Coragem

7.8K 1K 1.6K
                                    

Depois que Barbie contou a história dela, minha veterana secou o rosto e abriu um sorriso corajoso na minha direção. Ela esfregou a manga da blusa de lã cor de rosa sob os olhos e abanou as mãos para secar os cílios molhados de lágrimas.

— Desculpa — pediu baixinho tentando bravamente parecer aquela menina feliz e descontraída de sempre, mas sua voz tremeu. — Sei que é um assunto pesado, mas... — ela se cortou como se não soubesse  o que fazer e olhou para as unhas como se elas pudessem lhe indicar alguma direção.

Vendo que as unhas não lhe dariam nenhuma resposta, ela ergueu os olhos para o céu carregado de nuvens acima da nossa cabeça.

Dei um beijo na bochecha dela e acaricie os fios grossos e dourados.

— Ei — chamei baixinho alcançando a sua mão e colocando-as nas minhas. — Obrigada por ter pensando em mim, por ter confiado em mim. Eu sei como é difícil se abrir sobre essas coisas.

Barbie assentiu e desviou o olhar. Sua expressão mudou imediatamente. Os olhos adquiriram um brilho diferente e os lábios se curvaram em um sorriso fácil como se ela tivesse esquecido o que a estava afligindo instantes antes.

Ergui o olhar e encontrei Hannah usando um casaco preto e acolchoado que parecia engolí-la. Os cabelos castanhos estavam soltos escondendo seu rosto.

— Ei — Barbie cumprimentou e abriu os braços delgados para abraçar a minha amiga. O abraço durou um pouco a mais que o normal e a mão delicada de Barbie desceu para a cintura de Hannah.

— Tudo bem por aqui? — a outra questionou desconfiada ajeitando o óculos com o indicador quando Barbie a soltou.

— Claro — respondi com um sorriso e vi pelo canto do olho que Barbie assentiu enfaticamente. Com um pouc de ênfase até demais. — A Barbie estava me contando a história de um livro que ela leu no fim de semana.

— Ah — a expressão desconfiada de Hannah suavizou, mas ela ainda nos olhava de um jeito esquisito e quase dei risada do seu ciúme mal-disfarçado. — E ele era tão ruim que ela começou a chorar?

— Horrível — a veterana confirmou. Seus olhos brilharam ainda mais e ela bateu palminhas, voltando a ser completamente ela mesma. Um sorriso torto curvou seus lábios pintados de cor-de-rosa. — Tão ruim que o único jeito de eu me recuperar é furando alguém. Alguma voluntária?

— Claro — ouvi a minha voz dizendo.

Barbie abriu um sorriso tão grande que achei que seu rosto pudesse se partir ao meio.

— Eba!— comemorou me puxando para um abraço apertado e seu perfume doce inundou o meu nariz.

Ela olhou para Hannah.

— Você vai com a gente, né? — perguntou baixinho em um tom tão íntimo que precisei desviar o olhar.

Hannah assentiu enfaticamente, parecendo ter perdido completamente a habilidade de fala. Quase dei risada, mas poupei a minha amiga dessa humilhação.

O alarme soou pelo campus informando que era o horário das aulas começarem.

Barbie se despediu de nós com um beijo na bochecha de cada e foi saltitando para a sua sala.

As aulas passaram voando e logo foi a hora de irmos para o estúdio furar o meu primeiro piercing.

Barbie estava que não se cabia dentro de si, algaraviando sobre hélix, septo, concha e mais um milhão de coisas que com certeza faziam sentido para ela enquanto Hannah e eu praticamente olhamos para a cara uma da otra com a mesma interrogação pairando sobre as nossas cabeças, mas a veterana estava tão animada que nem parecia se dar conta disso.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora