Rainha

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Seguiu a Eva correndo, adentrando o salão da Eva Mãe, assim como todas as Evas, que lá já estavam ou, que para lá se dirigiam.

A mãe de todas, olha para Fobos de relance. Não precisa de mais que um centésimo para perceber que não cumprira sua função. Não expressa nada, nem decepção, nem tristeza, nada...

Em pouco tempo todas as Evas ocupam o grande salão materno, enquanto cada grupo, em suas respectivas formações, aguarda as instruções da mãe que serão proferidas em alguns segundos. Finalmente, a Mãe surge de trás do trono e inicia sua alocução.

— Evas! Vocês sabem que os alarmes não são acionados há muitos anos. Não há motivo para alarde. Estou aqui há muito tempo e sei que os Procrustes, há muito, deixaram de nos incomodar. Para este momento, determino que formem um grupo de seis Evas para uma missão exploratória, se dirijam ao ponto em que nosso sensor foi acionado na estação de Aglaia. Como é sabido, a estação é relativamente distante do Domo, portanto, será necessário organizar mantimentos e todos os suprimentos necessários. Evidentemente, esta missão será atribuída a Evas de defesa.

Prontamente as Evas de outros grupos, como as sacerdotisas, engenheiras, enfermeiras, amas e tantas outras, ficam aliviadas, porém, não expressam nada em seus semblantes. O convívio de Fobos, por suas seis mil novecentas e noventa luas com as Evas, lhe garantem a percepção destes detalhes, em suas pupilas e nos contornos de seus olhos, indicando o profundo alívio que aqueles semblantes negros expõem.

Como em todo pronunciamento da Mãe, não é necessário perguntar se todas as Evas compreenderam as instruções, subentende-se, que a compreensão coletiva é algo natural entre Evas.

Contudo, Fobos sente que é preciso falar. Enquanto as seis voluntárias se movem à frente para a complementação das instruções, ele irrompe:

— Também gostaria de ir!

A Mãe volta seu olhar incrédulo para Fobos.

— Quero ir! — Ele repete, mais firmemente.

O olhar de incredulidade, imediatamente se converte em reprovação ostensiva. A Mãe, volta a cabeça para o trono e de costas, diz:

— Você não pode ir, Fobos. É valioso demais para nós!

— Tenho que ir... Não posso mais aguentar.

— Aqui é o nosso mundo... Dentro deste palácio, com tudo que temos aqui, dentro da redoma.

— É por isso! Eu não aguento mais esse palácio, essa redoma, nada disso...

A mãe, para por um segundo. Precisa de Fobos e mais ainda, sabe que deve mantê-lo feliz, pelo menos por enquanto. Em silêncio, retoma o olhar ao menino e diretamente responde:

— Entendo... Determino que você poderá ir. No entanto, terá uma missão adicional.

Nesse momento, Fobos percebe e não acredita que conseguiu, menos ainda que, envergou a vontade da mãe tão facilmente e convenceu-a de deixá-lo sair.

— O que a Mãe ordenar.

— Traga-me uma relíquia. Não uma relíquia qualquer... Preciso de algo bastante específico que, há muito tempo, deixei para trás. Convenientemente, se localiza muito próximo do ponto em que nosso sensor foi acionado.

Que coisa estranha! — Fobos pensa — A Mãe tudo pode e tudo tem. O que ela não possui, pode facilmente solicitar a uma Eva e será atendida no limite máximo das possibilidades existentes, nada mais, nada menos que isso.

Por quê seria necessário que justamente ele realizasse essa missão específica? Ele se questiona, sem encontrar respostas. Ao que é interrompido de seus pensamentos.

— Aproxime-se.

Fobos chega mais perto. Perto o bastante para que a mãe sinta seu cheiro de derrota. Dirige-se para o lado direito da ogiva, onde há uma bancada branca. Desenha rapidamente, em ambas as faces, de um pergaminho de couro branco.

Entrega-lhe o manuscrito. Fobos move os olhos para baixo, vê que a mãe lhe entregou um desenho.

— Isso é um mapa — completa a Mãe — Vai indicar o caminho que vocês devem seguir, no quinto final da rota, há um desvio, culminando em uma localização que indiquei no desenho. Neste local, há uma construção e você deverá subir até o vigésimo terceiro pavimento. Da escada em diante, você deverá adentrar a quinta porta à direita. Neste local, procure uma caixa. Vire o pergaminho. — Ele o vira. — Essa marca identifica a urna a qual me refiro.

— E se... se a caixa não estiver lá?

— Estará! — Completa a mãe — Traga-a para mim. Nem tente abrí-la. Não preciso que você, ou alguma Eva, saiba do conteúdo da caixa. Você deve ir a este local sozinho, as Evas não deverão lhe acompanhar. Ficarão no chão, garantindo a segurança necessária à realização da extração. Entendido?

— Entendido Mãe.

— Não me chame de mãe. A partir de agora, me chame de minha Rainha — como as Evas o fazem.

— Entendido... Minha Rainha.

A Torre de Selene (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora