Fobos está de pé, de frente para uma fileira de pessoas sentadas. Uma dúzia de anciãos, com suas túnicas de algodão cru e seus cabelos lisos e compridos, negros como penas de corvo. Todos com um olhar inquisitivo, mas, ao mesmo tempo, curioso em relação ao jovem magricela, alto, com um semblante perdido e confuso.
— Como se chama, jovem? — Amon rompe o silêncio.
Fobos move a cabeça de uma lado para outro procurando quem fez a pergunta, ele não enxerga, não consegue ver. Não que esteja completamente cego, a pancada em sua nuca afetou brutalmente sua visão. Agora, percebe apenas vultos em preto e branco. Como se uma maldição tornasse as imagens em sua mente similares ao que ele sempre viu durante toda a vida na torre da mãe, ou seja, preto e branco.
— Me chamo Fobos, senhor. — responde finalmente.
Os anciãos do conselho se entreolham.
— O que fazem aqui? O que buscam desse lado? — questiona um dos anciãos.
— Viemos por causa do alarme. — respondeu.
— O que mais? Por que passar pela cidade? O caminho da colina onde está o sensor não passa por ali... O que foram buscar na cidade?
— Uma caixa... de madeira... — responde Fobos confuso, buscando a pessoa que fez a pergunta.
Ísis se aproxima e se coloca à frente, entre Fobos e os conselheiros. Ergue as mãos que sustentam a pequena caixa.
Por um momento, todo o conselho olha para caixa sem saber o que pensar. Um dos conselheiros pede que Ísis se aproxime. Pega a caixa, analisa por todos os ângulos. Não parece exatamente com uma caixa, pois não há uma tampa, nem fechadura, nem nada, somente uma estranha insígnia em um dos lados. Excetuando o fato de algo estar solto e sacudindo lá dentro, pareceria mais com um bloco ordinário de madeira.
A caixa passa de mão em mão por todos os anciãos, todos repetem o mesmo processo de análise até que a caixa, finalmente, chega a Amon.
— O que há dentro desta caixa? — pergunta.
— Não tenho a menor ideia. — responde Fobos com sinceridade.
— Levem-no de volta. — Amon ordena
Dois homens grandes se aprumam ao lado de Fobos. Cada um segura em um braço, que se encontram amarrados pelos pulsos às costas de Fobos, levando o rapaz de volta para seu cativeiro.
O conselho permanece no salão. Na construção de pau a pique, a luz invade sorrateira pelas frestas entre os finos galos enfileirados. Amon se vira para o conselho e propõe mais algumas entrevistas. Considera necessário esclarecer alguns pontos com os jovens que partiram para uma caçada e retornaram com um rapaz da casa de Ammit.
A primeira a ser interrogada foi Ísis, que lhes contou exatamente o que aconteceu, desde o momento e que encontrou a porca com os filhotes, até encerrar com o ataque a Fobos. Depois de mais algumas perguntas sem importância, foi dispensada.
Toth entrou em seguida. Basicamente confirmou a história de Ísis e do mesmo modo sua irmã, Bastet, narraram os fatos quase que da mesma forma, exceto pela mudança repentina em seus planos, imposta por Hórus enquanto mantinham tocaia.
Explicaram que estavam próximos um do outro, observando as Evas enquanto elas executavam a manutenção do sensor, até que entraram no depósito para buscar sabe-se lá o quê. Quando as Evas retornaram, do nada, Hórus surgiu, vindo de trás e simplesmente disparou uma flecha certeira no olho de uma das Evas.
Imediatamente ele armou outra seta e, nesse ponto, tanto Bastet, quanto Toth, resolveram acompanhar o amigo e atiraram também.
— Então, basicamente foi uma chacina? Houve alguma reação?
— Não houve tempo para tal. — respondeu Bastet.
— Jamais saberão o que as atingiu. — completou Toth. — Estão todas enterradas do outro lado da colina.
— Muito bem! Tragam Hórus aqui. — Proclama Amon.
Hórus aparece na tapera, com seu sorriso de canto de boca, não se abala nem um pouco com os olhares dos velhos.
— Então o senhor resolveu atirar, não é? — Inquire Amon
— Sim. Atirei. — Hórus responde como se fosse nada
— Muito bem! Poderia nos explicar porque o senhor fez isso?
— Por que eu posso! — Afirma Hórus com arrogância.
— Desde quando? Que eu saiba essa decisão caberia somente ao conselho.
— Com todo o respeito, o conselho nada sabe sobre os fatos.
Os velhos entram em um frenesi histérico. Um falatório irrompe no salão. Hórus, calmamente, tenta tirar um fiapo de carne dos dentes chupando o ar. Nesse momento Amon irrompe em um grito:
— Silêncio!
Todos se calam. Um idoso pede a palavra e é atendido.
— Esse rapaz arrogante... Está dizendo que o conselho não merece respeito. Ele deve se juntar ao outro rapaz em nossa prisão.
Prisão não era exatamente uma palavra adequada para descrever onde Fobos está cativo. Era mais um chiqueiro, uma gaiola de galhos de madeira, apertada e completamente exposta às intempéries.
— Não disse que o conselho não merece respeito. Disse que o conselho nada sabe.
— Basta! — Amon interrompe. — Rapaz, demonstre um pouco de respeito por nós ou realmente será conduzido à prisão.
— Está bem. — Hórus para por uns segundos e retoma — Posso me explicar?
— Pode... — Amon concorda, incerto.
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A Torre de Selene (concluído)
Ciencia FicciónLarissa é uma pesquisadora biomédica feliz e realizada até que sua vida é completamente alterada por uma séria de eventos paralelos e aparentemente desconexos. Seu noivo a trai com sua amiga, sua empresa decide transferi-la para um lugar muito, muit...