Vinte e Quatro

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Finalmente eu podia fechar os olhos sem um pingo de arrependimento. Sei que isso parece um tanto quanto meloso, mas estar ao lado de Ward me agradava e muito. Com um mês desde que nos beijamos a Senhora Liliam também confessou que nossa união trazia felicidade a ela. Quanto ao meu pai, bom, ele ainda não havia demonstrado nenhuma reação, no entanto convidara eu e o piloto novato para um almoço na casa dele. 

Ward Carter não podia estar mais nervoso com esse evento, no dia em que iriamos a casa de Dylan, ele despertou cedo e ficou me encarando enquanto eu dormia. Acordei com os dedos dele brincando com meu cabelo, ainda sonolenta sorri e pronunciei um "bom dia". 

- Podíamos ficar aqui o dia todo - Ele propôs - O que acha? 

Sabia que sua intenção era fugir do encontro com o sogro e justamente por isso neguei o pedido enquanto ele por sua vez fazia biquinho. Não é como se eu não quisesse ficar ali com ele na cama, muito pelo contrário, mas tínhamos prioridades. 

Dessa forma me levantei e peguei um roupão para me cobrir, aliás tenho um pequeno recado para os meus leitores mais pervertidos. Se você não se encaixou nessa descrição pode pular esse parágrafo, porém caso o adjetivo "pervertido" tenha lhe servido como uma luva sugiro que continue a ler. Talvez você, meu caro safadinho esteja esperando uma descrição apimentada, então me sinto na obrigação de te avisar que será decepcionado. Ward com certeza iria aprovar uma narração que o exaltasse, mas ainda resta uma pitada de decência em mim que me força a evitar esse tema publicamente falando. E como se o motivo que apresentei não bastasse, lhes dou uma segunda razão: segredando ao mundo momentos tão íntimos creio que eles perderiam o encanto original. Todavia para não os deixar totalmente no escuro darei um pequeno vislumbre de nossas noites: foi muito bom. 

Agora sim posso prosseguir com a história sem esse peso na consciência. Como ia dizendo, me levantei e cobri meu corpo, em seguida peguei o travesseiro e atirei no piloto para sinalizar que já era hora de nos arrumarmos. Não adiantou muita coisa já que o mesmo rolou para o outro lado e enrolou-se na coberta, assim percebi porque ele sempre se atrasava para nossos compromissos. Ficar deitado sem fazer nada apenas apreciando o calor do cobertor era um dos maiores prazeres dele, o que me irritava bastante. 

Admito que parece coisa de velho se incomodar com pessoas deitadas até tarde sem fazer nada, mas era esse o sentimento que me vinha toda vez que o via rolar para o outro lado preguiçosamente. Ainda mais quando tínhamos algum lugar para ir, logo usei de minhas artimanhas para tirar Ward de sua posição confortável. Me atirei em cima dele fazendo peso, mas notando que o caçula das pistas nem se mexeu ou reclamou comecei a fazer cócegas nele. 

O senhor Carter riu bastante e não ficou satisfeito em somente receber cócegas, virando o jogo. Ele se pôs por cima de mim me deixando presa e vítima dele e só me libertou ao perceber que já estava com dor de tanto gargalhar. 

Após a confusão, finalmente levantamos e fomos nos aprontar para irmos à casa de meu pai. Peguei uma muda de roupa na gaveta que o rapaz separara para mim, pela frequência que estava dormindo lá, já tinha começado a considerar a possibilidade de me mudar para casa dele. 

Era somente uma possibilidade ainda não discutida, não queria me precipitar ou pressionar de mais o novato da RFB. Nenhum pedido de namoro oficial tinha sido proferido, portanto não me sentia pronta para realizar esse tipo de coisa. Imagina que doido você começar a sair com a sua melhor amiga de forma mais romântica que o habitual e do nada ela pede pra morar contigo, nós já nos conhecíamos bem, mas conviver com uma pessoa constantemente é uma prova de fogo e não sei se estaríamos preparados para ela. 

O único fator que eu poderia afirmar com cem porcento de certeza era o estranho nervosismo de Ward. Ele me contou que era uma pressão e tanto fazer parte da família do ídolo dele e por conta de seu exagero para impressionar meu pai, trocou de roupa mais vezes do que posso contar. Por fim escolheu uma jaqueta de couro e uma calça jeans, sem esquecer é claro dos óculos em formato de coração. 

Após tomarmos café da manhã, partimos. Pude ver gotas de suor na testa do piloto antes de tocar a campainha de Dylan. Não sei se ele já tinha estado ali, eu mesma havia feito a última visita muito tempo atrás e estava doida para saber as mudanças que tinham sido feitas no ambiente. Meu pai nunca fica sem uma reforma na casa e diversas vezes tentou fazê-las sozinho, sem a ajuda de um profissional, falhou em todas essas situações sendo obrigado a contratar alguém para arrumar o que ele tinha feito. Não sei a razão para a persistência, já que desistia logo que via a desgraça que estava realizando. 

Quando minha mãe ainda era viva, ele resolveu construir um balcão na cozinha e, como de costume, ignorou os conselhos de seus conhecidos para que chamasse alguém especializado. Dessa forma, prosseguiu com sua obra, mas fez as medições sem a fita métrica, se guiando pelo espaçamento de um passo fez a coluna mais torta que vi em toda minha vida.

Queria descobrir as novidades que ele contaria, talvez um cano que se furou durante a manutenção do banheiro ou coisa que o valha. 

Contudo Ward só conseguia pensar na conversa que teria em particular com meu pai, não que ele fosse bravo, longe disso. Na minha percepção Dylan Turner por simpatizar muito com o rapaz iria dar total apoio para que namorássemos, como o próprio disse anteriormente o caçula das pistas era como um filho para ele. Isso é melhor do que tudo que meu pai já falou sobre Will, de fato nunca se mostrou adepto a gostar do jogador de futebol, nem quando este trouxe da França os quitutes favoritos dele para partilhar conosco. 

Ouvimos os passos barulhentos do dono da casa vindo de seu interior, me lembrando do pouco tempo que morei com ele. Logo no começo do ano me mudei para o Canadá e cheguei a ficar três semanas de janeiro lá, foi um período traumático que provou à nós dois que nunca daria certo nossa convivência. O principal motivo para as brigas recorrentes eram as mulheres que o patriarca levava pra passar a noite com ele, sei que o que Dylan faz ou deixa de fazer diz respeito exclusivamente a ele. Porém não me sentia confortável com as visitas que recebíamos, fora isso a bagunça que algumas dessas moças causavam me dava nos nervos. Por conta disso me mudei assim que fevereiro começou e posso afirmar com unhas e dentes que foi a melhor escolha que fiz. 

Assim que a porta foi aberta meu pai nos olhou dando uma atenção especial para o novato com uma expressão séria. 

- E então quais são as suas intenções com a minha filha? - Ele perguntou logo de cara rispidamente.  

- Bem, ah ... as melhores? - Ward respondeu ainda tenso apertando minha mão. 

- Tô brincando pô, entra ai!  

Rindo, o patriarca nos levou até a parte interior de sua bela e grande casa que chegava a ser maior que a do novato. A primeira coisa que notei foi a mesa preparada para cinco pessoas, levando em consideração que só nós três estávamos lá, estranhei os lugares adicionais, mas mesmo assim não questionei nada. 

O motivo para eu não ter perguntado era claro: não queria atrapalhar a conversa dos dois pilotos que se empolgavam com o meu recente relacionamento como se eu não estivesse ali. Porém tive de intervir quando meu pai soltou a seguinte duvida "Você vai pedir ela em namoro ou vai ficar só enrolando?". 

- Pai! - Protestei incrédula do que ouvi. 

- Não, tudo bem Catherine Turner - O rapaz contrapôs calmo, contrariando seu estado matinal - Era justamente isso que queria tratar com o senhor hoje, claro se ela quiser. 

Em resposta entrelacei meus dedos aos dele e aguardei a decisão de meu pai. 

- Vou lhe propor um bom acordo, no duro - Dylan começou sentando no sofá e pondo no rosto um sorriso maldoso - Te darei uma chance e somente uma. Em nossa próxima corrida você estará acelerando por seu compromisso, se ganhar de mim, dou minha benção. 

- Se considere vencido - Ward aceitou de forma confiante ajustando o óculos. 

Mas ai me dei conta de um detalhe importante, o próximo GP não era qualquer corrida. Se tratava do Circuito de Aintree nos Estados Unidos, o local que Dylan Turner não perdia há dez anos consecutivos e com certeza se agarraria ao seu legado no último ano de pistas. Além de que meu possível namorado nunca conseguira ultrapassar seu companheiro de equipe, não valendo pelo menos.

- Tem certeza disso? - Questionei Ward o lembrando desse fato importante que mudava tudo. 

- Que isso, tá duvidando de mim? - Ele respondeu beijando minha bochecha - Eu já ganhei um anjo na minha vida, perto disso essa corrida vai ser moleza. 

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