Capítulo 24

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♥ Fred ♥

Caixa postal. Que saco!

A Bia tinha prometido ligar assim que a audiência acabasse.

Respirei fundo. Atrasos aconteciam. Juízes tinham a mania ridícula de querer analisar cada detalhezinho dos processos. Advogados adoravam um blá-blá-blá. Normal.

Antes que eu visse, já estava digitando outra mensagem:

Ei? Tô aqui roendo as unhas. Manda notícias!!!!!

Mensagem enviada, mas não recebida. Como as vinte outras que eu tinha mandado. Ela ainda estava com o celular desligado, mas o advogado da Bia tinha garantido que a audiência não passava de uma hora. Podia ter sido uma estimativa bola fora do doutor Lemmer, mas uma hora a mais de atraso? Era muita coisa.

A não ser que...

Era uma possibilidade que eu estava tentando ignorar, mas que se provava mais plausível com cada minuto que passava. E se a audiência tivesse acabado e a Bia, perdido? E se ela tivesse saído pela rua, desesperada e sozinha e...

Merda! Merda! Merda!

Eu fui um imbecil de ter deixado ela ir sozinha. Eu devia ter me fingido de surdo quando ela disse que eu ajudava mais ficando em casa com as meninas, que não tinham a menor ideia que a vida delas podia estar prestes a mudar. Se a minha irmã perdesse, se o Diego ficasse com a guarda delas, eu ia passar a ver aquelas pestinhas de quinze em quinze dias. Só de pensar na possibilidade, eu tinha vontade de colocar as duas dentro do carro e sumir. E bem-feito se Bia ia ficar sozinha. Castigo por ter achado que eu estava brincando quando eu sugeri que a gente fizesse exatamente aquilo, na noite anterior.

Tentei ligar, de novo. Caixa postal.

— Puta... — Joguei o telefone na poltrona perto do sofá onde eu estava com uma sobrinha de cada lado, concentradas na televisão. — ...isgrila!

— Tio Fred... — A Amanda me virou os olhinhos verdes decepcionados. Ela era a xerox do pai, mas aos cinco anos já tinha aprendido a copiar, direitinho, a expressão de reprovação da mãe.

— O quê? — Levantei as sobrancelhas. — Eu falei putisgrila. Putisgrila não é palavrão.

— Você falou outra coisa. Não foi, Alícia?

A Alícia desviou a atenção da TV por dois segundos, o suficiente para nos desprezar com um olhar de quem diz "eu tenho mais o que fazer da vida que me meter em conversa inútil", antes de voltar a olhar para frente.

— Tio Fred? — A Amanda ficou de pé no sofá com um suspiro. — A mamãe vai demorar?

Pergunta do século! Uma que eu daria um braço e uma perna para saber responder. Olhei meu telefone caído com a tela para baixo no couro branco da poltrona, mas por que fazer outra ligação que ia dar em nada? Eu tinha um problema mais importante no momento. Nunca, no posto de babá das meninas, algumas vezes até por mais tempo que naquela manhã, eu tinha escutado aquela pergunta. Se a pequenininha estava preocupada e ansiosa, era por que estava absorvendo o meu estado de espírito. E eu não ia dar bobeira com o meu título de tio exemplar.

— Quem quer saber da feia da sua mãe?

A Amanda colocou as mãos na cintura, se inclinando para frente, e eu podia ter me intimidado se ela não tivesse um metro de altura e parecesse um anjinho loiro dando piti.

— Minha mãe não é feia!

— Claro que não! Sua mãe é horrorosa. — Eu a derrubei para trás no sofá. — O único bonito dessa casa, sou eu.

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