O armazém

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Apertei o passo na direção do armazém abandonado, sentindo como se meu coração fosse sair pela boca a cada passo dado. O sol forte da tarde de céu limpo e os passarinhos cantando nas árvores destoavam completamente da forma como eu me sentia por dentro: fria, cinza e oca.

Estava acontecendo. A chantagem estava prestes a acabar. Em vez de me sentir animada e aliviada, eu imaginava vinte e cinco formas de tudo dar errado.

Qualquer som, por menor que fosse, me fazia pular. A sombra de uma árvore agitada pela brisa fez meu coração parar por um segundo, imaginando que fosse ele ou algum dos seus capangas. Mas eu estava sozinha ali.

Continuei caminhando pelo bairro tomado por armazéns e por um segundo imaginei que estava indo para o lugar onde Bryan tinha lutado dias antes, quando tudo desandou.

No entando meu temor era infundado, ppercebi quando atingi a entrada do seu covil.

Este armazém era menor, mais antigo e tinha madeira cobrindo algumas janelas quebradas, como se o dono tivesse desistido de arrumar.

Cada pelo do meu corpo se arrepiou com aquela visão.

Encarei a porta pesada onde um cadeado tão grande quanto o meu punho fechado estava enroscado, dando a impressão de fechado a qualquer um que visse de longe. Exatamente como o homem que se dizia meu pai dissera que estaria.

Pressionei os lábios firmemente e abri a porta, dando de cara com o ambiente aberto parcialmente às escuras, com a única luz vindo através do espaço entre os tapumes de madeira nas gigantescas janelas altas. Apesar do vento lá fora, o armazém parecia completamente silencios, como se estivesse à margem do mundo.

Apertei meu celular com força na mão, desejando poder ligar para Bryan, ouvir sua voz me dizendo que tudo ficaria bem.

Fechei os olhos e me lembrei da nossa conversa que parecia ter acontecido horas antes.

**

Bryan tinha escutado a história toda sem emitir um único som. Tudo o que ele fez foi apertar meus dedos com tanta intensidade que cheguei a perder a sensibilidade e manter os impressionante olhos verdes fixos no meu rosto, mal piscando enquanto eu narrava sobre o encontro com o meu pai, a chantagem e a vergonha que eu senti ao me dar conta que Bryan estava se associando a ele pelo mesmo motivo que eu.

— Quando te mandei embora não foi porque estava brava com você — contei baixinho tocando a tatuagem de rosas azuis no braço dele, desenhando o padrão do desenho. — Estava furiosa comigo por ter duvidado de você.

Bryan engoliu em seco.

— Ah, Mimi... — ele sussurrou passando os braços musculosos ao meu redor, me envolvendo em um casulo de proteção e escondi o rosto contra seu peito.

— Mas isso não é tudo — continuei.

Bryan me afastou para poder olhar meu rosto. Sua expressão estava fechada e as sobrancelhas baixas, demonstrando toda a sua confusão.

— O que pode ter mais que um filho da p... — ele mordeu o lábio inferior. — Que um pai chantageando a própria filha?

— Eu vou encontrar ele hoje para entregar o dinheiro — sussurrei desviando o olhar para a televisão desligada sem ter coragem de olhar nos seus olhos.

Eu senti quando Bryan congelou no sofá. Sua coluna ficou mais ereta e as mãos tremeram ao meu redor.

Ele ficou um minuto inteiro em completo silêncio.

Bryan colocou o indicador sob meu queixo, me obrigando a olhar dentro das lindas íris verdes.

Você enlouqueceu? — criticou sério como eu jamais vira.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora