O segredo de Barbie

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Assim que cheguei na sala de Cálculo I,  encontrei Artur sentado em uma cadeira próxima com um lápis entre os lábios. Embora o clima de maio não estivesse frio, só bastante chuvoso, ele vestia a jaqueta que usou no meu primeiro dia de aula, com uma engrenagem e o busto da deusa Minerva.

Ele sorriu quando eu ocupei o meu lugar e se inclinou na minha direção despreocupadamente.

— Yasmin — chamou com a voz baixa. — Se importa de conversar comigo em um lugar mais reservado?

Neguei com a cabeça e deixei a mochila guardando o meu lugar na primeira fileira.

Andamos lado a lado pelos corredores apinhados de alunos até um lugar mais tranquilo, onde várias árvores davam sombra.

Ele me levou para a árvore mais afastada, longe dos olhos curiosos.

— Sinto muito por ter te dado o bolo ontem — pedi antes de qualquer coisa. — Apareceu uma emergência...

Ele assentiu e os olhos negros faiscaram 

Recuei até estar com as costas contra árvore. O tronco úmido me deixou gelada, mas não acho que o tremor que percorreu minha pele tinha a ver com o frio.

— Uma emergência com o Bryan, né? — seu tom de voz estava duro e gelado como aço e me arrepiou inteira de um jeito nada bom.

— C-como você sabe disso? — gaguejei.

Artur deu uma risada baixa e magoada, baixando os olhos para o meu tênis.

— Porque era para ele estar no lugar que eu ia te levar, e como nenhum de vocês dois foi... — Ele deixou o resto da frase em suspenso, mas não precisava ser Einstein para entender a conclusão lógica.

— Foi uma emergência — repeti me sentindo uma idiota. — Ele é meu amigo desde sempre, eu não podia deixá-lo sozinho.

Artur assentiu e sua expressão suavizou.

— É por isso que eu gosto de você, Yasmin — sussurrou. — Você tem um coração incrível.

Pisquei, confusa com a mudança repentina no seu tom e ele abriu um sorriso de arrasar quarteirão, absurdamente lindo. Infelizmente meu coração sequer registrou isso.

— Enfim — continuou — que tal remarcarmos nosso encontro? Terça que vem é o seu dia de folga, né?

Assenti, mas mordi o lábio inferior.

— Artur, escuta — pedi com as mmaõs em seus ombros. — Você é um cara incrível, sério! Mas acontece que eu estou meio que interessada em outra pessoa agora e não quero continuar te enrolando.

Por um segundo jurei que a sua expressão se fechou, mas logo ela estava amistosa como antes.

— Entendo, mas ainda podemos ser amigos, né?

— Claro — concordei.

Artur assentiu e se inclinou para me beijar. Virei o rosto de modo que ele só pudesse alcançar a bochecha e o veterano deu risada.

Suspirei fazendo o caminho para a minha sala, mas fui impedida por Barbie. Estranhamente, ela não refletia o seu bom humor normal. A minha amiga estava seríssima por trás das suas roupas fofas.

— O que foi? — eu quis saber erguendo uma sobrancelha na sua direção.

— Eu não gosto de ver você com ele — sussurrou indicando as costas de Artur.

Ele foi parado por um rapaz alto e forte com cabelos louros e curtos que se inclinou para falar algo perto de seu ouvido.

Artur se virou e abriu um sorriso na nossa direção, fazendo a veterana tremer. Me lembrei do outro dia, no bar, que ela teve a mesma reação ao passar pela mesa dele. O segredo que Bryan, Barbie e Johnny pareciam compartilhar.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora