Capítulo 1

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♥ Fred ♥

— Me diz de novo, por que é que eu concordei com isso?

Minha irmã não gostou nada, nada, da pergunta, mas aguentei firme a mirado olhar sanguinário que ela virou na minha direção. Eu não perguntei por causa de um súbito ataque de amnésia que me fez esquecer os argumentos que ela tinha me repetido umas mil vezes, mas ela estava uma pilha de nervos com a chegada das visitas a qualquer momento. Talvez, relembrar tudo, a deixasse mais segura na decisão que ela mesma tinha tomado sozinha. E apesar de não estar muito convencido que aquilo não ia acabar em merda, no fundo, eu estava orgulhoso da Bia. Tinha tempo que ela não fazia alguma coisa que ela achava certo, sem pedir a opinião de ninguém e sem pensar nas consequências.

E ela não precisava se preocupar com as consequências. Aquele era o meu papel. Ela e as minhas sobrinhas eram tudo na minha vida. Se aquele ex-namorado dela pensava que ia chegar depois de dez anos e fazer gato e sapato da minha irmãzinha, ele podia pensar de novo. Ele só tinha conseguido uma vez porque a própria Bia tinha escondido um monte de coisas importantes da gente. O que ela tinha prometido não fazer mais.

— Fred, eu não sou burra, nem leviana — ela respondeu depois de respirar fundo, numa voz mais calma que eu esperava. — Não é porque eu estou dando um voto de confiança pro Lourenço com a Alícia, que eu vou acreditar em tudo que ele diz.

Muito menos eu. Por isso que eu tinha ligado para o doutor Lemmer, advogado dela, e ficado um pouco mais tranquilo depois de saber que ele tinha pedido a um amigo que morava em Porto Alegre para sondar sobre a vida do Lourenço lá. O cara não tinha descoberto nada que pudesse servir de justificativa para eu barrar a visita do ex-namorado dela, mas burrice também não era um dos meus defeitos. Quem fazia coisa errada não deixava prova dando sopa, e eu ia ficar de olho no ex-presidiário.

— O doutor Lemmer achou uma boa ideia os dois se conhecerem, mesmo se a gente ainda não quer contar a verdade pra Alícia. — A Bia deu uma olhadinha para a porta da sala de televisão, onde as duas filhas estavam distraídas na completa ignorância da importância das visitas na vida de uma delas. Ela continuou quase sussurrando. — O Lourenço está vindo porque eu pedi ajuda a ele. Sem contar que ele tem direitos. Se o Diego ganhar o processo de guarda, o Lourenço vai ter mais chance de conseguir o direito de visitação na justiça, se ele não for um estranho completo para a Alícia.

— O cafajeste do seu ex-marido não vai ganhar a guarda das meninas. — Eu não cansava de repetir aquilo para ela. Uma hora ela ia acabar acreditando, mas o assunto ali, era outro. — E o doutor Lemmer também achou melhor o Lourenço ficar aqui na sua casa?

— Não, Fred. A ideia foi minha. — A Bia soltou um suspiro como se estivesse no fim da paciência. — Eles só têm uma semana. Pra que ficar perdendo tempo indo e voltando de Copacabana, todo dia?

— Até aí, eu entendo. — Eu imitei o suspiro dela. Eu não estava nem aí se a paciência dela estava acabando, e continuei com o interrogatório. Era para o bem dela mesma. — Concordar é outra coisa, mas eu aceitei que não tem como você mudar de ideia. Agora, me explica outra vez, por que a irmã dele está vindo com ele? Pelo que eu entendi vocês não se dão muito bem?

A expressão de quem comeu e não gostou se acentuou no rosto da Bia. Eu conhecia a história do único encontro entre as duas, no tempo em que ela e o Lourenço namoravam, quando a Mariana tratou a minha irmãzinha super mal. Sem motivos. Quem podia não gostar da Bia? Ela era simpática, gentil e tinha um coração de ouro, e eu não estou falando porque ela é minha irmã. Eu conhecia poucas pessoas que não gostavam dela. A única explicação era que a Mariana não tinha aprovado o namoro do Lourenço com ela.

Ótimo, pelo menos uma coisa em comum entre nós.

— Sabe aquela história da galinha que gosta de ficar com os pintinhos protegidos debaixo da asa? — A Bia bateu a palma da mão na testa.— Claro que você sabe. É a sua especialidade.

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