mais me agradou nessas duas semanas de preparação foi o fato de eu participar, foi isso mesmo que você leu. Lá estava Catherine Jones acelerando em treinos com os famosos pilotos da Formula 1, afinal também deveria me preparar para o ano seguinte.

No inicio me senti um pouco intimidada pelos dois estarem em uma categoria superior e eu ter me ausentado por um tempo das pistas, no entanto após algumas voltas e uma dose de adrenalina que meu corpo logo produziu, me senti capaz de os desafiar. Algumas vezes os ultrapassei e em outras fui ultrapassada, de fato não tinha prazer maior do que deixar Ward para trás comendo poeira. Só que a cada ultrapassagem que ele me dava meu sangue fervia e a necessidade de o passar aumentava dentro de mim, como um desejo extremo. 

Tudo ia bem, a preparação e os treinos exagerados estavam resultando em um desempenho cada dia melhor, porém algo o preocupou uma noite antes da corrida. Eu estava dormindo, mas fui obrigada a acordar com o grito que Ward deu ao meu lado. Suas costas estavam molhadas de suor e a respiração se mantinha tão ofegante que qualquer um do outro lado da parede poderia ouvir. Não deixei de notar que seus olhos quase imploravam para chorar o que me desesperou e muito. 

O novato das pistas me explicou seu pesadelo, essa foi a primeira vez das muitas outras que o sonho o atormentaria. O que ele sonhava? Ward sentia sua morte ao fechar os olhos e se permitir entrar em sono profundo, sempre do mesmo jeito. O carro estava em alta velocidade e o volante pesado, tão duro que não dava para virar e mesmo que ele tentasse nada acontecia. O motor fazia grande pressão ao ponto de suas pernas doerem e ele ranger de dor, todavia o pior era a parte final, quando se chocava contra o muro. 

Toda vez que esse pequeno e torturante filme passava pela mente dele, Ward acordava desesperado e aos gritos sentindo que fora mais real do que era capaz de explicar. Como aquela noite foi a iniciação desses maldosos pesadelos o susto foi maior e eu tentei de algum modo espantar esses pensamentos ruins. Lhe disse que tinha sido só um sonho e que estava tudo bem, mas sabia que minhas palavras ecoavam vazias em sua cabeça. 

Ainda abalado pela noite anterior ele quis entrar no carro e competir. Ward a cima de tudo era teimoso e não desistia fácil, era seu objetivo mostrar que veio pra ficar. Eu estava reciosa é claro, mas decidi confiar nele era o que estava ao meu alcance.  

E como era esperado de meu pai, não facilitou para o novato, manteve-se sempre na liderança afinal garantiu para si o primeiro lugar no grid. Eu conhecia seus planos, Dylan iria conquistar a Grand Slam ou seja a corrida perfeita! Largaria na Pole Position, lideraria de ponta a ponta e daria a volta mais rápida. Essa conquista seria importante para o último ano dele nas pistas, ainda mais no Circuito de Aintree, parece egoísta da parte dele, porém eu entendo que queira manter seu legado aceso. 

Fora isso, estamos falando de um esporte altamente competitivo onde a ordem dos fatores altera sim o resultado! E confesso que logo na metade do GP, vendo o caçula das pistas em sexto lugar, supus que tudo já estava perdido, principalmente quando notei que seus pneus precisavam ser trocados urgentemente. 

Me alertei ao quadrado assim que as primeiras gotas de chuva começaram a cair, os pneus estavam gastos e um acidente poderia ser causado. Eu que estava acompanhando pela rádio escutei quando Ward avisou seu Chefe de Equipe que realizaria a troca por um jogo de pneus macios. Era arriscado devido ao clima, eu mesma nunca tomaria aquela decisão. 

Mas foi então que o mundo comprovou que a chuva era aliada de Ward Carter e que ninguém poderia para-ló numa circunstância dessas. Aproveitou o deslize ágil das rodas e passou grandes pilotos, incluindo o que bateu no carro dele na estreia e o meu pai. Esse foi o primeiríssimo dia que subiu ao pódio com o ouro e também o momento em que seu novo apelido nasceu. Obvio que para alguns, Ward continuaria sendo o Caçula das Pistas, mas a grande maioria dos comentaristas e narradores esportivos preferem o termo Raio da RFB. 

Nas pistas Raio da RFB, no entanto na internet e nos tribunais, Senhor Carter! Era como se meu namorado tivesse uma vida tripla. Finalmente posso clama-ló assim, passei o livro inteiro me segurando para não usar esse título, agora que o faço é um alívio! 

Observar ele estourar o champanhe e molhar seus companheiros foi simplesmente magnifico, seus lábios formavam uma meia lua voltada para cima, aquele sorriso era o meu tesouro, porto seguro e sinônimo de salvação. E logo que foquei os olhos em Dylan Turner conclui que não estava chateado ou abalado, de fato via Ward como um sucessor e estava disposto a aumentar seu desempenho nem que fosse só um velho piloto a ser ultrapassado. No fundo, se lembrava de si mesmo com a idade do rapaz chegando à um autódromo já dominado por tantos outros experientes.

Por fim, ambos foram dar suas pequenas e breves entrevistas enquanto eu me preparava para os receber. Posteriormente soube que meu namorado contara ao repórter sobre nossa aposta e dedicara seu primeiro lugar à mim, à sua mãe e com toda certeza, ao veterano.

***

Recadinho para os leitores desse livro: Talvez vocês não saibam masss a senhora Liliam foi inspirada em uma das minhas melhores amigas. A verdadeira Liliam não fuma, não bebe e nem é velha, porém julgo que a essência seja a mesma. Essa semana ela fez uma fanart da Cath e do Ward que está logo abaixo desse parágrafo.
Acho que era só isso que eu tinha pra dizer: Muitíssimo Obrigada Liliam Verdadeira hahaha ❤

Acho que era só isso que eu tinha pra dizer: Muitíssimo Obrigada Liliam Verdadeira hahaha ❤

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