Capítulo 11

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♥ Fred ♥

— Você lembra a última vez que você gozou na cueca?

Outra pessoa mais fraca ia, no mínimo, engasgar com a pergunta saída do nada, mas o Ângelo, acostumado com as minhas esquisitices, continuou bebendo o chope como se aquele fosse o assunto mais normal do mundo.

Nossa amizade começou na época do coração no para-brisa. Ele, também com pouco tempo de clínica, foi o único que tentou me defender. Eu desconfio que rolou um crush da parte dele (não confirmado, porque a gente não toca nesse assunto). E ele logo viu que a única coisa que podia acontecer entre a gente, era amizade. Daquelas onde não existia assunto proibido.

Já as duas senhoras sentadas na mesa do nosso lado, me olharam torto. Eu dei um sorriso e um aceno com a cabeça que eu esperava serem desculpas suficientes. Elas voltaram a conversar, fingindo que eu não existia, mas, sério, para me ouvir por cima do burburinho do restaurante, elas tinham que estar com as antenas ligadas.

Eu também tomei um gole do meu chope gelado, derretendo o restinho da tensão da manhã. O meu sábado tinha começado com um telefonema da clínica, me arrancando da cama às cinco da madrugada. O Ângelo tinha me assistido na cirurgia de emergência que durou quase a manhã inteira — uma reconstrução de intestino num rapaz que caiu de moto.

A primeira coisa que eu fiz, depois de avisar aos familiares e amigos do rapaz que ele estava em estado estável e o prognóstico de recuperação era excelente, foi voltar a me preocupar com a minha família.

Quebrar uma das minhas promessas, só num caso de vida ou morte, como o daquela manhã. A Bia era médica, ela entendia os imprevistos, mas eu só relaxei de vez depois de ligar para ela e escutar a garantia de que tinha corrido tudo bem com as meninas, que depois ela me contava os detalhes e que ela estava com o Lourenço em Copacabana, visitando um amigo dele. No finzinho da ligação, como se fosse uma informação das mais irrelevantes, ela me disse que a Mariana também estava passeando, visitando uma amiga, e eu estava livre para ir almoçar onde eu quisesse.

Não era verdade.

Se eu pudesse escolher onde eu queria almoçar, ia ser na casa da amiga da Mariana, para poder ficar perto dela. Como não era possível, o jeito foi aceitar o convite do meu amigo para tomar um chope. E eu estava mesmo precisando conversar sobre aquela bagunça toda com alguém.

— Mais um? — o Ângelo perguntou, colocando a tulipa vazia na mesa, sem responder a minha pergunta.

— Pode ser. — Eu terminei com o meu, enquanto ele acenava e levantava dois dedos para o garçom.

— Agora, me conta. — Ele apoiou os cotovelos na mesa, se inclinando na minha direção. — Quem fez você gozar na cueca?

— Quem disse que eu gozei na cueca?

A levantada de sobrancelhas dele me colocou no meu lugar direitinho.

— Tudo bem — eu admiti. — Você lembra que eu te falei do ex-namorado da minha irmã que está ficando na casa dela?

— Quem diria, Fred. — O Ângelo se recostou na cadeira, sorrindo e cruzando os braços. — E eu aqui achando que você nunca ia sair do armário! Mas esse babado de se envolver com ex de irmã é meio pesado, né não?

Foi a minha vez de levantar as sobrancelhas. E aproveitei e rolei os olhos. No caso de não ter ficado claro que eu estava sendo irônico.

— Então — eu segui, sem dar bola para as implicâncias do Ângelo. — Eu também te falei da irmã dele, que estava vindo junto.

— Tô lembrado — ele disse, o lábio repuxado de lado. — Se eu não me engano você usou a palavra inimiga pra se referir a ela. Umas trezentas vezes.

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