Capítulo 18

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♥ Mariana ♥

Ele ia dizer não.

A expressão fechada do Fred só podia significar rejeição, e a Mariana se preparou para receber a negativa de cabeça erguida.

Ele tinha todos os motivos para não confiar na sinceridade da sua súbita mudança de ideia. Motivos que ela mesma tinha dado. E como ela tinha se repetido mil vezes no caminho do shopping até ali, o pior que ia acontecer era precisar voltar aos velhos planos de adoção ou procurar um doador anônimo e fazer a fertilização artificial, mas ela ia se arrepender pelo resto da vida se não fizesse o esforço de uma única tentativa.

O que não tornaria a rejeição mais fácil de engolir.

Criar a regra sobre o prazo foi a maneira que ela achou de se resguardar. Estampar o envolvimento com o Fred com uma data de validade, ia evitar que ela criasse expectativas ou construísse planos em cima da frágil base do impossível. Pelo menos, era o que ela ia usar de todas as suas forças para fazer. Ele foi claro como o céu num dia de verão quando avisou que a proposta não incluía romance e, se aquilo podia ser normal e fácil para algumas pessoas, não era o seu caso. Sexo e sentimento eram uma dupla inseparável no seu mundo, um sempre levando ao outro (ou vice-versa), e se tudo o que tinha acontecido entre eles servia de base, uma carapaça forjada com o metal mais resistente do universo em volta do seu pobre coração, ainda era pouco.

— Tem certeza do que você está falando? — O tom de voz dele saiu tão sério quanto o rosto. — Se você mudar de ideia no meio do caminho, pode ser tarde, e aborto, Mariana? Fora de cogitação.

— Nunca! — Ela se encolheu, abraçando a própria cintura como se dentro da sua barriga já tivesse um neném precisando de proteção. E tentou não levar como ofensa o fato de ele achar que ela seria capaz de matar um serzinho que seria o maior, o principal, o mais importante acontecimento da sua vida. Depois dos últimos dias, ela não podia culpar o Fred por precisar de todas as garantias que ela poderia dar. E mais algumas. — Eu prometo que eu pensei bem. Se tudo o que acontecer entre a gente, acontecer com respeito, com clareza, com... carinho, eu não vou ter motivos pra mudar de ideia.

Ele soltou o ar pela boca num longo suspiro

— Tem uma coisa que eu preciso te contar... — ele disse e dobrou a camiseta no colo dele devagar, colocou de volta dentro do saquinho de presente a passo de tartaruga e levou dois anos para largar o embrulho em cima da mesinha na frente deles. E a Mariana com as unhas cravadas nas palmas das mãos de agonia porque não ia ser nada bom. Era óbvio pela maneira que ele olhava para todos os lugares, menos para ela. — Sobre ontem à noite. Depois que você foi embora. Eu e a...

Antes que ele dissesse mais uma palavra, a Mariana levantou a mão e colocou dois dedos sobre os lábios dele.

— Eu não quero saber — ela conseguiu falar por cima do bolo que apareceu do nada na garganta.

O Fred envolveu e afastou sua mão com um toque tão suave, que se não fosse pelo calor da pele dele esquentando a sua, a Mariana nem teria sentido.

— Você pediu clareza... — ele a olhou com reprovação, como se ela já estivesse quebrando as regras antes mesmo de eles começarem.

— A partir de agora. O que aconteceu antes, não importa. Clareza e respeito, a partir de agora — ela reforçou, com firmeza. Seu direito de exigir algo do Fred era zero, e o que ela ia ganhar em saber o que tinha acontecido entre ele e a Naiara, ou com qualquer outra, como ela mesma tinha gritado aos quatro ventos na noite anterior?

— Se é o que você quer, tudo bem, mas você esqueceu um detalhe... — Ele se puxou para mais perto dela no sofá e deixou uma trilha de calor no seu rosto com as costas da mão. — O carinho. Eu imagino que esse papo sobre período fértil e prazo quer dizer que você está optando pelo método natural?

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