Viagem

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Depois de três dias, queria muito sair de cima daquele cavalo branco. As calças apertando sua genitália e aquele roçar frenético na sela... tudo que sonhara para sua primeira cavalgada, agora, é um infindável pesadelo.

Pergunta a uma Eva, quanto tempo falta para chegar. A Eva aponta para o quinto final do mapa, indicando que há mais meio-dia de viagem.

As outras cinco Evas, como batedoras, cercam seu cavalo. Andam em formação, impedindo que algo possa acontecer a Fobos. Na verdade, nada aconteceu durante toda a viagem. Os cavalos seguem em um trote lento, desde o início. Apesar das inúmeras novidades que foram apresentadas a Fobos (árvores, aves, animais), a viagem foi bastante entediante.

Agora, Fobos percebe que há algo diferente no chão. Uma espécie de pedra cinza e lisa, por onde os cavalos marcham agora. Diferentemente da trilha de terra batida, que até então foi o piso predominante, essa pedra é muito diferente e muito mais desconfortável para sua já maltratada virilha.

Pergunta a uma Eva o que é aquilo... A Eva responde que é uma estrada dos antigos, que eles pavimentaram os caminhos com essa matéria e que, em todo o canto em que eles viviam, esse era o piso padrão para seus palafréns e carruagens.

Fobos fica muito curioso. Carruagem? O que seria uma carruagem?

A Eva diz que em breve, ele poderá ver uma. Uma não... várias carruagens, mas que, todavia, não funcionam mais.

Não demora até que realmente apareça um exemplar. Ao lado da estrada cinza-chumbo há uma... ele não tem ideia de como aquilo poderia funcionar... uma grande lata quadrada, quase toda coberta pela vegetação, indicando que estava por ali há muitas luas. Ainda assim, é possível ver sua cor em alguns pontos onde a ferrugem não havia corroído sua carapaça de metal que é muito linda, lembrando a tonalidade que vira na cápsula, onde, ele sabe, frustrou todas as expectativas da Mãe-Eva, agora sua Rainha.

Abaixo do retângulo metálico pode perceber que há quatro rodas prateadas, todas com um invólucro preto por fora. Pergunta se poderiam parar por um momento, para que possa observar mais perto aquele fascinante objeto.

As Evas não ficam muito animadas com a ideia, mas assim que ele começa a pedir, e pedir, e pedir... finalmente cedem, com a condição que Fobos seja breve.

Toca nas partes de metal, nas rodas e percebe que as bordas negras são mais flexíveis, o que faz sentido para rolarem sobre aquele piso escuro. Vê que há uma grande placa transparente na frente e nas laterais, possivelmente para os embarcados poderem apreciar a vista no entorno e, por fim, à frente, na ponta de um longo espaço de metal, um círculo inserido por uma estrela.

— Vamos embora rapaz. Diz uma das Evas. Já saciou sua curiosidade.

Maravilhado com o que viu e ainda muito intrigado em como aquele enorme monstro de metal poderia se mover, apeia e retomam o caminho. Andam mais um pouco quando vê outra carruagem se desfazendo, e mais outra e mais outra. Entram em uma curva da estrada, bastante íngreme e fechada... Mais uma carruagem, essa última, enorme, com uma grande caçamba em sua traseira! Quando vira cabeça para perguntar o que é aquilo, todos os seus pensamentos congelam ante o que se apresenta à sua frente, logo após a curva.

Fobos não sabe sequer como perguntar o que é aquilo. Nunca imaginou, em toda a sua vida, que houvesse algo tão grandioso. Vendo sua expressão abobalhada, uma das Evas ri-se e responde, mesmo sem ele ter perguntado:

— Isso Pracista... era uma cidade. Uma cidade dos antigos.

A Torre de Selene (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora