Pesadelos e sonhos

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O frio da noite de inverno chicoteou a minha pele quando alcancei a rua da minha casa.

Mesmo não tendo controle das minhas ações, eu sabia que aquilo era um sonho. Não, um pesadelo que se repetia muitas vezes nos últimos oito anos.

Ainda assim, como em um roteiro, passei os dedos pelos braços para tentar me aquecer, mas a minha camisola não era grossa o suficiente para me proteger do vento forte que sacudia violentamente as árvores ao redor, enregelando os meus ossos.

Não havia lua ou estrelas na noite escura e eu estava sozinha. Total e completamente sozinha. Meu coração estava acelerado e todos os pelos dos meus braços eriçados enquanto eu explorava as ruas que ao mesmo tempo me eram conhecidas e estranhas.

Uma sensação ruim retorceu o meu estômago e eu senti a ânsia de vomitar a cada passo que eu dava nas ruas vazias e fantasmagóricas.

— Você está sozinha, garotinha — aquela voz odiosa cantarolou tão perto que estremeci e girei no mesmo lugar, tentando descobrir de onde tinha vindo.

Engoli em seco tentando engolir o nó que obstruía a minha garganta enquanto meu coração batia tal qual um pandeiro dentro do meu peito, ameaçando fugir.

Respirei fundo pela boca como se aquilo pudesse me acalmar.

— Bryan! — gritei e minha voz ecoou pela rua deserta como se eu fosse o último ser vivo no planeta.

O meu melhor amigo no mundo inteiro não respondeu e senti minha garganta fechando com a vontade de chorar. Eu não queria ficar sozinha, em especial com ele rondando. Eu precisava de Bryan, precisava me sentir segura.

Corri para a bela casa dos Bastos com o coração aos saltos e o estômago embrulhado.

Jonas estava sentado na sala, um lápis entre os dentes enquanto ele desenhava com outro em seu caderno de rascunhos apoiado em uma prancheta. O noticiário passava na televisão, mas não tinha som algum.

— Onde você está garotinha? — a voz odiosa chamou outra vez e dei um gritinho agudo. Ele estava perto. Muito perto. — Você pode correr, mas não pode se esconder.

Gemi e senti meus lábios tremerem. Ele estava se aproximando, eu sabia. Eu sentia.

Bryan! Eu precisava de Bryan.

Corri para o quarto dele.

O quarto de Bryan era um dos meus lugares favoritos do mundo inteiro: em cada superfície havia pelo menos uma dúzia de desenhos e ele sempre tinha cheiro de tinta e sabonete. Mas o meu amigo não estava ali também.

Passos pesados de botina ecoaram pelo corredor e senti as lágrimas empoçarem nos meus olhos. Eu não queria pensar no que aconteceria se ele me pegasse. Não podia deixar ele me pegar.

Subi na cama perfeitamente arrumada e me icei para a janela alta. Eu a pulei e rolei pelo gramado que dividiámos com a casa dos Bastos. O cheiro reconfortante da grama não foi muito reconfortante quando a figura alta apareceu recortada contra a janela do quarto de Bryan.

Trôpega, me coloquei sobre os meus pés e corri para a minha própria casa.

Onde estava Bryan?

O som de passos pesados se tornou mais alto e parou do lado de fora da minha porta.

Completamente perdida, corri e me escondi dentro do pequeno armário marrom, mordendo o nó do indicador como se assim pudesse me impedir de gritar.

A risada rouca e lunática ecoou do lado de fora da porta e ela se escancarou  violentamente, batendo contra a parede.

Ali estava ele. Cabelos prateados sujos cobrindo os olhos azuis, o odor pungente de álcool e alguma coisa mais química misturada em seu bafo e as roupas sujas.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora