Capítulo 10

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♥ Mariana ♥

Estresse, problemas, dificuldades. Nada disso costumava enfraquecer a concentração da Mariana, pelo contrário. Aqueles eram os momentos em que ela mergulhava fundo no trabalho, ou em qualquer outra distração, mas naquela noite, estava difícil.

Também, não era sempre que ela recebia a proposta de realizar seu maior sonho.

Ou melhor, nunca.

Quantas vezes, no início de um relacionamento, ela se pegou pensando se aquele era o futuro pai dos seus filhos? E sua chance mais concreta tinha aparecido do nada, no meio da conversa mais inesperada da sua vida!

Talvez tivesse sido precipitado, recusar de cara? Uma questão daquela magnitude merecia algumas horas de análise cuidadosa, mas, aí, ela se lembrava do Lourenço e da Biatriz e da Alícia, e se repetia que tinha feito a coisa certa. Sem contar que seria mais fácil explicar para uma criança que ela não tinha pai do que administrar saudades e sentimentos ambíguos de ter um pai ausente, ainda que só por culpa da distância geográfica. Era frieza pensar daquela maneira? Podia ser, mas era preciso. Se ela abandonasse a razão, se os sentimentos tomassem a frente, o risco de abrir a boca, a qualquer minuto, e dizer ao Fred que tinha mudado de ideia era grande. E aquilo não podia acontecer.

Depois de assegurar a ele que não tinha desistido de ajudá-lo, a caminhada até a casa dele foi feita em silêncio. A tensão continuou depois que eles retomaram o mesmo ritmo de trabalho da noite anterior, e a culpa era dela mesma.

Ela estava com o pé atrás. A qualquer momento o Fred ia se comportar como um cafajeste, se aproveitar dos dois estarem sozinhos e voltar a insistir naquele assunto absurdo de coisas que aconteciam na hora que tinham que acontecer. O ego dos homens era uma coisinha frágil, que se machucava à toa, como, por exemplo, ao serem rejeitados. Ainda mais se a ofensa partia do "sexo inferior". Ela não se sentia ameaçada fisicamente, ele não era aquele tipo de homem, mas alguma coisa ele ia tentar. Era normal. Era esperado. Inevitável.

Duas horas de trabalho sem nenhuma palavra, ou gesto, que não fosse de total respeito da parte do Fred, e seu pulso continuava a bater mais acelerado que o normal. Ele devia estar pensando que suas confissões na noite anterior foram facilitadas pelo álcool e estava esperando eles terminarem para ir buscar a outra garrafa de vinho que ela apostava que ele tinha colocado para gelar.

Depois de comparar a nota fiscal na sua mão com a planilha no notebook na sua frente e confirmar que estava tudo certo, ela colocou de cabeça para baixo na pilha de 'conferidos'. Apesar da sua distração, eles tinham feito progresso considerável. Mais meia hora e eles terminavam, mas a tensão empilhada por cima de tudo que tinha acontecido naquele dia, começou a cobrar seu preço, em forma de uma dorzinha de cabeça querendo despontar atrás dos olhos.

— Eu sei que a gente está quase acabando, mas você se importa de parar? — ela pediu arrego, massageando a testa, entre as sobrancelhas.

— Claro que não! Já está tarde. E você nem precisa se preocupar com esse pouquinho que sobrou. Amanhã, ou domingo, eu mesmo termino.

— Não, eu te ajudo. É só que quem está cansada hoje, sou eu.

— Você devia ter falado antes. Eu vou te levar. — Ele largou os papéis em cima da mesa, e se levantou, a olhando preocupado. — Você quer ir de carro?

— Não precisa me levar.

— Eu faço questão — ele falou num tom de voz que não admitia discussão. — Espera que eu vou pegar a chave.

— A gente vai andando. É tão perto que não compensa o trabalho de tirar e pôr o carro na garagem.

Depois de recolocarem os enfeites da mesinha por cima dos papéis, eles saíram.

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