Perseguição

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— Eles estão indo para cidade. — Toth exclama assustado.

Ísis vira a cabeça sobre o ombro. Olha seriamente para Toth e conclui:

— Sabia disso antes da chuva começar. Não precisa me lembrar a todo momento dessa proibição idiota que o conselho nos impõe. Amon já nos fez esse favor, dando este mesmo alerta, antes de sairmos da vila.

O caminho seco atrapalha ainda mais o grupo. É mais difícil se manter invisível. Somente o vento, com um gosto de tempestade, abafa seus passos e suas vozes permitindo que possam observar mais de perto o grupo de Evas e seu estranho acompanhante, mas a chuva não vem. Se chovesse toda aquela perseguição seria mais fácil.

Ísis está muito intrigada. É sabido que Ammit só produz Evas. De onde teria surgido esse rapaz?

Não conseguem ouvir o que eles dizem, mas é possível perceber perfeitamente que o rapaz está totalmente à vontade com elas. Faz parte daquele grupo de batedores. Ele conversa pouco, contudo, sempre que fala recebe a atenção de todas.

Vocês viram como ele parou? Somente para admirar a carcaça de um carro enquanto as Evas, pacientemente, aguardaram em formação pelo rapaz que, alheio a tudo, demonstra seu deslumbre com o ferro-velho apodrecido à beira da estrada.

O que estariam procurando nas ruínas da cidade morta? Estariam indo em direção ao sensor? Por que não pegaram o caminho mais curto? Por que aquele rapaz estaria junto a elas?

Entram pela avenida principal da cidade. Bastet exprime sua preocupação, pois ali, com todo aquele espaço aberto, seria muito mais difícil de conseguir se manterem ocultos.

Decidem aumentar a distância enquanto continuam perseguindo o som dos cascos dos cavalos. Conseguem ver quando eles param em frente a um grande prédio, que outrora, fora um residencial. Vêem o jovem entrar. Ainda que a uma boa distância, contam com o vento, que sopra no sentido oposto, de forma que, nem os cavalos conseguem farejá-los.

Permanecem nessa posição, ocultos pela curva de uma esquina, a uns 600 metros de onde as Evas montam guarda. Hórus parece bastante impaciente e praguejando em voz baixa, demonstra todo seu ódio às Evas, que não imaginam a presença de nenhum deles ali.

Ísis está mais exposta, com a cabeça e parte dos ombros para fora da esquina. Sua curiosidade não permite que ela guarde maior distância como os outros, que estão mais afastados, a uns 10 metros da curva, em frente a uma parede de lojas vazias, escuras e tétricas.

Olha para o alto e vê o jovem. O rapaz admira a vista enquanto olha para baixo, em direção as Evas. Ísis, por um momento, pensa que ele vai gritar algo para as Evas, mas ele apenas olha para um lado da avenida, como se estivesse medindo a distância e de repente, torna o rosto exatamente para onde ela está. Ísis tem tempo apenas de se esconder de volta para dentro da esquina, com a nítida sensação de que foi descoberta.

Com o susto, sua respiração fica agitada e os outros imediatamente se aproximam para perguntar o que houve. Não diz nada, apenas gesticula para que façam silêncio.

Já faz bastante tempo que estão fora de casa. A vila já deve estar alarmada com o sumiço dos quatro. Pensa que se não retornarem logo, podem ter problemas sérios com Amon.

Do mesmo modo, sabe que agora deverá ir até o fim... Só poderá descansar quando souber o que esses malditos vieram fazer aqui e o porquê de não estarem em seu domo desgraçado.

Em pouco tempo, escuta a movimentação das Evas apeando as montarias e toma coragem para investigar novamente. Vê o rapaz saindo calmamente. Em suas mãos carrega uma caixa.

A Torre de Selene (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora