Capítulo 26

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♥ Fred ♥

O ser humano é uma raça estranha. Cheio de superstições e manias. E quem sou eu para criticar, né? Acreditando que o nosso caos diário tinha o dedo do destino. Mas tinha uma esquisitice que eu sempre achei mais ridícula que as outras: quando alguém diz que precisa se beliscar para ter certeza que não estava sonhando. Fala sério! Se você estivesse sonhando e se beliscasse no sonho, ia doer no sonho e você não ia saber a diferença, ia?

Mas, naquele momento, entrando na minha casa com a mão da Mariana agarrada na minha, eu deixava oficialmente para trás o direito de rir dos dorminhocos masoquistas, com duas ou três marcas de beliscão ardendo na minha perna.

Não.

Minha mãe me ensinou que mentir é feio.

A verdade era que eu tinha perdido a conta de quantos beliscões eu tinha me dado no caminho da área de lazer até na minha casa e tinha uma chance muito grande de ficar com um roxo na altura do bolso esquerdo da calça, porque eu também não era mané de deixar a Mariana perceber o que eu estava fazendo.

E ainda estava difícil acreditar que eu não estava sonhando e ela estava ali. Que ela tinha aceitado as minhas desculpas (ela não disse explicitamente, mas ela estava ali comigo, porra!). E o melhor de tudo, o que me parecia mais impossível, que ela me amava de volta.

Que diferença uma hora e um pouco de coragem podiam fazer na vida de uma pessoa. Eu tinha acordado um Fred infeliz e desesperançado, e estava ali, rindo igual ao bobo da corte.

Sem soltar a mão da Mariana, esperei ela largar a bolsa em cima do aparador antes de envolvê-la pela cintura com meu braço livre. Ela levantou o rosto de bochechas avermelhadas e testa cheia de gotículas de suor. O peito colado no meu, subia e descia com a respiração pesada e passei a língua pelos lábios, doido para começar a cumprir a promessa que eu tinha feito há dois minutos.

— Eu preciso de um copo de água — ela arfou, quase pesarosa de fazer o pedido.

Com uma gargalhada, soltei a Mariana e a puxei para a cozinha.

— Claro que você precisa. Outra coisa que você precisa, é melhorar a sua capacidade aeróbica antes de desafiar alguém a correr.

— Correr é uma coisa, Frederico. Encarnar o Usain Bolt, é outra.

Andamos até o armário, peguei um copo e depois fomos até o filtro em cima da bancada. Trabalhando juntos, eu coloquei o copo no lugar e ela girou o botão da água gelada. Menos de cinco minutos de relacionamento e já éramos um daqueles casais super sincronizados.

— Eu não vou fugir. Pode me soltar — ela implicou, me sorrindo de lado.

— Você precisa de duas mãos pra segurar o copo? — Soltei um falso suspiro. — Musculação também vai ser bom pra você, mariola.

Ela me ignorou e encostou a borda de vidro na boca. Eu nunca achei que era possível sentir ciúme de um copo, mas desci naquele nível. Enquanto ela bebia a água, coloquei o dedo na testa suada e afastei os cabelos dela para trás, jogando por cima do ombro. Encostei o nariz naquele pedacinho de pele que podia ser pescoço ou podia ser ombro e respirei fundo.

Melhor cheiro do mundo!

Eu tentei me lembrar se sonho tinha cheiro ou se caía no mesmo caso da dor, mas desisti. Não importava se era sonho. Eu só precisava não acordar nunca mais.

— Eu ia te ligar hoje — eu confessei baixinho.

Ela parou de beber água e me olhou.

— Me ligar. — Ela esfregou os lábios molhados um no outro. — Você não cogitou ir conversar comigo pessoalmente?

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