Tempo e Férias

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Entrou na mansão, o hall sempre era meio escuro por ser todo coberto e a necessidade de que ligasse todas as luzes não existia já que quase ninguém circulava ali. Então sempre tinha aquela aparência obscura e arcaica, assim como todo o resto dos cômodos.

Era uma das maiores áreas, perdendo apenas para a biblioteca vazia. No teto era bem acentuado o lustre de cristal grande demais e que não era ligado há anos; as duas escadas uma em cada lado das paredes opostas levava para o segundo andar onde ficava os vários quartos espalhado por grandes corredores.

Uma casa grande demais para uma ‘’família’’ de dois homens.

Usar o termo família era engraçado para Uryuu mesmo colocando entre aspas, era ironia demais. Dos trabalhadores que moravam ali ele conhecia por nome e rosto boa parte, mas não falava muito com eles e as conversas curtas aconteciam principalmente com os novatos na mansão.

Mas Ryuken não gostava de empregados novos, tanto é que Uryuu só teve consigo uma cozinheira, guarda-costas e governanta em toda sua vida. Bem, tinha até uma semana atrás.

Luísa no começo era sua babá e com o tempo, é claro, isso foi deixando de ser difícil para ela já que Uryuu estava crescido e era um menino consideravelmente quieto; então ela passou a ser governanta, assim continuando com eles, mas também não era como se ela não tivesse cuidado dele por todos esses anos.

Queria saber como ela estava, onde ela estava... Por que foi embora sem sequer procura-lo antes e dá algum número de telefone. Sentia vontade de se confortar em seu abraço, talvez assim toda aquela raiva sem sentido o deixasse.

Mas não a tinha mais, ela simplesmente foi embora, como seu pai deu a entender pareceu força-la a isso. Uryuu já estava bem chateado, mas agora voltando a pensar nisso seu ânimo foi para o esgoto de vez.

Parou de ficar feito estátua olhando a casa e atravessou o hall em direção a uma das escadas. Sua tarde seria em números, mas como que por atiçamento, ter seu caderno de volta o fez abri-lo já no quarto e o desejo de arrancar tanta frustração de dentro de si para joga-lo no papel o fazia querer muito desenhar.

Entretanto, jogou o caderno com força sobre a cama passando a andar pelo quarto. Mas andar não ajudava em nada, pensar não ajudava em nada, tentar controlar a respiração e aqueles sentimentos não mudava absolutamente nada.

Pegou as tintas guardadas e fez o que já não se permitia há tempos, pintar com elas em telas que ganhou a meses de Luísa. Precisava desesperadamente tirar aquilo de dentro de si antes que o enlouquecesse.

Ok. Sabia que estava agindo como criança emburrada, mas o que podia fazer? Não tinha ninguém para ouvi-lo ou para ajudá-lo a compreender o porquê de tanta raiva em seu peito e em seus braços, não conseguia guiar-se a uma paz onde toda aquela frustração sumisse.

Não sabia como parar de desejar ir até Ichigo e xingá-lo de todos os nomes possíveis como nunca fez antes com ninguém e nem sabia completamente o motivo!

Também nem percebia tudo que fazia e pensava, somente pintava e pintava.

Que merda estava havendo consigo?!

...

Mais dias vieram virando semanas. Aquele bimestre estava acabando e as férias bem próximas.

Ichigo realmente cumpriu suas palavras voltando a se sentar no fundão e se sentando com outra pessoa nas aulas de genética, o ignorando como antes de o conhecer, e Uryuu tão pouco fez algo, talvez por raiva ainda, ou talvez por sua consciência o dizer que talvez aquilo fosse o certo, de qualquer forma estava aborrecido com o Kurosaki e queria distância. Ocupou-se então em esperar aqueles dias acabarem e não precisar mais vê-lo, também se escreveu para o clube de artes.

Ponta Solta [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora