Agridoce

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Podia sentir uma fina gota de suor escorrer pela têmpora e descer até o queixo, Kamado Tanjirou também sentiu suas mãos suarem e engoliu em seco. O ruivo só tinha certeza de uma coisa: Estava ferrado. O que ele faria para mostrar para seu professor que não era o que parecia? Seria algo extremamente complicado, visto que o pegou no flagra com seu colega de clube. Poxa, Muichirou, você escolheu justo essa hora para se declarar. Aliás, o Kamado havia acabado de lidar com a declaração de Kocho Kanao e agora mais outra... Seus dias de calmaria estavam acabados.

Por outro lado, Tomioka Giyuu parecia estar pleno ao lado dos outros alunos; com sua superioridade inabalável e um olhar sombrio que fez Tanjirou ficar ainda mais preocupado com sua situação deprimente. Tomioka respirou fundo, puxando todo o ar para os pulmões e o soltando cansadamente, também levou as mãos a cabeça, procurando lidar da melhor forma com a situação constrangedora... e triste para si.

— A sala de aula não é lugar para isso, Kamado-san, Tokito-san. — Disse friamente, com um olhar de desdém.

Alguns alunos riram da desgraça alheia, contudo, assim que os orbes azuis escuros foram direcionados para eles, se calaram no mesmo instante por tamanho medo.

Assim que o "Kamado-san" foi pronunciando, o ruivo sabia que não estava apenas ferrado, estava completamente fudidamente ferrado. Sentiu tanta vergonha, que o rubro em sua face era perceptível a todos naquela pequena sala. Olhou para baixo, não aguentando encarar Tomioka enquanto ele estivesse o fuzilando com aquele olhar julgador. Muichirou também estava constrangido, mas em um nível menor que o outro ao seu lado, e com sua observação apurada, percebeu que o clima estava pesado entre o seu veterano e o professor de literatura.

— D-d-desculpa, Tomioka-sensei! Não irá se repetir. — Tanjirou respondeu, claramente nervoso, se sentindo um grande azarado. O coração estava a mil em seu peito.

— Desculpa, sensei. — Muichirou disse, calmamente.

— Muito bem. — Respondeu friamente. — E vocês vão ficar aí parados ou estão esperando serem convidados a se sentarem para, enfim, darmos início a aula?

Os outros alunos ficaram envergonhados e assustados com a raiva do professor. Calados, eles sentaram-se olhando para os dois e a vermelhidão presente em suas faces. No decorrer da aula, vez ou outra os cochilos e burburinhos começavam, eles sequer eram discretos, pois falavam tudo olhando diretamente para Tanjirou e Muichirou.

Giyuu não estava satisfeito, estava longe de ficar. Se fosse qualquer outro aluno, não ligaria tanto. Mas se tratava de Tanjirou... e gostava muito dele. Foi uma péssima surpresa encontrá-lo aos beijos com, justamente, o aluno que uma vez sentiu que havia algo entre eles. Mesmo sendo professor e, exceto pelo seu relacionamento com um aluno, buscava ser o mais correto e profissional possível; no entanto, naquele momento, não conseguiu evitar de fuzilar Tokito com o olhar.

Muichirou percebeu, claro que ele notou aquele olhar mortal direcionado para si. Só não encontrou nenhuma resposta lógica para que o professor olhasse para ele de forma tão fria e desdenhosa. Afinal, foi só um beijo! Eles eram dois adolescentes, não era estranho ou absurdo fazer essas coisas. Será que era um homofóbico? Só podia ser isso. Isso ou ele ficou com raiva de Tokito ter beijado seu aluno preferido. Porque sim! Para todos estava mais que claro seu favoritismo com o ruivo.

O Kamado estava transtornado, buscando na mente formas de falar com Tomioka e esclarecer tudo evitando uma briga. Algumas vezes encontrou coragem para olhar rapidamente para Giyuu quando ele estava na frente explicando o trabalho que os alunos deveriam fazer, mas não conseguia ficar muito tempo o encarando enquanto o professor ainda estivesse carregando aquele olhar frio ao olhá-lo todas as vezes.

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