Fobos está completamente desorientado com o galope feroz, sem enxergar direito, sente o estômago revirar.
— Não dá para ir mais devagar? — pergunta com a boca salivando de enjoo.
— Cale-se, cegueta... — Hórus responde com desdém — Por mim, você ficaria naquela gaiola para morrer na escuridão em que habita, seu verme.
— Vamos chegar em breve, Fobos. Aguenta firme — responde Ísis com dó.
O sol está quente e os cavalos bufam com a corrida desabalada. Eles fazem uma pequena interrupção. Ísis deu a desculpa que seria para os cavalos beberem, enquanto de fato, era para Fobos vomitar. Ele vomita abundantemente.
— Este imundo anda comendo raízes demais. — Hórus faz troça
— Deixe ele em paz. — Amon encerra o assunto, secamente.
Fobos não sabe o que está acontecendo ao certo, mas entende que suas poucas chances de se safar, estão cada vez mais remotas. Pelo menos não verá o que o atingiu, pensa. Se arrepende amargamente de ter se oferecido para participar da missão, pois o pouco que viu, veio acompanhado da impossibilidade de ver qualquer outra coisa agora. Nem sua própria morte provavelmente verá.
Se lembra da mãe. Ela amava-o e ele a amava. Não entendia o que poderia haver de tão perigoso assim do lado de fora do domo. Agora entende perfeitamente que o mundo não é um lugar previsível e controlado, como na pequena planície abaixo da torre de Selene.
Daria tudo por uma tigela de mingau de aveia com verduras. Odiava as refeições das Evas. Sua mãe não permitia que comessem carne, portanto, disso não sentia falta. Uma vez o carcereiro lhe ofereceu um pedaço de porco. Ele provou e até apreciou o gosto, mas seu estômago não habituado a algo tão pesado assim, foi acometido de azias e uma inacreditável diarreia. Contudo, o mingau mais comezinho, agora seria um banquete inigualável.
Fobos conclui que conhece um pouco mais sobre o mundo, mas percebe que não gostou nada do que descobriu. Pessoas vivendo numa vila, comendo raízes e porcos. Fugindo e morrendo devido a perseguição de sua mãe, a qual se referem como um demônio. Preferia voltar a sua habitual ignorância.
Queria voltar para casa... para seu POD onde dormia confortavelmente. Queria falar com a mãe, para ela lhe dizer que o mundo exterior é um lugar perigoso e, assim, dormir e ter pesadelos com os Procrustes, que agora andavam a seu lado e, ainda assim, não saberia descrevê-los, afinal perdeu a visão justamente quando fez seu primeiro contato.
Hórus é em sua mente, exatamente o monstro que a mãe descrevia. Não havia nada naquele homem que Fobos quisesse conhecer. Um homem que é apenas ressentimento e raiva. Nunca fizera nada contra Hórus, no entanto, tinha certeza de que ele o odiava. Em sua cabeça Fobos formava a imagem de um rosto com os traços de um Falcão.
Algumas vezes Fobos avistara Falcões rondando o domo em busca de alguma ave menor que, desgraçadamente, se chocava com o campo de força invisível. Estava ali para pegá-las, as incautas aves, que por ignorância ou excesso de confiança, se atreviam a voar onde as outras criaturas aladas mais experimentadas, evitavam a todo custo.
Era assim que ele enxergava o comportamento de Hórus; um oportunista, saciando sua fome de violência nos mais fracos e incapacitados, como ele. Sabia que corria perigo permanente enquanto Hórus estivesse a seu lado.
Já Ísis, era o oposto... A justiça habitava sua personalidade. O que a move é o amor. Amor à vida, aos seus irmãos da vila. Ísis é a única boa lembrança que levará de volta, se algum dia conseguir retornar ao domo.
Gostaria que a mãe a conhecesse. Sabia que elas poderiam se dar bem e que Ísis poderia mostrar que nem todos aqui fora são maus, ou selvagens.
— Ei! Caliginoso. Vai ficar aí o dia todo? Quer que eu te carregue no colo — Hórus novamente irrompe com seu mau-humor.
— Sim... desculpe, vamos indo...
— Um dia vou arrancar o coração desse desgraçado — pensa Fobos — antes que ele tenha a oportunidade de arrancar o meu. Mas antes disso preciso chegar ao domo... Preciso chegar à minha mãe...
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A Torre de Selene (concluído)
Ficção CientíficaLarissa é uma pesquisadora biomédica feliz e realizada até que sua vida é completamente alterada por uma séria de eventos paralelos e aparentemente desconexos. Seu noivo a trai com sua amiga, sua empresa decide transferi-la para um lugar muito, muit...