Bebidas e risadas

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Depois que os balões de água acabaram, os veteranos nos convidaram para um barzinho das redondezas.

— Foi legal, vai! — Johnny brincou comigo com um braço jogado sobre meus ombros. Hannah estava do outro lado dele, meio encolhida diante da personalidade amigável e muito expansiva do nosso veterano. — Vocês nunca vão esquecer o dia de hoje.

Dei risada e empurrei o braço dele de brincadeira quando chegamos no barzinho sujo e meio sombrio do outro lado da rua da faculdade.

O ambiente era meio escuro apesar das lâmpadas e janelas, com várias mesas de sinuca em um canto e mesas e cadeiras de plástico no outro. Uma linha invisível parecia dividir o salão em dois.  Algumas pessoas se amontoavam diante do balcão longo onde dois atententes se viraravam para entregar bebidas e trocos.

Não foram muitos calouros que aceitaram ficar para a confraternização, então mesmo o lugar sendo pequeno não ficou superlotado, só lotado mesmo. O som de risadas e conversas quase sobrepunha a música sertaneja tocando meio chiada. Apesar dos ventiladores em pontos estratégicos, eu estava suando enqaunto procurava lugares vagos.

— Nunca vou esquecer mesmo — respondi puxando a cadeira de plástico duro de uma marca de cerveja para poder sentar em um canto mais afastado da multidão que se aglomerava perto das mesas de sinuca. — Minhas roupas estão encharcadas!

— E meu óculos todo embaçado — Hannah concordou fielmente do meu lado. Johnny riu e se inclinou sobre a mesa amarela para bagunçar o cabelo dela, o que a fez ficar ainda mais corada.

Era meio engraçado ver a forma como suas roupas largas contrastavam com as demais calouras ao nosso redor. Ela destoava bastante do ambiente.

— Não fica assim, calourinha — ele brincou e seus dentes brancos reluziram contra a pele escura. — Vamos beber até você esquecer que está brava.

— Eu não bebo — dissemos juntas e demos risada olhando uma para a cara da outra. Era inacreditável  o fato de eu ter encontrado uma amiga tão parecida logo no primeiro dia de aula.

Talvez fosse um bom presságio de que, finalmente, eu teria um pouco de paz na minha vida.

— Vou te contar um segredo — Johnny disse se inclinando na nossa direção com um ar conspirador. — Todo mundo começa a faculdade dizendo isso, mas sai maconheiro, bêbado ou drogado. Ninguém passa cinco anos no inferno e sai ileso.

— Credo — Hannah disse, fazendo o sinal da cruz e estremecendo ao mesmo tempo em que eu ria. Me lembrei da garota da loja dizendo que o trote era a melhor parte da faculdade e ri.

Cruzei os braços atrás da cabeça com um sorriso ainda perdurando nos meus lábios.

— Acho que vamos entrar para a minoria da estatística — garanti dando de ombros e Hannah assentiu enfaticamente ao meu lado, ajeitando os óculos.

Johnny revirou os olhos e se levantou antes de dar um tapinha na minha testa.

— Guaraná ou Coca? — perguntou olhando de uma para a outra.

Hannah e eu dissemos "guaraná" e ele foi no balcão buscar, sendo parado  muitas vezes para conversar muitas vezes pelo caminho.

A cadeira que ele deixou vaga logo foi ocupada por Artur.

Ele estava sorrindo, mas baixou os olhos escuros para as mãos cruzadas sobre a mesa quando ergui uma sobrancelha em sua direção. Não tínhamos nos falado o fim de semana inteiro, desde o dia da balada em que eu saí depois de ele ter tentado me forçar a beijá-lo. Estremeci só de lembrar daquela noite, mas também dos desdobramentos com Bryan. Suspirei me lembrando da forma  como nossos corpos se encaixaram perfeitamente.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora