Juramento

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O estúdio de tatuagem Inksoul era provavelmente o lugar mais maneiro que eu já tinha entrado em toda a minha vida.

A primeira coisa que eu percebi foi o cheiro: uma mistura do odor estéril do álcool e do aroma inebriante do café. Embora parecesse uma mistura estranha, combinava perfeitamente com o ambiente.

As paredes escuras estavam cobertas por quadros com letras de rocks famosos, capas de vinis e fotos de pessoas exibindo suas tatuagens e piercings como se as paredes fossem um imenso mural do Pinterest. Eu poderia passar dias olhando para cada parede, compreendendo toda a miscelânea que se encontrava à minha frente.

Parei diante de um quadro particularmente interessante: embora não tivesse rosto, a foto mostrava Bryan sentado com um braço pousado sobre a mesa diante dele e uma mão fechada em punho tocando sua boca, dando uma boa visão de todas as suas várias tatuagens.

Claro que novamente o meu olhar foi atraído para o desenho de rosas. Talvez elas não tivessem o mesmo significado que tinha para mim, mas rosas azuis eram as minhas flores favoritas do mundo todo e ele sabia disso.

Estendi a mão para o vidro da fotografia como se para acariciar aquele desenho.

— Desculpe, estamos fechados — a voz de Bryan veio de trás, me fazendo pular como se tivesse sido pega fazendo algo errado. Pelo pouco espaço atrás dele eu vi uma cadeira acolchoada preta e uma bancada de desenho, no entanto ele logo fechou a porta e cravou o olhar irritado em mim. — O que você quer?

Recuei um passo com as bochechas em chamas e infantilmente senti vontade de chorar. Eu não entendia a cabeça dele. Tínhamos conversado mais ou menos bem de manhãzinha, agora ele me tratava como se eu fosse pior que um cão sarnento.

Bryan soltou um palavrão baixinho e passou os dedos pelos cabelos castanhos, exasperado, os olhos verdes se fecharam por um segundo e suas sobrancelhas se franziram.

— Viemos pedir dinheiro para o trote — esclareci indicando Hannah que estava encolhida perto de uma pilastra de madeira aparente como se quisesse desaparecer. — E eu achei que talvez a Tati estivesse aqui...?

Bryan mastigou o lábio inferior e soltou o ar. Seus olhos verdes correram pelo ambiente como se ele procurasse uma rota de fuga, mas, como não encontrou nenhuma, pousaram em mim.

— Ela teve alguma emergência da faculdade — explicou. Bryan virou o pulso para olhar seu relógio preto. — Falando nisso, vocês não deveriam para a UFSB fazer o juramento?

— Que juramento? — perguntei ao mesmo tempo em que Hannah. A voz baixinha da menina estava esganiçada e meio que ecoou no ambiente, me fazendo dar uma risada.

A expressão grave de Bryan suavizou, fazendo o meu coração desembestar dentro do peito, mas fiquei incomodada que para Hannah ele era todos sorriso e gentileza.

— A melhor parte do trote — disse com um tom conspiratório na direção dela, com um sorriso divertido tão lindo brincando nos lábios que fez meu coração parar.

— Engraçado, o Johnny disse isso e tudo que eu consegui foi ficar encharcada e minha camiseta branca ficar transparente — respondi erguendo os braços para que ele pudesse ver a bagunça em que eu me encontrava.

A expressão dele se fechou na hora.

— O Johnny realmente deve ter ido com a sua cara para te deixar usar a camiseta dele — observou franzindo as sobrancelhas castanhas e cruzando os braços tatuados diante do peito. Se eu não conhecesse Bryan, diria que ele estava com ciúmes. Esse pensamento colocou um sorriso idiota nos meus lábios.

— Ele disse que se não fizesse isso ia apanhar da Tati — respondi dando de ombros.

Bryan abriu um sorriso. O primeiro sorriso sóbrio que ele me deu e meu estômago deu uma pirueta diante do quão mais jovem ele parecia sem estar fazendo careta e o quão incrivelmente lindo ele era.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora