Capítulo 19

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♥ Fred ♥

A placa com o nome do meu pai me desejou bom dia, nenhuma surpresa aí. A minha preocupação era a reviravolta no estômago, que não dava mais para fingir ser culpa dos ovos mexidos da Berê.

Não.

Era um lembrete da enorme chance que aquela segunda-feira podia estar prestes a virar uma gigantesca pilha de merda.

No caso, no topo da pequena pilha de merda que já estava sendo.

Para começar, minha noite tinha sido péssima, virando e revirando nos lençóis, queimando pela Mariana. Com a cabeça cheia de imagens do corpo nu esparramado no meu tapete, e do meio sorriso enfeitando o rosto satisfeito, quem disse que o sono chegava?

Saber que era uma questão de passos para aliviar aquele tesão louco, não ajudou em nada. Mas a minha insinuação de voltar depois que a Bia e o Lourenço tivessem ido dormir, foi recebida com uma expressão de horror, como se transar dentro de um quarto com a porta trancada na mesma casa onde se encontravam nossos respectivos irmãos, fosse pior que apertar o botão que explodia o mundo.

Nada de visitas noturnas, então. O jeito foi tomar um banho gelado e colocar o ar condicionado no último grau para conseguir pregar o olho por algumas horas que pareceram minutos na hora que o alarme do celular tocou.

Segundo capítulo da tortura: a mesa do café da manhã. Foi duro (pode colocar a sua mente suja pra funcionar, é isso mesmo que eu quero dizer), fingir que estava tudo normal, quando meu único pensamento era de como o zíper do vestido branco cheio de florzinhas amarelas que a Mariana usava, não me daria trabalho nenhum. E será que ela estava sem sutiã de novo?

Sem sacanagem, lidar com uma ereção, logo cedo, sentado do lado da minha irmãzinha, nunca ia entrar na minha lista de melhores maneiras de começar o dia.

Mas tudo aquilo tinha sido brincadeira de criança perto do que me esperava dentro da clínica.

Ou melhor, quem...

Quando a Mariana interrompeu minha confissão sobre o que tinha rolado depois da festa, o alívio foi imediato. O melhor que podia acontecer, era as duas situações ficarem cada uma no seu quadrado. Até porque a transa com a Naiara foi uma gota de chuva insignificante perto do temporal de verão que era a Mariana. E como todo temporal de verão, a Mariana ia passar rápido. Quatro dias e ela ia embora. Daí a necessidade de paz e tranquilidade para focar minha atenção no momento que eu estava vivendo com ela.

Paz e tranquilidade que iriam esgoto abaixo ( e claro que o esgoto ia estar entupido e o monte de lixo podre ia se espalhar para todo lado), se a Naiara resolvesse quebrar a promessa que tinha me feito e transformasse o nosso ambiente de trabalho, e a minha vida, na tal gigantesca pilha de merda.

Por isso, eu não chamei ninguém da clínica, nem contratei meu usual serviço de entrega, para ir em casa buscar os documentos que eu tinha que devolver a ela. Eu também não cogitei largar as caixas na recepção para uma das secretárias deixar na contabilidade por mim.

Uma passada rápida no meu escritório para deixar a pasta com meu notebook foi o único desvio que eu me permiti. Melhor encarar a Naiara logo e acabar com a porra daquele suspense de uma vez. Felizmente, o meio expediente de véspera de Natal tinha me feito estender a folga da Milena. Do jeito que eu estava por um fio, tudo que eu não precisava era das piadinhas maliciosas da minha secretária.

Calma! Não vai fuder com tudo! Eu ia me repetindo dentro da cabeça com cada passo pelo corredor que parecia ter uns dez mil quilômetros que passaram voando e, muito antes de me sentir pronto, eu já estava parado na porta da sala da Naiara.

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