Três Filhas

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Seis meses. Larissa não sentia tanta aflição com a passagem do tempo desde a sua formatura.

Seu consultório é bastante simples! Quase improvisado. Afinal, aquilo não era um hospital, nem uma clínica... É de fato um local de pesquisa, um laboratório.

Assim como Larissa não era virologista, mas descobriu, não sem alguma dificuldade, que implantar embriões saudáveis em uma mulher infectada não causa a morte do embrião. Como Ana não possuía óvulos sadios, Larissa utilizou os seus próprios.

Sabia que ao permitir a entrada de Ana no domo, contaminaria a si mesma, assim como todas as Evas, por isso extraiu e armazenou algumas dezenas de seus próprios óvulos para utilizar em seus experimentos.

Eis a fonte de sua ansiedade: Nunca pensou em ter filhos. Acredita que não será uma boa mãe, porém, a proximidade do nascimento das crianças a afetou. Seus instintos maternos afloraram, agora não se aguenta de curiosidade de ver os pequenos.

Três óvulos vingaram. Três meninas! Olha para tela do ultra som os pequenos conjuntos em contraste e disse para Ana:

— Olhe, querida! Estão todas saudáveis. Parece uma ninhada de gatinhas!

— Dona Larissa... eu não consigo ver nada nesses borrões.

— Olha aqui, um coraçãozinho, uma mãozinha, uma pepequinha — Larissa sorri para Ana.

— Ah! Acredito que só vou conseguir ver mesmo quando elas saírem daí de dentro. — responde Ana, com um muxoxo.

(...)

Após a passagem de alguns meses, os bebês vieram ao mundo. Todos em um único parto natural. As três meninas foram saindo enfileiradas, como bagos de uma jaca madura. Ana recebeu cada uma delas em seus braços e reveza os seios entre as três, sempre com uma Eva segurando a próxima a mamar.

Quando ninguém mais esperava... Ana começa a reclamar de contrações, as Evas recolhem as meninas. Larissa observa o canal vaginal, de onde, inexplicavelmente, surge mais uma pequena cabeça.

Um menino! É um bebê feio e mirrado. Larissa pega-o no colo e leva a Ana. O bebê não consegue pegar o peito, se esgoelando, feito um filhote de sabiá. Larissa retoma-o em seu colo e, estranhamente, o pequeno para de chorar. Tateando com o rosto na altura dos seios de Larissa.

Não sabe o porquê, mas abre a túnica e coloca o peito para o menino. Milagrosamente o menino começa a sugar e do seio brota leite.

Larissa, com lágrimas nos olhos, diz, baixinho para Ana não ouvir:

— Meu pequeno medroso. Não se preocupe. Está tudo bem. Mamãe está aqui. — Qual o nome deste? — Larissa pergunta para Ana.

— Dona Larissa! Não pensei nisso... não sabia que viria um menino. As meninas... Aceitei a sugestão que a senhora deu: Cloto, Láquesis e Átropos, embora confesse que não entendi nada daquela história de Moiras...

— Se importaria se, eu sugerisse um nome para o pequeno rapaz, também? — pergunta Larissa, enquanto acalenta o bebê que vorazmente suga sua teta.

— Qual nome, Dona Larissa?

— Um dia ele causará medo em seus inimigos. O nome dele será Fobos.

A Torre de Selene (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora