Epílogo

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O sol brilhava forte contra o céu sem nuvens e meu vestido preto se agitou levemente com uma brisa quente.

O cemitério municipal estava praticamente vazio naquele dia estranhamente quente de inverno. As pessoas queriam aproveitar o clima bom para viajar para cachoeiras, tomar sol na piscina, acampar e fazer todo tipo de coisa que se faz quando o clima está perfeito.

Mas não eu.

Caminhei sem pressa pelas "ruas" de túmulos, parando vez ou outra para observar uma foto ou inscrição que chamava a atenção. O lugar que eu queria ir era relativamente recente e bem cuidado, sob um par de árvores frondosas que se agitavam sob a leve brisa.

Avistei o túmulo que queria e toquei as inscrições contra a placa simples.

Depositei as flores sobre o túmulo com as mãos frias.

Mãos quentes  apertaram os meus dedos e soltei o ar, sentindo um nó na garganta.

— Oi, Jonas — sussurrei para a pedra, olhando a foto um pouco desgastada pelo sol do homem mais velho que era a cara do filho. Mesmo com a imagem manchada e desbotada, seus olhos pareciam incrivelmente verdes para mim.

— Oi, pai — B murmurou, também se agachando para tocar a lápide. — Tudo bem? Com a gente está tudo ótimo. Apareceu um coração para o tio Jota e ele fez o transplante.

Bryan ficou em silêncio por alguns segundos.

— Eu e a Mimi vamos para a Inglaterra em fevereiro — contou baixinho. — Londres e Liverpool. Fui chamado para um estágio. Você estava certo o tempo todo. A gente realmente voltou a se encontrar e as coisas estão indo exatamente como deveriam ir.

Entrelacei nossos dedos e Bryan os olhou com carinho antes de depositar um beijo suave neles.

B engoliu em seco, passando os dedos pela pedra.

— Sinto muito por tudo o que eu fiz com você nos anos antes da sua morte, sei que não fui o filho que você merecia e você era muito mais que eu merecia — Bryan tocou a lápide com a mão livre. — Obrigado por nunca desistir de mim.

Uma brisa suave agitou as folhas ao nosso redor e o meu cabelo. Pude jurar que foi como as vezes em que Jonas passava os dedos pelos meus cabelos e sorria.

Apoiei a cabeça no ombro de B.

— Acho que ele está feliz — sussurrei com o nó na garganta tornando quase impossível respirar.

Bryan assentiu.

— Eu também, estou, Mimi — confessou pegando o meu rosto nas mãos antes de me beijar com força. Ele afastou a boca um pouco da minha. — Muito — sussurrou perto o suficiente para o seu hálito fazer cócegas no meu rosto.

Beijei sua testa.

— Amo você.

B disse "eu te amo" e me puxou para um abraço apertado, mas ele silvou e me afastou.

Apoiei a mão no seu peito com delicadeza. Depois que saímos do armazém, ele foi levado às pressas para o hospital, onde passou por cirurgia para retirar o projétil. O médico disse que ele teve muita sorte.

Bryan discordou.

— Desfigurou a minha tatuagem — lamentou olhando para o peito enquanto a enfermeira trocava as bandagens. — Acho que vou ter que fazer outra para cobrir.

Balancei a cabeça.

— Você poderia ter morrido, cabeça de minhoca — resmunguei chorosa e Bryan estendeu a mão para pegar a minha, tomando cuidado com a agulha do intravenoso na sua veia. — A tatuagem o seu tio pode cobrir.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora