Capítulo 28

104 29 15
                                    

♥ Mariana ♥

Fofoqueira, a Mariana nunca foi, pelo contrário. Ela preferia pensar que nas ocasiões em que ouviu mais que devia, foi legitimamente por acidente. Mas tinha sido muito, muito difícil vencer o impulso de se esconder no topo da escada e ficar escutando a conversa do Fred com a Naiara.

O que fez o bom senso prevalecer foi lembrar a insistência do Fred para ela receber a Naiara junto dele. Se ele já tinha aquela confiança inabalável no relacionamento tão novo e frágil, ela não tinha motivos para não confiar também. Por pura força de vontade, ela continuou colocando um pé na frente do outro até chegar ao quarto dele.

Depois de acender o abajur, ela tirou a necessaire da bolsa de viagem que ela tinha deixado em cima da cama dele mais cedo, com toda a intenção de ir no banheiro esvaziá-la. Colocar sua escova de dentes perto da dele. Espalhar seus cremes pelo balcão. Desde a hora em que tinha arrumado as coisas para vir passar o fim de semana, ela não parava de se imaginar fazendo justamente aquilo e, podia parecer ridículo colocar tanto peso em gestos pequenos e banais, mas não tinha como não pensar que aquele era um marco importante: o começo do processo de misturar a sua vida com a dele. E aquilo a transformava numa taça de champanhe borbulhante de sensações que ela nunca tinha sentido na vida.

Mas alguma coisa a segurou. E ela enterrou de volta a necessaire no meio das suas roupas e fechou o zíper da bolsa.

Melhor esperar.

Esperar exatamente pelo que, ela não sabia, mas, depois de ter passado por tantos fracassos amorosos, viver com o pé atrás era seu sistema operacional padrão.

Ela se xingou por não ter lembrado de passar na cozinha e pegar o celular em cima da mesa, antes de subir. Ela podia ter se distraído ligando para a Alexa e escutando as novidades da feira de noivas que a irmã estava visitando em São Paulo. Para não enlouquecer tentando adivinhar o que estava acontecendo lá embaixo, a Mariana resolveu dar sua atenção ao ambiente a sua volta.

Das muitas horas que ela tinha passado com o Fred ali, nenhum minuto, nenhum olhar, nenhuma respiração, tinham sido perdidos em nada que não fosse ele. Uma onda de calor a envolveu só de lembrar do fogo que o homem era capaz de acender com os olhos, da competência que ele tinha com as mãos e a boca e a língua e... Realmente não tinha como colocar a responsabilidade em partes quando era o todo que compunha a perfeição em pessoa.

Ela não queria perder aquilo. Seu peito se apertou e ela fechou os olhos, fazendo uma prece silenciosa a qualquer um dos deuses, deusas ou forças invisíveis que governavam à vida de todos nós, pobres mortais, pedindo que, por favor, por favor, não a deixassem perder aquilo!

Abrindo os olhos, ela se focou nos objetos da estante na sua frente, mas com exceção dos livros de nomes complicados e desenhos de células e do corpo humano, ela não conseguia ver o Fred naquele quarto. Talvez, o adolescente tinha evoluído num homem diferente, mas o que ele disse, sobre a mãe ter cuidado da decoração, fazia a Mariana desconfiar que os enfeites genéricos, os pôsteres de carros e motos antigos e o par de abajures imitando microscópios, tinham mais a ver com o gosto particular da dona Heloísa que com as preferências do filho.

Aliás, a casa toda era assim. Bem cuidada e arrumada, mas sem vida. Sem o toque pessoal do homem que morava lá. Se a Mariana entendesse alguma coisa de psicologia, podia tentar traçar um paralelo entre a falta de entusiasmo com a casa e os sentimentos dele sobre família e lar. Ou talvez, ela estivesse procurando sintomas de uma doença que não existia e ele era só muito ocupado e não dava a mínima se a parede tinha quadro ou não.

Sorte de quem casasse com ele. Ia ter carta branca e fazer o que quisesse da casa.

Daquela vez, o aperto no peito foi acompanhado pela garganta se fechando.

Cuidado com o que Deseja...Onde histórias criam vida. Descubra agora