Prólogo - Fobos não sabe

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Acordou. É o primeiro dia de sua vida adulta. Oficialmente.

É o dia em que ele se tornará um homem e fará sexo. Isso o angustia tanto quanto o excita, ainda assim, terá que cumprir seu papel.

Será o primeiro ato do tipo em mais de cem anos, o que representa uma grande responsabilidade, embora ele saiba também que, de fato, a incumbência seja mais de seu corpo que de sua vontade.

Toma seu desjejum e limpa os dentes. O quarto branco é quase transparente em toda a sua alva placidez, mas aquilo não lhe representa paz.

Deixa tudo como está... Alguma Eva-Ama fará sua limpeza e arrumação.

A porta se abre, uma Eva aguarda a postos, pronta para levá-lo a seu destino, não sem antes, passar no salão da Eva Mãe.

Todo o ambiente está preparado para recebê-lo, não consegue esconder seu constrangimento e consternação, assim, empertiga-se o quanto pode e adentra o grande salão branco.

Diante do comando de Eva Mãe — um abrupto e resoluto "Ajoelhem-se" — todo o séquito de Evas se flexiona sobre seus joelhos, abaixando submissas, suas cabeças cobertas com suas pequenas, compridas e intrincadas tranças. Nesse momento, consegue ver somente um exército de mãos e crânios negros sobre um fundo branco, resplandecente, que aquele salão, como todos os outros salões do palácio da Mãe, exibe em suas paredes, teto e mobília.

A mãe, ergue a face e fixamente foca dentro de seus olhos. Subitamente, sente seu rosto corar, interrompido pela suave, porém, rígida pergunta:

— Está pronto?

Ele responde, com um suspiro de voz:

— Sim...

Ao que a mãe retruca:

— Está ciente de todo o esforço envolvido por nossas Evas, na construção deste momento?

— Sim. Estou...

— Estás preparado para o ritual?

— Estou.

— Que assim seja... Levem meu filho a seu POD... Levem-no a seu destino.

Em silêncio, três Evas se apresentam e solenemente se postam a seu lado. Inicia seu caminhar lento e resoluto em direção a saída do grande salão.

Viram à esquerda, seguem por um grande e amplo corredor branco, sem janelas, apenas com suas luminárias brancas que quase o cegam diante de tanta alvidez.

Enquanto anda, pensa sobre sua missão naquele momento. Não tem nenhum lampejo do que represente o ato sexual, apenas sabe que envolve seu membro, afinal, é a única coisa que o separa de todos. Ninguém... nenhuma Eva possui um membro e só há Evas no mundo.

Ele se sente diferente, especial, mas, ao mesmo tempo... Falta-lhe algo. Alguém que compartilhe consigo as mesmas características que vão além do fato de possuir um falo, incluem também, a leve penugem em seu rosto, a voz mais grave, o peito reto...

Antes que possa se perder mais em seus pensamentos, se dá conta que chegou.

A porta de metal não é branca, é prateada. Assim que se posiciona à sua frente, a mesma se abre, em um lento e silencioso soerguimento, deslizando para cima e, gradativamente, permitindo um vislumbre da sala que se revela.

O quarto da Mãe é um local sagrado, jamais estivera ali e até onde sabia ninguém havia desfrutado daquele privilégio, exceto algumas poucas Evas da guarda da Lua.

O espaço não é muito grande, não muito maior que seu quarto, mas comporta adequadamente, ao centro, uma cápsula também não muito diferente de seu próprio POD.

A Torre de Selene (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora