Pai

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Uryuu conseguiu a autorização para sair alegando estar passando mal. Não foi necessário que passasse nem pela enfermaria para acreditarem, aquela seria uma das primeiras vezes que o garoto pedia algo assim e o colégio não perderia a chance de agrada-lo sem precisar perguntar por mais.

Era como o mundo era, o nome, o dinheiro era mais importante do que qualquer outra coisa. Era a melhor carta de apresentação sem dúvidas, mas as vezes as pessoas nem tinham ideia do que acontecia por detrás das paredes. Uryuu sempre conviveu nesse meio, sempre foi o que ele queria, sempre teve medo de tentar se próprio conhecer. Fora trancafiado a muito tempo por quem era obrigado a chamar de pai, mas por que reclamaria? Morou sempre nas maiores casas, sempre uma mesa disposta com o melhor, tinha Luísa.

Mas do que isso importava? Sentia-se enjoado olhando aquela mesa, sentia-se pequeno em uma casa vazia, sentia-se sozinho mesmo com Luísa.

Ichigo estava certo, ele estava prestes a explodir.

O caminho de volta a mansão foi rápido, o carro quase não fazia som algum. Uryuu agradeceu que Luísa já não estivesse na mansão, ela não tinha que o ver tão perturbado. Sentado em sua cama já havia percebido que não estava com sua bolsa, deveria ter ficado no terraço quando fugiu. Não sabia a que fim ela teria ficando ali junto de seu caderno de desenho, mas não pensava muito nisso. Pensava nele, isso sim era o que o estava deixando naquele pânico interior. Pensar no que Ichigo faria o deixava com medo.

Ele não contaria o que viu, certo? Afinal não ganharia nada com isso!

Uryuu puxou seu moletom para logo está observando aquelas múltiplas marcas que se negavam a sair de seus braços. Deixou-se cair sobre a cama cobrindo os olhos com o antebraço, os óculos na mão. Estava tudo acabado.

- Você acabou com tudo... – Não poderia mais ter qualquer aproximação com ele.

Por que Ichigo tinha feito aquilo, por que insistiu?

Não entendia.

De repente aquela cena pairou sobre si.

Aquilo foi um beijo, certo?

Claro que foi, o que estava pensando. Mas por quê? Por que Ichigo faria aquilo? Afinal foi só para mostra-lo que ele tinha uma vida com diversas opções... Isso não fazia sentido.

Virou-se na cama, sua mão indo aos lábios os alisando com o polegar sem nem perceber, os sentia formigar. Parou com os pensamentos quando ouviu o toque do celular, o puxou do bolso visualizando o nome do ruivo. Manteve-se assim apenas ouvindo o barulho da chamada e olhando a tela. Quando parou suspirou escondendo o aparelho em baixo do travesseiro.

Mais nenhuma aproximação.

...

Queria não estar tão nervoso desde que voltou do colégio, queria também ter coragem para ler as mensagens que recebeu com certeza de Ichigo já que não tinha mais ninguém que o enviasse mensagens. Porém como já sabia, não tinha. Precisava conversar com ele, tentar o convencer a esquecer o que viu, tirar aquelas ideias de sua cabeça. Mas realmente tinha medo de ceder a qualquer coisa que ele dissesse, tão abalado como estava ultimamente.

Aquela serie de pensamentos dificultava seus passos naquela escada em direção ao jantar. Apertou o corrimão. Deveria ter a decência de pelo menos fazer algo para acabar com aquilo e fazer o ruivo entender. Então, pegou seu celular digitando a mensagem e a enviando sem nem ter lido nada dele.

- Por que está parado no meio da escada Uryuu? – Ouviu a voz de Ryuken que o paralisou, se segurou para não esconder o celular depressa.

Ele tinha voltado de viagem.

Ponta Solta [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora