Festa

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Parecia que um furacão tinha passado pelo meu quarto, cobrindo cada superfície disponível com o conteúdo da minha cômoda.

Não que tivesse muitas superfícies disponíveis no ambiente minúsculo.

— Eu não acredito que você vai usar jeans e camiseta, garota! — Tati reclamava enquanto eu terminava de aplicar rímel. — É uma boate, pelo amor de Deus!

Olhei para ela por cima do pequeno espelho que eu segurava, arqueando uma sobrancelha.

— É só uma festa, Tati — respondi checando para ver se os dois cílios estavam certos. — Só quero me divertir um pouco.

Minha amiga suspirou e se deixou cair na minha cama de um jeito digno de novela mexicana, tomando cuidado para não amassar os cachos perfeitos.

— Oh, minha deusa — ela disse em voz baixa como se fosse uma prece. — A minha amiga é uma completa negação.

Eu ri e joguei uma das camisetas descartadas na direção dela, que a outra pegou antes que atingisse o seu rosto bem maquiado. Ela parecia estar pronta para o Oscar, não para uma baladinha universitária.

Tati estava absurdamente bonita usando um vestido bem curto de veludo negro, meias arrastão e um par de botas de salto alto e fino. O piercing de septo prateado parecia reluzir em contraste com todos os tons escuros que a minha amiga usava.

Dei uma última checada no delineado gatinho e ele ainda estava no lugar que deveria, bem delicado, destacando meus olhos azuis.

Eu estava pronta.

— Vem, vamos logo — chamei dando um tapinha na coxa grossa da minha amiga que se levantou em um pulo. — Não quero passar três dias na fila para entrar.

— Ah, mas passar três dias na fila é a parte mais legal — brincou colocando o braço ao redor dos meus ombros.

Fiz uma careta quando fechei a porta do quarto e me deparei com a bagunça generalizada ali dentro. Eu teria que arrumar tudo quando voltasse para casa... Ou talvez no dia seguinte.

Passamos pela minúscula sala e logo alcançamos o corredor do prédio.

Não pude me impedir de olhar a porta do apartamento de frente, mas as luzes estavam apagadas, o que provavelmente significava que não havia ninguém ali.

Soltei um suspiro meio frustrado. Eu queria ver Bryan e conversar com ele para colocar tudo em pratos limpos, mas, desde o dia que nos esbarramos, eu nunca mais o vi. Era como se ele fosse um fantasma.

— Eles já estão lá — disse com suavidade, seguindo o meu olhar. — Uma amiga do Bryan é a dj dessa noite.

— Ah — foi a minha brilhante resposta. Eu não deveria ter me sentido daquele jeito, mas uma partezinha do meu coração murchou com aquela cinformação simples.

Descemos as escadarias em silêncio e entramos no carro branco da minha amiga.

Conforme atravessávamos bairro estudantil, fui conhecendo um pouco mais da cidade onde moraria pelos próximos anos. Ele era amplo e boêmio, com muitos barzinhos e restaurantes de culinárias diversas, como japonesa, árabe e chilena. Eu já queria experimentar todas elas.

Tati nos dirigiu para a tal boate Weeknd — como o cantor — e mesmo a distância já dava para ouvir a música eletrônica tocando, nos saudando.

Minha amiga parou o carro em um estacionamento da bela construção negra.

O estabelecimento era praticamente a única coisa interessante naquela região mais afastada da cidade. Provavelmente o dono tinha feito isso para evitar levar multa por perturbação do sossego noturno já que a música estava bem alta.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora