Medo

7.7K 1K 1.3K
                                        

Finalmente! — a voz de Gabriela, uma das outras garçonetes, se fez ouvir quando Artur e seus amigos deixaram o bar e a porta foi trancada.

Artur tinha insistido em me dar uma carona, mas, vendo o estado completamente embriagado dele, me lembrei do que aconteceu na boate Weeknd e recusei alegando eu precisaria ficar para organizar o bar antes de ir embora o que não era nenhuma mentira.

A Toca do Índio era um bar jovem e descolado com uma área para as pessoas dançarem, um balcão e uma cozinha. No andar superior tinha vários jogos, como um mini fliperama. Era o tipo de lugar que eu adoraria ir para me divertir, mas infelizmente eu só passava a noite toda andando de um lado para o outro com bandejas e ouvindo piadinhas idiotas de universitários que se achavam os maiorais.

A menina um pouco mais nova que eu amarrou os cabelos azuis em um nó no topo da cabeça e se sentou na cadeira mais próxima esfregando a nuca.

A noite tinha sido completamente insana com duas brigas idiotas irrompendo quando as pessoas começaram a ficar loucas demais e bem uns dois litros de cerveja foram derramada no chão. Ver o relógio marcar uma da manhã e Rick enxotar os retardatários foi a melhor coisa que aconteceu.

Minha vontade era de me jogar em uma das cadeiras e dormir ali mesmo, mas Rick, o dono do bar, me cutucou e levantei grunhindo, assim como Gabriela.

Organizamos rapidamente o espaço, deixando tudo o mais arrumado possível para a equipe de limpeza que viria pela manhã e me despedi dos meus colegas de trabalho.

Empurrei a porta de metal e o vento gelado açoitou os meus cabelos, me fazendo tremer a despeito do casaco que eu estava usando, enregeladno até os ossos.

Continuei andando pelas ruas em direção ao apartamento, olhando para os lados vez ou outra, mas tudo estava tranquilo como sempre.

Até que notei uma sombra andando atrás de mim.

Apertei o passo na direção do prédio que de repente parecia em outra cidade, embora não passasse de duas quadras de distância.

Me abracei com ainda mais força, dando olhadelas furtivas por cima do ombro. A sombra que me seguia de cabeça baixa estava se aproximando. Com as mãos suadas, fechei  casaco ao redor do corpo e acelerei ainda mais. Se eu aumentasse o passo mais um pouco estaria correndo.

Distraída como estava, não percebi que havia um obstáculo no meu caminho até trombar com um peito rijo. Um par de mãos me segurou pelos ombros, me afastando dele. Não precisei erguer a cabeça para reconhecer aquele cheiro ou a forma como meu coração bateu forte dentro do peito.

Bryan.

Achei que pudesse chorar com o alívio que me inundou por encontrar seu rosto conhecido, o cheiro do seu sabonete e perfume. Agarrei o tecido macio do seu moletom com meus dedos gelados e duros de medo.

— Ei — ele disse me afastando, usando o tom seco com o qual já estava acostumada. — Você não olha pra onde anda?

Engoli em seco e a expressão furiosa dele retrocedeu simediatamente. Seu olhar me percorreu de cima a baixo e meu mais antigo amigo pareceu perceber que tinha alguma coisa errada. Não deveria ser difícil de notar, considerando que eu estava tremendo igual um pinscher no inverno.

— O que foi? — ele quis saber e sua voz baixa soava absurdamente furiosa.

Dei uma olhada para trás, mas não havia ninguém ali e soltei o ar. Estava um pouquinho só mais calma, mas ainda assim não larguei suas roupas.

— Tinha alguém me seguindo — contei em voz baixa, tremendo. A expressão dele escureceu como se encoberta por nuvens de tempestade e ele olhou por cima da minha cabeça, procurando alguém. — Eu achei que fosse morrer de verdade, Bryan.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora