Capítulo 16

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♥ Mariana ♥

Ela tinha sido atropelada, só podia ser.

A Mariana se virou na cama, o corpo dolorido, a cabeça latejando com pontadas agudas, e abriu os olhos devagar. Ao contrário do que esperava, ela não estava com um soro espetado no braço, nem cercada de máquinas de hospital. Ela piscou algumas vezes tentando se situar.

O quarto da Alícia!

A noite anterior foi voltando, aos tropeções. O bar na Lapa. A Naiara se jogando em cima do Fred. O copo com um líquido amarelado, imagem que fez seu estômago se revirar e ela se sentar na cama, se preparando para correr até o banheiro, mas a náusea foi passando. Ao contrário da vergonha, que foi crescendo e crescendo.

Bêbada! Ela tinha ficado bêbada!

Ela nunca bebia além da conta. Mas ela não só tinha bebido, como tinha dado vexame. Caído no colo de um estranho e gritado com o Fred no meio de um monte de gente! Seu estômago deu outra reviravolta quando ela se lembrou da volta para casa, sua cabeça apoiada no ombro do Lourenço no banco de trás, a Biatriz dirigindo, o lugar do carona, vazio.

Claro que o Fred tinha ficado no bar! Depois de todas as mentiras que ela tinha cuspido na cara dele como se fossem verdades, era demais esperar que ele ainda fosse se importar com ela.

— Droga! — a Mariana murmurou, não só porque doeu imaginar o que o Fred deve ter aprontado depois da briga deles, mas ao olhar para baixo e se ver de lingerie, ela também se lembrou que tinha ficado tão mal, que precisou da ajuda do irmão para se deitar.

Não, o problema não foi o Lourenço ter visto seu sutiã de renda e sua calcinha fio dental (embora ela sempre fosse pensar naquilo como sendo um dos momentos mais humilhantes da sua vida), o pior era que ele ia querer explicações. Explicações que ela ainda não queria, nem estava pronta, para dar.

— Sua burra! — ela se xingou, cobrindo o rosto com as duas mãos.

A Mariana se permitiu ficar ali, por alguns minutos, afogada em pena de si mesma, mas o que estava feito, estava feito e, puxando o ar com força, ela ficou de pé. O dia estava só começando e ainda tinha muita coisa pior para enfrentar.

Depois de dois analgésicos engolidos com água da pia (outro ponto baixo para acrescentar naquela experiência infeliz), um banho frio e uma maquiagem bem-feita, ela se deu por satisfeita com a imagem refletida no espelho. Por dentro, ela continuava um lixo, mas quem olhasse não ia perceber. E se ela tivesse sorte, ninguém teria se levantado e ela podia escapar de casa e adiar por mais um tempo a vergonha de encarar os outros.

Mas a sorte não estava do seu lado. Ao descer o último degrau da escada, ela ouviu vozes na cozinha.

— Não que seja da sua conta, mas eu dormi e acordei sozinho na minha cama. Que nem você. — A voz do Fred fez um fio de gelo descer pela sua espinha e seus pés se congelarem no lugar, mas a apreensão de encontrar com ele logo cedo, foi substituída pelo alívio que aquela declaração causou. Não que ela já não tivesse perdido o direito de se sentir aliviada há muito tempo, mas se tinha um fato que os últimos dias tinham provado, era que ela não tinha controle sobre os seus sentimentos, seu corpo, absolutamente nada, quando o assunto era aquele homem que parecia ter se entranhado por baixo da sua pele. Ele continuou falando. — E é só o que eu vou dizer. A Naiara é uma moça linda e superbacana e em outras circunstâncias, podia até rolar algo mais, mas eu acabei de me divorciar.

— Tá certo. Eu vou parar de me meter nos seus casos. É só vontade da irmã chata de te ver feliz — a Biatriz replicou.

— Você não é chata. — Foi a resposta do Fred, e a Mariana sentiu o sorriso na voz dele. — Não muito. E eu não tô com pressa. Quando a gente convive de perto com um casamento como o do papai e da mamãe, é impossível não querer a mesma coisa. Eu errei da primeira vez. Eu não quero errar de novo.

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