♥ Mariana ♥
Existem Natais felizes. Outros, nem tanto. A Mariana já tinha vivido os dois tipos, e todas as variações entre eles. Apesar do susto com a pressão alta do tio, terminar a noite anterior abraçadinha com o Fred colocou aquele Natal entre os cinco melhores da sua vida.
Tudo bem... o melhor.
Mas todo mundo sabe o que acontece com quem conta com o ovo antes da galinha botar...
— Dá um beijo na tia Mariana? Ela está indo embora — a Biatriz pediu às filhas, e mesmo que o sorriso dela fosse totalmente falso, a Mariana sabia que não era por sua causa e ficou grata pelo esforço. A conversa que as duas tinham acabado de ter foi difícil, e era bom ver que não sobraram mágoas. De nenhum dos lados.
A Mariana se abaixou e pegou a Amanda num abraço apertado. Ela não se sentia menos tia da menina cativante e doce por falta de um laço de sangue entre elas, e seu coração doeu de saudade antecipada. E acabou de se quebrar quando a Amanda voltou para o lado do Fred, e a Alícia continuou onde estava, escondida atrás das pernas do tio, os olhos cheios de ressentimento e lágrimas.
— Alícia? — a Biatriz incentivou, mas a menina não se mexeu.
— Não tem problema. — A Mariana levantou e expressou sua compreensão com um toque no ombro da Biatriz. — Outro dia. Eu vou ter que voltar, você ainda não me ensinou a fazer aquela trança, lembra?
Era quase impossível acreditar que fazia menos de uma semana que ela e o Lourenço chegaram, borbulhando de planos e esperanças. Aconteceu tanta coisa que mais parecia que séculos tinham se arrastado desde a hora que a Alícia assustou todo mundo com o comentário de como o cabelo dela era igual ao da Mariana e a distração que ela tinha improvisado, elogiando a trança da menina. Naquele minuto, ela poderia ter imaginado uma despedida difícil. Era esperado que ela e o irmão se apegassem à Alícia, mas a Mariana nunca, nunca, teria sido capaz de antecipar um momento dolorido como o que ela estava passando.
Seu desconsolo estava refletido no rosto da Biatriz quando ela lhe agradeceu com o olhar e tentou ajudar o irmão com o monte de coisas que ele estava carregando.
— Eu vou com você até o carro. — O Fred recusou e se virou para a Mariana. — Só um minutinho, eu já volto.
Vendo a Biatriz segurar uma filha em cada mão, o vestido amassado, os olhos vermelhos e inchados, mas de cabeça erguida, ela entendeu porque dez anos de separação não tinham feito o Lourenço esquecer a ex-namorada. Ela era uma mulher excepcional. Demonstrando clareza em não misturar o que quer que estivesse acontecendo entre ela e o Lourenço com o seu papel de tia. Indo enfrentar sozinha o ex-marido e as consequências de uma confusão da qual ela não tinha responsabilidade nenhuma.
Quem olhasse a sala, relativamente arrumada, da casa da Biatriz, não ia suspeitar do furacão que tinha passado por ali, naquela manhã. Um furacão chamado Nicole que, em dois segundos, derrubou mentiras e boas intenções, deixando vários feridos. Entre os mais atingidos, uma garotinha inocente que não merecia ter descoberto a verdade sobre o pai dela de uma maneira tão leviana.
"Você nem precisa me dizer que essa é a sua filha, Lôro. Você é a cara do seu pai, Alícia!"
Sem clima para almoço de Natal, todo mundo tinha entrado no carro e voltado para Copacabana com o rabinho entre as pernas e várias travessas de comida, por insistência do Fred, embora a Mariana duvidasse que alguém tivesse apetite. Devia estar todo mundo como ela, o estômago atado com um nó apertado, passando e repassando os acontecimentos da manhã, se perguntando o que poderia ter feito para evitar a catástrofe.
A Mariana tinha enxergado alguns sinais. Não era segredo que o relacionamento casual da filha do primo distante da tia Marinês com o seu irmão era conveniente para ele e insuficiente para ela. Ela também esperou barraco na hora que a Nicole desceu do táxi, aparecendo na casa da Biatriz sem convite, cuspindo um monte de mentiras sobre ser noiva do Lourenço — até parece! O Lourenço podia ser mulherengo, mas idiota, ele não era.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cuidado com o que Deseja...
RomanceFred sempre se considerou um cara privilegiado. Sua vida podia não ser perfeita, mas chegava bem perto. Até que tudo vira de cabeça para baixo e ele passa a ser atormentado por questionamentos sobre o sentido da vida e o futuro. Para piorar, sua esp...