Capítulo 8

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♥ Mariana ♥

Quando os gaúchos perguntavam à Mariana do que ela mais sentia falta do Rio de Janeiro, muita gente ria da resposta dela: o calor. Mas era verdade. Ela se atrapalhava toda usando cachecol, luva e touca de frio. E aqueles dois minutinhos entre sair do banho quente e quebrar o recorde mundial de se secar e vestir a roupa? Doía só de pensar.

Não. Ela tinha ido morar fora, mas o espírito carioca ainda morava nela. Gostoso era vestir um short, uma camiseta, um chinelo e ir a qualquer lugar sem se achar malvestida. Ou não se preocupar em usar uma tonelada de maquiagem que só ia derreter no calor. Sentar do lado de fora e sentir o cheirinho de terra molhada depois de uma tarde chuvosa que tinha baixado a temperatura de 40º para 41,5º.

Aquele último, era exatamente o motivo da Mariana e o Lourenço estarem esnobando o ar-condicionado da casa, sentados perto da piscina aproveitando o início da noite, o irmão trocando mensagens com um amigo, planejando uma surpresa para a Biatriz. Outra surpresa.

A Mariana aproveitou a distração dele e estudou o perfil concentrado no celular. Ele estava feliz, e estava ficando óbvio que não era só por causa da Alícia que ele estava se desdobrando em inventar aquele monte de passeios. A pergunta da Alexa, se havia alguma faísca entre o Lourenço e a Biatriz, começou a fazer sentido. Normalmente, a Mariana era ótima em pegar aquelas coisas no ar e ela estava tentando se convencer que sua distração para o clima entre o irmão e a ex-namorada, era culpa da preocupação maior com a situação dele com a filha, mas até enganar a si própria tinha limites.

O que estava consumindo toda sua atenção era o homem de cabelos e barba castanhos escuros, olhos atentos que tentavam disfarçar que a seguiam por todo lado e dono de um beijo capaz de virar seu mundo de cabeça para baixo. Seu corpo formigou com a lembrança do gosto dele. Não foi surpresa, nem inesperado, que eles tivessem se agarrado daquele jeito. A tensão entre eles estava alta demais e cada vez mais difícil de ser ignorada.

Mas ignorá-la, eles estavam tentando. Ela se sentia como uma bola amarrada por um elástico nas mãos do Fred. Ele a jogava para longe e o elástico se esticava e esticava e esticava até alcançar a distância máxima e voltar com velocidade triplicada, se chocando nele com violência. Só para ser jogada longe de novo, logo em seguida.

A tarde tinha sido outro período de afastamento, ela e o Fred mal trocando duas palavras. O que queria dizer que estava na hora de outro choque. Até quando os dois iam conseguir ficar naquela brincadeira sem alguém se machucar? No caso, ela. Considerando seu histórico de relacionamentos, era evidente o que ia acontecer, o elástico ia arrebentar e ela iria voar em queda livre e se esborrachar no chão, enquanto ele se descartava do resto de elástico na mão dele sem pensar duas vezes.

Era o que ela se repetia sempre que o remorso por ter interrompido aquele momento roubado ameaçava perturbar seus pensamentos. Será que uma transa de momento valia atrapalhar o que Lourenço veio fazer no Rio? E se era verdade a teoria da Alexa, que dez anos não tinham mudado os sentimentos dele pela Biatriz, não era muito mais importante que o irmão tivesse todas as chances de reconquistar a mulher que ele tinha esperado por tanto tempo? Por mais que o beijo do Fred fizesse promessas quase que irrecusáveis, a chance de não dar certo e obrigar o Lourenço e a Biatriz a tomarem partido dos seus respectivos irmãos, não era um risco que ela queria correr.

— Às vezes também passa pela sua cabeça, voltar a morar no Rio?

A sua pergunta pegou o Lourenço no meio da digitação de uma mensagem, e ele virou cabeça para ela com os olhos arregalados, pousando o celular com a tela virada para baixo sobre a coxa.

— Como é que você faz isso? — Ele balançou a cabeça, incrédulo. — Bruxaria?

— Não tem muito tempo, uma pessoa chamou o meu instinto de mágico. — Ela sorriu, lembrando do Fred. Não que fosse preciso muito para lembrar dele. O homem não saia da sua cabeça. E aquilo que ela chamava de instinto, no fundo, era só sua atenção para detalhes que ela captava sem nem ao menos notar, e se somavam e lhe dava uma percepção melhor das situações acontecendo a sua volta. Pena que ele não parecia funcionar com a mesma eficiência quando se tratava de homens. Ela insistiu na pergunta. — Mas então, você pensa em voltar pro Rio?

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