Paixão Imprevista

Eu sei que somos complicados

Após o final do clube de literatura, lá estavam os dois, sentados sozinhos no banquinho de madeira rodeado de belos e formosos lírios amarelos desabrochando. Mesmo que o clima de primavera fosse propício a romances, mesmo com a fragrância inebriantemente cheirosa dos lírios, para Tanjirou, era angustiante a sensação ruim de dejavu. Ele sentiu um grande aperto no peito por se ver, outra vez, na mesma situação de semanas atrás. O Kamado nunca pensou que em tão pouco tempo estaria rejeitando outra pessoa, já foi tão difícil com Kanao.

Os olhos carmesim evitavam fitar o menor diretamente, ele se sentia extremamente constrangido, não tinha coragem alguma! Olhar os próprios pés era bem mais fácil, mais cômodo. Já Tokito, estava inexpressivo, esperando pacientemente a resposta do mais velho nervoso ao seu lado, contudo, o coração batia rápido, afinal, gostava de verdade do ruivo.

— Desculpa, Muichirou-san. — Pediu suplicante, fechando os olhos fortemente. — Eu queria muito dizer sim, mas... eu estou apaixonado por outra pessoa. Desculpa mesmo, eu devia ter deixado isso claro.

Em meio ao nervosismo, tirou do fundo do âmago uma fagulha de coragem para encarar Tokito, que olhava para o horizonte, com a cabeça tombada para o lado, como um filhotinho de cachorro fofo. Se não fosse pelo leve rubor nas bochechas pálidas, o avermelhado poderia afirmar que a rejeição não significava nada para o menor.

Tokito suspirou pesadamente, encarando o mais velho em seguida com olhos cansados, como se fosse uma pessoa idosa que havia passado por muitas dificuldades na vida, e uma linha de sorriso constrangido e tímido se formou nos finos lábios. Muichirou podia não aparentar por fora, mas estava profundamente triste, pois, para ele, o jeito acolhedor, gentil e a calmaria do Kamado lembrava-o de uma pessoa que amou muito, seu falecido irmão gêmeo Tokito Yuichiro, mas que se foi há muito tempo, deixando o coração quebrado em dor, tristeza e saudade.

— Tudo bem, Tanjirou-senpai. — Falou com uma voz calma e compreensiva. — Eu entendo, eu escolhi o momento errado. Desculpa.

— Não precisa se desculpar... — Respondeu sem jeito, tocando o mais novo nos ombros. — Eu que tenho que me desculpar, não percebi seus sentimentos.

— Tudo bem. — Disse tocando a mão do outro com carinho e a retirando de seus ombros. — Nos vemos amanhã? — Ele sorriu, tentando aparentar que estava bem e que o ruivo não precisava se preocupar. No entanto, estava destruído por dentro, mas Tanjirou não notou que embora o sorriso fosse bonito, os olhos dele deixavam transparecer a tristeza.

— Claro! — Disse animado. — Eu te acompanho até a entrada.

— Não precisa, eu tenho que passar na biblioteca para devolver um livro que peguei emprestado. — Mentiu sem jeito, com aquele mesmo sorriso no rosto.

Passou pela cabeça do Kamado que o outro estivesse o evitando e que seria melhor deixá-lo sozinho com seus pensamentos, para colocar para fora o que estava contendo internamente. Desajeitado, Tanjirou ficou envergonhado, se despediu rapidamente e foi encontrar sua irmã e Makomo para irem embora.

O garoto encarou o nada por alguns minutos, ainda sentado naquele pequeno banquinho de madeira, processando a informação. Apesar de sua pouca idade, apenas dezesseis anos, Tokito era muito maduro, afinal, ele teve que lidar com a perda de duas pessoas importantes ainda muito novo: seu irmão e pai. Por isso, conseguia compreender as coisas muito bem e não se deixava levar pelas emoções ou impulsos momentâneos.

Mas tudo tinha um limite, pois ainda era um adolescente experimentando novos amores e nunca tinha sido rejeitado — até porque nunca se interessou por alguém o suficiente para se declarar. E, com pensamentos negativos de insuficiência, sentiu que seus olhos estavam começando a ficar marejados.