Ísis vê as Evas caindo... mortas. Sente imediatamente um alívio, enquanto Hórus não contém seu riso de satisfação.
Assim que percebe Hórus sorrindo, Amon toca em seu ombro e pergunta se está bem. Ísis lembra da irmã que estava em sua retaguarda. Bastet sempre estava em sua retaguarda protegendo-a.
Os três se viram ao mesmo tempo e veem Bastet caída, com três flechas no peito.
Ísis corre em socorro à irmã. Se ajoelha a seu lado. Bastet segura sua mão.
— Seu orgulho um dia te levará para debaixo da terra, minha irmã! — Bastet, cita a si mesma, em um suspiro.
— Não, Bastet, não faça isso comigo... Vamos, levante-se! Vamos matar essas malditas Evas!
— Ísis... Eu não vou a lugar algum. Cuide de tudo na vila. Aqueles paspalhos precisam mais de você, que você deles. Nos encontraremos em outro lugar. Estarei te esperando junto ao nosso pai.
— Não, Bastet... Bastet... — Ísis soluça inconsolável.
Bastet fecha os olhos e se vai.
Hórus puxa Ísis pelos ombros.
— Ísis... não há mais nada que possamos fazer. Vamos! Precisamos ir se não quisermos ser os próximos... Vamos!
— Podem ir! Eu não vou deixá-la...
Amon se aproxima e se ajoelha ao lado de Ísis.
— Ísis... Somente Ramsés sabe o quanto te amo e o quanto amo Bastet. Você não vai morrer hoje. Perder Bastet já é um sofrimento pesado demais para mim.
— Não! Não posso deixá-la aqui... Vão embora você dois...
— Querida. A única coisa que você pode fazer pela sua irmã agora, é levar a morte àquelas desgraçadas. Você pode vir conosco e participar do banquete que ofereceremos à Ma'at ou permanecer aqui e morrer à toa.
Ísis olha para Amon, com ódio em seu semblante. Pega seu arco e proclama:
— Vamos matar Evas, vamos matar Ammit, vamos matar todas elas!
(...)
Os três correm em meio à vegetação, as folhas pululam a medida em que seus pés açoitam o solo, impulsionando seus corpos velozmente entre as árvores.
Pretendem chegar logo à vila. Não vão mais fugir. Vão enfrentar o que vier. Estão decididos a conquistar definitivamente seu espaço naquela península.
Após meia hora de corrida os três param esgotados.
— Tome Ísis, beba água, temos uma longa jornada ainda pela frente.
— Obrigada, Amon. Será que conseguiremos chegar ao acampamento antes de nosso povo partir?
— Creio que não, Ísis, mas quanto antes chegarmos, antes saberemos. Teremos menos a percorrer para alcançá-los.
— As Evas? Em que altura estarão?
— Não saberei dizer ao certo. Será difícil mover um acampamento daquele tamanho na mesma velocidade que nós três nos deslocamos.
— Elas devem ter enviado uma patrulha... Devem estar nos procurando na mata agora. — intervém Hórus.
— Sim. Não vão nos encontrar. Exceto Bastet... Possivelmente enterrarão sua irmã.
— ...Ou apenas jogarão o cadáver no rio — completa Hórus sem nenhum tato.
Ísis pensa na irmã agora morta. Sente novamente uma imensa vontade de chorar. Ela não chorará... não agora... somente quando todas as Evas do mundo estiverem mortas.
Será ainda um longo percurso e seria bom alcançarem o acampamento antes do amanhecer.
(...)
O Sol risca o horizonte com um tom de lilás, indicando que o dia vai clarear em alguns minutos.
Ísis está no topo da colina e observa a vila quieta. Todos devem estar dormindo ainda. Toth deve ter repassado a informação conforme Amon solicitou, porém, os anciãos com sua eterna preguiça e discussões inúteis, devem ter decidido por partir no dia seguinte.
Os três descem cuidadosamente a colina e se aproximam dos estábulos, os cavalos estão lá. Ísis segue em direção a uma das barracas e cuidadosamente abre uma fresta. Não vê ninguém. Olha para o lado e Amon, dá de ombros, como indicando que não há ninguém na cabana que ele olhou também.
A vila inteira está deserta eles concluem em pouco tempo. O alerta que eles enviaram foi levado a sério.
Apenas uma pessoa ainda está lá. Ísis percebe que um rapaz se debate em sua gaiola tateando em sua escuridão particular.
— Não me matem. Socorro! Sou Fobos... — grita em desespero.
— Não seja idiota, moleque. Ninguém vai te matar. — Ísis fala à porta da jaula.
— A Lua lhe enviou, Ísis, lhe abençoo... Eles... me deixaram aqui para morrer.
— Garoto... Ninguém aqui gosta de você. Não sem motivo... Sua... mãe, ela não ajuda para que gostem dela. Você receberá esse fardo para sempre, por sangue.
— Ísis... porque fala assim? Você sempre foi doce... o que aconteceu?
— Estou tentando ser civilizada com você, caliginoso. Não quero descontar minha raiva em você. — Ísis abre a jaula — Mas está difícil... Porque... Sua mãe... Fobos, sua mãe matou minha irmã!
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A Torre de Selene (concluído)
Ciencia FicciónLarissa é uma pesquisadora biomédica feliz e realizada até que sua vida é completamente alterada por uma séria de eventos paralelos e aparentemente desconexos. Seu noivo a trai com sua amiga, sua empresa decide transferi-la para um lugar muito, muit...