Família

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O domingo está lindo! O dia está perfeito. Está com Julius à beira da piscina, enquanto a carne está no forno.

Pensa no quanto será feliz, quando o projeto finalmente chegar ao fim. Quando finalmente poderá se casar e ter filhos.

O casal de amigos, é uma fonte inspiração. Marta e Peter estão prestes a ter seu primeiro filho. Então o assunto do dia, como não poderia deixar de ser, são os preparativos para a chegada do pequeno Eduardo.

— Quantos pacotes de fralda vocês conseguiram no chá de bebê? — pergunta Julius a Peter.

— Ah! Creio que uns cinquenta pacotes... — responde Peter, tentando calcular com base no tamanho da pilha de embalagens.

— Que ótimo! Durante um bom tempo essa será a medida oficial de conversão de dinheiro, tudo que precisar comprar será convertido para a unidade "pacote de fraldas".

Peter, concorda com uma risada autêntica e, abre mais duas garrafas de cerveja. Entrega uma para Julius e propõe um brinde.

— Por mais cerveja e menos fraldas.

Todos riem e erguem as long necks, brindando.

Larissa toma um gole e pensa que esse seria um excelente momento para congelar no tempo. Toda essa expectativa enorme... ser madrinha do pequeno Eduardo, seu casamento marcado para o próximo ano, a conclusão da sua pesquisa, com o bônus de não precisar trabalhar nunca mais, se assim desejar. Tudo isso é muito perfeito, muito inacreditável.

Serve o almoço, enquanto todos se reúnem em torno da mesa externa, à beira da piscina. Todos ainda em trajes de banho, se divertindo e prontos para saciar a fome. Se ajeitam em torno da mesa branca, embaixo de um pergolado com colunas dóricas, o padrão da decoração de toda a casa, servem-se enquanto conversam animadamente.

Enquanto almoçam, o monitor exibe o telejornal, ninguém dá muita atenção, afinal estão em um almoço muito agradável. Larissa, no entanto, se vê prestando atenção em uma notícia, que relata uma curiosa estatística sobre gravidez. Do outro lado do mundo, uma cidade está a seis meses, sem nenhum registro de gravidez. Nenhuma mulher consegue engravidar...

Uma moça oriental aparece, enquanto as legendas exibem a entrevista. A moça explica que vêm tentando engravidar há cinco meses, sem sucesso e que, assim como ela, várias amigas vêm lutando com o mesmo objetivo.

Como geneticista, Larissa não consegue deixar de prestar atenção... É interrompida pelo noivo, que ressalta o fato de Larissa estar sendo deselegante com os convidados.

Larissa se volta para casal de amigos e, com um sorriso, se desculpa pela falta de tato. Jamais pensaria em cometer uma indelicadeza com Marta e Peter, são amigos a muitos anos, sempre se apoiando mutuamente. Quase como irmãos...

(...)

— Amor, venha logo — Julius a chama para o quarto.

— Já estou terminando aqui! — grita Larissa enquanto retira as últimas louças da lavadora e as coloca no armário.

O dia está quente, mas muito agradável. Marta, possivelmente, por causa da gravidez, pede para tirar um cochilo com o marido depois do almoço. Larissa e Julius decidem que, é uma ótima ideia acompanhar as visitas, e assim, seguem para o quarto, para umas boas horas de sono.

O quarto está muito mais confortável, com o ar condicionado e a cortina, deixando o ambiente somente com uma meia luz. Se deita com o futuro marido, pensando na notícia sobre a moça com dificuldades de engravidar e conclui que, sem dúvida, seria um bom objeto de pesquisa a se pensar, depois de concluir seu trabalho atual. Seria uma boa maneira de recompensar o mal que ela sente estar fazendo para o mundo. Criar condições para que mulheres com dificuldade de engravidar, realizem seus sonhos... Dormiu calmamente com essa confortável ideia na cabeça.

(...)

Acorda suavemente, não sente o noivo a seu lado. Pensa que, deve ter dormido demais, lá fora já está quase escuro.

Levanta devagar, boceja e se põe de pé. Escuta um barulho vindo da sala, certamente o noivo está preparando algum petisco, algo para tapear a fome naquele fim de tarde.

Desce as escadas e, com a audição mais acurada, percebe que aquilo não é um som de alguém cozinhando. Imediatamente desperta.

Abaixa-se, para que seu corpo não apareça totalmente no vão da escada e, vê seu noivo recebendo alegremente uma dose de sexo oral de Marta.

— O que é isso? — ela grita.

No mesmo momento, Julius puxa as calças e Marta, exibe em seu olhar, uma expressão de profunda e autêntica vergonha.

— Calma, amor, posso explicar.

Larissa sobe correndo para o quarto. Imediatamente, começa a se vestir, ao que Julius irrompe no cômodo.

— Amor, não faça isso!

Não diz nada. Estaria chorando, se não estivesse tão incrédula do que acabara de ver. Não sente raiva, apenas uma profunda e amarga dose de decepção.

— Não diga nada. Estou indo embora. — Larissa afirma calmamente.

— Não faça isso, foi um momento de fraqueza.

— Claro... Só me diga uma coisa. Aquela criança que Marta carrega é sua?

Julius engole seco. Deixa claro, em sua expressão, que está pensando o que poderia dizer... é o suficiente para Larissa confirmar sua suspeita. Não de que a criança seja dele, mas do tempo em que vem sendo infiel.

Peter entra no quarto com cara de sono. Marta está na porta, mas não entra.

— O que houve? — ele pergunta, em meio a um bocejo.

— Nada... é só uma questão nossa. Larissa está chateada por algo que fiz, mas chegaremos a um consenso, não é, meu amor?

Larissa calça os sapatos, recolhe sua bolsa, puxa uma pequena caixa de madeira de dentro do armário e sai. Não diz nada para Peter, não por crer que Marta não mereça, mas seguindo sua lógica de que isso não é, e de fato não é, problema dela. Seu assunto, já está resolvido.

— Espera, amor! Eu preciso me explicar. — Julius segue-a até a garagem, implorando.

Larissa entra no carro e dá a partida no motor. Julius se põe à frente do veículo.

— Só saio depois que você me der uma chance de me explicar.

Larrisa arranca com o carro e, por pouco, não atropela Julius que se joga no chão.

Para ao lado do noivo caído. Abre o vidro e conclui calmamente:

— Você não entendeu. Nós nunca mais nos falaremos. Você nunca mais irá me ver.

Fecha o vidro e dá o comando para o computador de bordo.

— Laboratório. Agora!

O carro sai pela rua, pega velocidade. Julius para no meio da via e observa o carro sumir.

A Torre de Selene (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora